Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com
- Barril de petróleo volta a superar o ponto de pivô de US$ 40; XLE repica
- Gás natural despenca ao se aproximar da temporada de pico de demanda
- Segundo turno da eleição na Geórgia determinará maioria no Senado americano
- Política de energia dependerá da eleição especial de 5 de janeiro
- Expectativa de maior volatilidade no petróleo e gás futuro; vacina e menor produção podem provocar um rali em ações relacionadas à energia
À medida que os EUA se aproximam dos meses de inverno, os mercados futuros de energia tendem a enfrentar mudanças sazonais. Embora os preços do petróleo e de produtos derivados geralmente se enfraqueçam no quarto trimestre e na primeira parte do 1º tri de cada ano, o gás natural em geral se move na direção contrária. A demanda de gasolina, derivado mais consumido do petróleo, declina durante os meses de inverno, já que os motoristas andam menos com seus veículos. A necessidade de calefação sobe durante o período mais frio do ano, fazendo o gás natural atingir picos anuais durante os primeiros meses da estação de inverno.
Mas 2020 não é um ano típico nos mercados, e o setor de energia não é exceção. A notícia de uma vacina para o coronavírus elevou o otimismo de que existe uma luz no fim do túnel escuro da covid-19. Entretanto, o número de casos do coronavírus e hospitalizações disparou na Europa e nos Estados Unidos, fazendo com que as commodities de energia seguissem em direções opostas.
Enquanto isso, a eleição de 2020 nos EUA já está no espelho retrovisor do mercado. Entretanto, duas corridas para o senado na Geórgia em segundo turno determinarão os planos do presidente eleito Joseph Biden para os próximos anos. A partir de 20 de janeiro, Biden será um democrata na Casa Branca com uma pequena maioria na Câmara de Representantes. Mas a maioria no Senado dependerá dos resultados no segundo turno da Geórgia. Como os democratas apoiam a agenda verde que restringe a produção e o uso de combustíveis fósseis, o futuro cenário regulatório dependerá da capacidade da nova administração de aprovar essa legislação.
Os Estados Unidos são os maiores produtores mundiais de energia. Há décadas, o país buscava ter independência de fontes estrangeiras de energia. Uma abordagem ecológica da energia nos EUA pode impactar substancialmente os preços do óleo e do gás. Por isso, o caminho de menor resistência para os preços do petróleo e dos futuros do gás natural está nas mãos dos eleitores da Geórgia, que voltarão às urnas para eleger dois senadores em 5 de janeiro.
Barril de petróleo volta a superar o ponto de pivô de US$ 40; XLE repica
Nas últimas duas semanas, a Pfizer (NYSE:PFE); (SA:PFIZ34) e a Moderna (NASDAQ:MRNA) anunciaram que seus ensaios contra a covid-19 apresentaram taxas de eficiência de 90% e 95%, respectivamente. Na segunda-feira, a AstraZeneca (NASDAQ:AZN); (SA:A1ZN34) se juntou à luta mundial contra a pandemia divulgando os resultados da sua própria vacina.
Entre outros aspectos, essas notícias são positivas para o petróleo que afundou no início do ano por causa da evaporação da demanda provocada pelos bloqueios econômicos. No fim de abril, o preço do WTI atingiu o território negativo no mercado futuro da NYMEX, enquanto o Brent futuro registrou seu preço mais baixo deste século.
Em 20 de outubro, o contrato futuro do petróleo na NYMEX para janeiro atingiu a máxima de US$ 41,90 e depois caiu. A alta dos casos de Covid na Europa e nos EUA ameaçou causar outro declínio substancial no preço das commodities de energia, à medida que nos aproximamos dos meses de inverno, época tradicionalmente fraca do ano.
Fonte, todos os gráficos, exceto indicação em contrário: CQG
Como mostra o gráfico diário, os futuros para dezembro caíram de US$ 41,90 para US$ 33,64 em 2 de novembro. O petróleo atingiu seu menor nível desde o fim de maior na véspera da eleição nos EUA e depois virou para cima, formando um padrão altista de reversão no gráfico diário.
A notícia sobre o sucesso da vacina da Pfizer no dia 9 de novembro fez a cotação do barril de petróleo superar novamente o ponto de pivô de US$ 40 fazendo alcançar a máxima de US$ 43,06 por barril em 11 de novembro. Desde a mínima de 2 de novembro até a máxima de 11 de novembro, os futuros para dezembro subiram 28%. Nesse período, as ações relacionadas ao petróleo se saíram ainda melhor. O fundo Energy Select Sector SPDR® (NYSE:XLE) detém ações das principais empresas de energia.
Fonte: Barchart
Embora o petróleo estivesse a caminho da mínima de 2 de novembro, o XLE atingiu o fundo a US$ 26,98 em 20 de outubro, antes de registrar máxima a US$ 36,93 em 18 de novembro, como mostra acima, depois de a Moderna divulgar os resultados da sua vacina. O XLE vinha apresentando pior desempenho em relação aos mercados de petróleo e ações nos últimos dois anos e se valorizou mais de 36,8%.
O petróleo se recuperou e as ações do setor subiram bastante com a chegada dos meses de inverno, época relativamente fraca para os preços.
Gás natural despenca ao se aproximar da temporada de pico de demanda
Enquanto isso, o preço do gás natural geralmente sobe com a chegada dos meses de inverno. A temporada de pico de demanda geralmente vai de novembro a março, quando os requisitos de calefação sobem e os estoques caem.
O gás natural registrou a primeira queda de estoques durante a semana encerrada em 30 de novembro. Uma onda de frio provocou o declínio nos estoques. Entretanto, os estoques tiveram leve aumento nas semanas encerradas em 6 e 13 de novembro.
Durante o mês de novembro de 2019, o preço do gás natural atingiu a máxima sazonal de US$ 2,905 por MMBtu. O contrário futuro com vencimento mais próximo na NYMEX superou o nível de outubro, atingindo o pico US$ 3,396 por MMBtu em 30 de novembro, o preço mais alto desde janeiro de 2019. Na semana passada, o suporte foi rompido pela forte queda do mercado de gás natural.
Como mostra o gráfico, os futuros do gás natural para dezembro tocaram a mínima de US$ 2,525 na semana passada, um queda de 25,6% em relação à máxima. O petróleo disparou, e o gás natural caiu no momento do ano em que a sazonalidade ditaria um comportamento oposto dos preços. 2020 não é um ano comum.
Segundo turno da eleição na Geórgia determinará maioria no Senado americano
Após as eleições de 3 de novembro nos EUA, a maioria da Câmara continuou nas mãos dos democratas, que também assumiram a Casa Branca. Mas os resultados da eleição no Senado dependerão de dois segundos turnos na Geórgia para que sua maioria seja conhecida. Os resultados dos dois pleitos decidirão se os republicanos garantem uma pequena maioria ou se a vice-presidente eleita Kamala Harris garante os votos indecisos para mudar o poder para os democratas e tomar a liderança da maioria das mãos do senador Mitch McConnell para o senador Chuck Schumer. Para ganhar a maioria, ambos os candidatos democratas precisarão vencer suas corridas na Geórgia.
Entre outros aspectos, a maioria no Senado determinará a diferença entre uma clara vitória dos democratas ou um equilíbrio de poder a partir de 2021. No que se refere à agenda do presidente eleito Biden, o controle do seu partido de ambas as casas permitirá aprovar facilmente iniciativas legislativas. Além disso, a ala progressista dos democratas deseja inclinar as políticas para a esquerda, já que o novo presidente não precisaria negociar com os republicanos para atingir seus objetivos. Os eleitores na Geórgia decidirão se os próximos dois anos representarão uma onda de leis aprovadas ou um impasse até as eleições de meio de mandato de 2022.
Política de energia dependerá da eleição especial de 5 de janeiro
Como os republicanos favorecem a manutenção do status quo da independência energética, que inclui a exploração por fraturamento de óleo e gás, e os democratas preferem uma abordagem verde, o setor de energia depende da eleição na Geórgia em janeiro. Os moderados buscam uma substituição gradual dos combustíveis fósseis, enquanto alguns progressistas defendem seu banimento imediato.
Enquanto o governo Biden privilegiará uma política de regulação ambiental mais rígida com a maioria do senado nas mãos dos republicanos, o controle da casa pelos democratas abriria espaço para restrições ou mesmo o banimento da extração por fraturamento. Por isso, o futuro da produção energética nos EUA dependerá do resultado dos pleitos para o senado na Geórgia.
Um declínio repentino na produção de óleo e gás nos EUA por causa de uma mudança drástica na política americana pode fazer com que os preços subam significativamente, na medida em que o mundo continuará dependendo dos hidrocarbonetos para energia.
Expectativa de maior volatilidade no petróleo e gás futuro; vacina e menor produção podem provocar um rali em ações relacionadas à energia
Prevejo muita oscilação de preços nos mercados futuros de petróleo e gás natural nas próximas semanas com a aproximação do segundo turno na Geórgia.
Além da política americana e da futura legislação energética, a alta do número de casos do vírus e hospitalizações indica possibilidade de baixa. O progresso das vacinas é positivo, pois retomaria certo senso de normalidade e daria mais suporte ao petróleo e ao gás.
Além disso, uma vacina eficiente e o fim da pandemia podem manter a recuperação do XLE e das principais ações de energia.
Os Estados Unidos são o maior produtor mundial de petróleo. Em março, a produção diária do país registrou recorde de 13,1 mbpd. Os últimos dados da EIA mostraram que a produção diária ficou um pouco abaixo de 11 mbpd até a semana encerrada em 13 de novembro. As grandes reservas de gás natural nas regiões de Marcellus e Utica nos EUA e o emergente mercado de gás natural liquefeito colocaram os EUA na liderança desse mercado. Uma mudança repentina na produção faria com que a Opep, a Rússia e outros produtores mundiais tivessem mais influência nos preços futuros de energia.
Nas próximas semanas e meses, as decisões políticas determinarão o ambiente regulatório nos EUA, a produção de óleo e gás do país e o caminho de menor resistência para os preços. Há muita coisa em jogo nas eleições de 5 de janeiro na Geórgia, e a energia é apenas uma das diversas questões críticas.