Nomeações Ministeriais, Fed e Instabilidades na Europa - Editorial de Novembro

Publicado 03.12.2018, 18:34
Atualizado 09.07.2023, 07:32
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No âmbito interno, a gestão Jair Bolsonaro toma forma a partir de suas nomeações ministeriais, embora a equipe econômica não pinte tons claros acerca do prosseguimento específico de alguns assuntos. Com a clareza relativa, o mercado de câmbio passou por dias mais tranquilos durante o mês, enquanto o cenário externo indicou atualizações interessantes, com destaque à mudança de tom do discurso da autoridade monetária estadunidense e aos antecedentes da reunião do G20.

Adentrando no continente europeu para uma visão generalizada, as atualizações em relação a outubro não foram grandes, contudo, merecem atenção, já que o Brexit e instabilidades dentro do bloco movimentam mercados e a imagem firme da Alemanha é importante.

O país germânico, principal economia da União Europeia, após passar por projeção baixista de crescimento anual, vem recebendo críticas acerca desses números, os quais - indicam institutos econômicos - devem ser ainda menores para este ano e para o vindouro. A retração de 0,5 ponto percentual não fora suficiente e devido ao encolhimento no último trimestre, impactos do conflito sino-americano e problemas relacionados às adaptações no setor automotivo, a projeção indicada por críticos chega a 1,5% de crescimento do Produto Interno Bruto em 2018. Embora ainda algo positivo, indica dificuldades até mesmo aos gigantes com excedentes comerciais. E, dada a importância das exportações, Merkel deve adotar um discurso multilateral amplo na reunião do G20, que irá ocorrer na Argentina a partir de sexta-feira (30).

Enquanto isso, o imbróglio no Reino Unido se mantém, ou seja, a situação do Brexit não encontra desfecho. Durante o mês, um novo acordo técnico foi proposto por Theresa May com o objetivo de enfrentar as complexas adversidades incessantes. Todavia, o acordo com mais de 500 páginas já enfrenta dificuldades de convencimento, principalmente por questões jurídicas, financeiras e políticas. Entre elas temos: as questões fronteiriças - como da Irlanda -; o prazo de carência para adequação a prescrições; ideias de união aduaneira (contrariando, em partes, o propósito da separação) e; a questão política enfrentada pela primeira ministra - com a renúncia de quatro ministros após a divulgação do acordo-. Não está claro quando e qual será o desfecho para o caso, mas no dia 11 de dezembro o parlamento votará a adequação ou não da proposta. Acredita-se que, findada a situação, o Reino Unido dependa ainda mais dos Estados Unidos e um acordo de livre comércio seria visto com bons olhos. Atualmente, os estadunidenses são os principais importadores de produtos britânicos e grandes exportadores aos ingleses.

Com uma situação complicada na Europa, todavia, em outra instância, observa-se a Itália, país que teve o orçamento rejeitado pelo bloco europeu no mês passado e concentrou as energias de novembro em reconciliações. Parece que as movimentações deram certo e um déficit de 2% do PIB será aceito pela União Europeia. Além disso, internamente a política vem se ajustando com o vice-primeiro-ministro e o líder da Liga Norte convergindo em ideias. O país mantém a inflação controlada mas o desemprego é elevado e a dívida pública crescente. A adequação em termos de planejamento no ambiente político é fundamental à retomada do país. Situação delicada também vive a Turquia, ainda que os ânimos por lá, aparentemente, tenham voltado aos trilhos. O desafio central se mantém em não depreciar demasiadamente a lira, algo bem sucedido durante o mês de novembro, após tempos delicados que chamaram atenção até dos mais desatentos operadores e entusiastas do mercado e da economia.

De maneira geral, em relação ao Velho Continente, não houve mudanças significativas em termos de indicadores quando comparado com o mês anterior, contudo, segue a inquietação acerca das resoluções dos casos de Itália e Reino Unido. Negociações com o Mercosul ocorreram mas não foram bem sucedidas e ficam engavetadas. Os fundos de investimentos, que adentraram na Europa nos últimos 10 anos, ficam mais vulneráveis quanto a potenciais desentendimentos e crises. A situação europeia também leva o mercado global a uma busca por maior segurança que, em última instância, leva capitais à economia norte-americana, aquela que, até o momento, apresenta dados consideravelmente bons.

Mesmo com indicadores econômicos favoráveis, os Estados Unidos não fogem de instabilidades e conflitos. Para novembro, houve manutenção de dois conflitos: o comercial com a China e o de discordância com o Federal Reserve. Donald Trump mantém discurso rígido contra acordos bilaterais com o desafeto asiático, contudo, há esperanças do mercado em relação à reunião vindoura do G20 nos próximos dias, algo que será coberto pelos nossos Destaques da Semana e é assunto central do encontro na Argentina. No que tange aos indicadores da economia estadunidense, há manutenção do avanço. O Produto Interno Bruto para o 3T18 cresceu 3,5%, em ritmo anual, alavancado ainda pelo forte corte de tributos aplicado pela gestão republicana. Houve um retrocesso em relação ao trimestre imediatamente anterior, contudo, é visto como algo natural e ainda está além da taxa potencial de crescimento da economia. Devido a esse hiato do produto positivo, as preocupações com a inflação se mantém e o Índice de Preços ao Produtor (PPI, na sigla em inglês) está acima da média esperada por analistas.

Atento a essa questão, o banco central estadunidense, o Federal Reserve - ou Fed -, vem atuando numa normalização altista das taxas de juros pós período de quantitative easing, como forma de rebalancear as contas e frear a expansão de preços devido ao superaquecimento econômico. Dessa forma, Jerome Powell, chairman do Fed, traz uma trajetória de alta da Fed funds rate, algo que desagrada o presidente do país. Trump, desde o meses anteriores, indica descontentamento com a política da autoridade monetária do país e, dessa vez, parece que o Fed vai ceder às pressões vindas da Casa Branca - mostrando não ter tanta autonomia assim -, visto que no último pronunciamento Powell disse que a taxa está apenas um pouco abaixo da neutralidade - discurso antagônico daqueles até então -. Caso ocorra um fim à normalização dos juros estadunidenses em breve e haja acordo entre Trump e Xi Jingping na cúpula do G20, o mercado deve passar por um rali otimista ao final do ano, com um maior apetite global ao risco, beneficiando, inclusive, os emergentes como o Brasil. Talvez a Argentina, embora tenha retomado a categoria de mercado emergente, dada sua situação interna indicada nos últimos textos, não deve ter situação aliviada nem em um otimismo mundial.

Em relação ao gigante asiático, o cenário de aparente desaceleração - embora seja cada vez mais difícil crescer com bases maiores - traz índices desanimadores. A confiança calculada em meio à economia chinesa é baixa, com o índice divulgado pela Markit Economics chegando em sua pior marca desde 2009. O setor manufatureiro e o de serviços seguiram a trajetória de retração. Enquanto isso, o governo chinês mantém sua postura de apoio e investimentos na economia como forma de estimular a demanda interna e manter o plano de desenvolvimento tecnológico exportador, apesar do embate com um de seus principais compradores, os Estados Unidos, e a diminuição dos gastos em P&D, importante motor à expansão industrial. O câmbio se mantém desvalorizado, embora em certa estabilidade e as políticas ambientais mais rígidas pesam sobre os custos de produção. Para piorar, a própria demanda interna, um importante mercado, não apresenta sinais de confiabilidade e o consumo reduz.

Além das dificuldades inerentes da manutenção de uma economia em grande aceleração por muitos anos, o conflito com os Estados Unidos retira confiança e recursos financeiros da China. Mediante a situação instável, o Brasil foi favorecido em outubro, segundo dados divulgados em novembro, por importações chinesas da soja brasileira. Os números alfandegários indicaram que as exportações tupiniquins aos asiáticos quase dobraram quando comparadas ao mesmo período de 2017. Essa relação se dá devido às tarifas impostas pelos próprios chineses, em julho, sobre os grãos estadunidenses.

E por falar em Brasil, cabe discorrermos mais sobre os indicadores econômicos e a negociação política após o esfriamento eleitoral. As negociações acerca da votação da Reforma da Previdência ainda em 2018 foram deixadas de lado - algo que deve retornar à agenda logo no início do mandato oficial -. O presidente eleito Jair Bolsonaro junto ao seu Ministro da Economia, Paulo Guedes, vem desenhando a organização de seu governo rapidamente. Definições importantes foram divulgadas, como os nomes para o Banco Central, Tesouro Nacional, Petrobras (SA:PETR4), BNDES e Ministério da Agricultura, por exemplo.

A bancada ruralista fez sua indicação para o Ministério da Agricultura, algo acatado pelo presidente: Tereza Cristina (DEM-MS). A deputada atualmente está na ponta da hierarquia da Frente Parlamentar da Agropecuária e apesar de ser pivô de polêmicas em anos anteriores, é muito bem quista nesse meio, algo com certa importância já que o agronegócio é forte no país. Ainda em relação a ministérios, o até então Ministério do Trabalho deve ser desmantelado e agregado a alguma outra pasta ainda não divulgada pelo governo, decisão que passa por fortes críticas de centrais sindicais brasileiras como CUT e UGT.

A autarquia federal responsável pela condução da política monetária brasileira, o Banco Central do Brasil, perderá o atual presidente, responsável por grandes melhorias, Ilan Goldfajn e apresentará Roberto Campos Neto. A troca é feita por alguém também relacionado ao mercado financeiro e ocorre em meio a discussões acerca da autonomia do BC, que teria mandatos não coincidentes com o Executivo para diminuir a intromissão na atividade da autoridade monetária, algo que - em tese - reduziria os juros futuros. Campos Neto é um economista formado na Califórnia, atual executivo responsável pela tesouraria do banco Santander (SA:SANB11), com experiência em derivativos de juros e de câmbio, dívida externa, Bolsa de Valores, renda fixa internacional, trading e tesouraria. Também é neto do ex-Ministro do Planejamento e grande expoente do pensamento liberal brasileiro no século XX, Roberto Campos. Para assumir de fato o BACEN, passará por sabatina da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado e fica sujeito à aprovação.

Amplamente relacionado, o Tesouro Nacional recebeu indicação da equipe de transição bolsonarista e Mansueto Almeida continuará no cargo para o mandato presidencial do PSL. O economista tem ampla experiência, sendo técnico de Planejamento e Pesquisa do IPEA e tendo passado pela coordenadoria geral do Ministério da Fazenda ao final dos anos 1990, bem como assessorado atividades no Senado Federal. O grande desafio aqui será reequilibrar as contas públicas nacionais, já que desde 2013 não há resultados primários positivos. Mansueto está, aparentemente, alinhado com os ideais da equipe econômica que será guiada por Guedes e enxerga a Reforma da Previdência aos moldes da tramitação atual, algo de necessidade urgente para a tentativa de controle fiscal do setor público.

Alguém que não continua no governo mas retorna a ele é Joaquim Levy. O ex-ministro do segundo governo Dilma que apareceu muito na mídia dada a incompatibilidade de vieses – por ser um liberal de Chicago -, foi escolhido para comandar o BNDES no quadriênio 2019-22. O economista, até então era diretor financeiro do Banco Mundial. O trabalho no banco de desenvolvimento nacional será no âmbito da logística e infraestrutura, bem como na estruturação de possíveis privatizações e na inovação e geração de novas tecnologias. O BNDES passou por severas crises e duras críticas nos últimos anos devido a sua política inconsistente com os objetivos centrais. Levy terá a missão de recuperar a confiabilidade do banco e regenerar suas funções operacionais.

Em termos da grande estatal brasileira, um liberal próximo a Paulo Guedes, o doutor em economia pela FGV e com pós doutorado em Chicago, Roberto Castello Branco, foi indicado e aceitou o convite para presidir a Petrobras a partir de 2019, enquanto Ivan Monteiro (atual presidente) é cotado para o Banco do Brasil (SA:BBAS3). O economista escolhido é ex-membro do conselho administrativo da companhia - indicado ainda pela presidente Dilma -, diretor do Centro de Estudos em Crescimento e Desenvolvimento Econômico da FGV, ex-economista chefe da até então Companhia Vale do Rio Doce (SA:VALE5) (atual Vale (SA:VALE3)) e um defensor histórico das privatizações. O foco para a próxima gestão parece retornar ao pré-sal, com a concentração de esforços na exploração de petróleo dessa camada. Os desafios ainda consistem na melhora operacional e desalavancagem da empresa. Castello Branco indicou ao jornal Valor Econômico que é favorável à privatização da Petrobras, embora não seja pauta da próxima gestão, salientando que será feita uma avaliação dos demais setores em que a empresa atua. Enquanto isso, o presidente eleito para o próximo quadriênio, Jair Bolsonaro, afirmou estar fora dos planos a privatização de toda a empresa, embora partes dela possam ser vendidas. Com indicações anteriores, o próximo mandato presidencial e econômico avalia a privatização de empresas subsidiárias da Petrobras, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil.

Com a equipe em formação 1 mês após a eleição, as expectativas a respeito do futuro governo surgem com mais força. A partir do atual cenário econômico brasileiro, daremos sequência às visões futuras.

Na condução da política monetária, a ata do COPOM indicou detalhes acerca de suas projeções e análises. O principal motivo apontado para a manutenção da Selic em 6,5% ao ano após as eleições foi a apreciação do Real (R$) frente ao Dólar (US$), diminuindo expectativas de pressão inflacionária via câmbio, algo que seria combatido com alta dos juros. Amplamente relacionado com a relação dólar/real, está a melhora no cenário doméstico pós definição eleitoral. Em contrapartida, não há grande otimismo, visto que a tendência para a moeda estadunidense é de fortalecimento em todo o mundo, já que os Estados Unidos vêm crescendo bastante, o conflito comercial amedronta, os emergentes estão em crise e a União Europeia vêm patinando. Além disso, o câmbio não ficará comportado se, ceteris paribus, a Reforma da Previdência não for aprovada no primeiro semestre do ano que vem. Ainda sobre o câmbio, durante o mês ele oscilou entre momentos de estabilidade e indicações de dependência externa. Com movimentos de aversão ao risco, o Real (R$) se depreciava, o que é visto como natural a um país emergente e não reflete mudanças estruturais internas correlacionadas ao fenômeno. Para a gestão Bolsonaro, espera-se a manutenção da taxa básica de juros ao menos no primeiro trimestre e, caso ocorra mudanças, não devem ser significativas.

A inflação, preocupação de anos como 2015, está sob controle e deve encerrar o ano abaixo do centro da meta do BACEN, desestimulada também pela fraca atividade econômica - lê-se também, grande capacidade ociosa - em meio a um desemprego declinante, mas ainda muito expressivo. Os últimos dados divulgados indicam queda para 11,7%, atingindo ainda 12,4 milhões de pessoas, sem trazer os casos especiais apresentados pela Pnad. Ainda assim, o Produto Interno Bruto do Brasil avançou 0,8% no último trimestre encerrado em setembro - note a defasagem do dado -. Apesar desse crescimento, o patamar ainda é equivalente ao do primeiro semestre de 2012, ou seja, estamos longe de recuperar as perdas provocadas pela última recessão. O próximo ano apresenta uma perspectiva melhor, embora existam dificuldades claras no próprio seio do governo e na maneira como as negociações são feitas em Brasília. Apesar da bancada considerável conquistada pelo PSL na Câmara e no Senado, a oposição ainda é forte, a fragmentação não é desprezível e o número de votos adeptos necessários para qualquer tipo de medida é muito alto. Ainda assim, se a Reforma da Previdência for aprovada nos primeiros 180 dias do governo, ele gozará de mais tempo de governabilidade e capital político para os demais ajustes e proposições.


Responsável: Guilherme de O. Pampolin
Revisão: Diretoria de Corpo Editorial LMF UNESP

Publicação original

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