O cenário econômico europeu segue mostrando sinais de estagnação acerca da trajetória de desenvolvimento econômico. Por um lado, os dados referentes ao desemprego mostraram uma diminuição no número de desempregados na Zona do Euro, que caiu 0,1 ponto percentual, atingindo a média de 7,6%. Os destaques positivos e negativos foram A República Tcheca (2,1%), Alemanha (3,1%) e Países Baixos (3,2%) e Itália (10,2%), Espanha (13,8%) e Grécia (18,5%), respectivamente. A queda na taxa de desemprego sinaliza que há uma possibilidade de os índices inflacionários começarem a reagir, à medida que o consumo aumente, porém o que ocorreu foi o contrário. O índice inflacionário europeu, que estava sinalizando uma alta de 1,7% nos preços da Zona do Euro em abril caiu dramaticamente, atingindo 1,2% no mês de maio. Considerando que a taxa de juros do bloco já está em 0% e que a meta do Banco Central Europeu (BCE) é de uma inflação de 2% ao ano, pode-se dizer que há um problema na atividade econômica europeia. A argumentação contrária afirma que o fato de a páscoa ter sido celebrada tardiamente neste ano, causou uma distorção na demanda sazonal e, por isso, uma alteração incomum nos índices de preços. Mario Draghi, presidente do BCE, reiterou suas expectativas para o crescimento econômico e para a inflação do bloco em 2019, de 1,2% e de 1,3%, respectivamente. Fica claro que a possibilidade de um aumento nas taxas de juros do bloco em um futuro próximo se mostra completamente inapropriada, Draghi inclusive afirmou que um aumento não deverá ocorrer em nem nesse ano e nem em 2020.
Um alívio para o horizonte econômico do bloco pode ser observado no resultado das pesquisas PMI, que mostraram um aumento no ritmo de expansão da atividade econômica, com o PMI composto saindo dos 51,8 pontos registrados em abril para 52,1 em maio. Porém, o setor industrial continuou a se retrair de maneira relativamente estável durante o mês de maio, com o índice cair de 48,9 para 48,8 em maio. Tendo isso em vista fica claro que o setor de serviços foi o principal guia para o crescimento da atividade econômica da região, saltando de 52,9 em abril para 53,4 em maio. A metodologia adotada pelos índices PMI consistem em que qualquer resultado acima de 50 pontos sinalizam crescimento econômico enquanto resultado abaixo mostram retração, sendo a velocidade do movimento expressa através da diferença entre o resultado e o benchmark de 50 pontos.
Para o cenário político, o principal ponto de atenção segue sendo o Brexit, porém durante este último mês não houveram grandes notícias acerca do tema. O fato é natural, tendo em vista que Theresa May anunciou sua saída do posto de primeira-ministra do Reino Unido em maio e, daqui em diante, o foco será nas eleições para o cargo. Com a saída de May, o principal candidato é o ex-prefeito de Londres, Boris Johnson, que liderou o movimento pró-Brexit na época do plebiscito. O resultado para o novo primeiro-ministro só deverá ser divulgado ao fim de julho, o que deve deixar a saída do Reino Unido da União Europeia em stand-by.
Quanto à China, o principal fato que vem impactando o mercado brasileiro, assim como o internacional, vem sendo a constante escalada do minério de ferro durante esse mês. Inicialmente, as cotações do minério de ferro spot haviam registrado uma grande valorização em consequência ao desastre de Brumadinho. Após o acidente, a Vale (SA:VALE3) anunciou a interdição de diversas minas, o que desequilibrou a oferta global da commodity, considerando o peso da empresa no mercado internacional. Mesmo o fato de que há algumas semanas a Vale recebeu a permissão para voltar a operar a mina de Brucutu, uma de suas maiores minas, não serviu para aliviar a insegurança dos investidores. Os estoques do minério na China caíram para o menor volume desde 2017, em 116,75 milhões de toneladas, o que pode sugerir um aumento na atividade econômica, especialmente ligada aos setores de construção. A Rio Tinto (LON:RIO), uma das maiores empresas de mineração do planeta também impactou os preços devido a cortes em seu guidance de produção.
No que se refere à economia chinesa, a decisão do FMI, de rebaixar as expectativas de crescimento para 2019 e 2020 em 0,1 ponto percentual, trazendo o número para 6,2% e 6%, respectivamente. O principal fator de risco que pesa sobre o gigante asiático é a escalada da guerra comercial, porém há a impressão de que as medidas das autoridades chinesas estão tendo sucesso para compensar os impactos das sanções impostas.
Quanto à economia americana, o foco da atenção do mercado financeiro internacional ficou para a decisão da taxa de juros por parte do FOMC. Havia uma expectativa de queda próxima na taxa, gerada pelas atas de reuniões passadas e pela evolução dos balanços de riscos monitorados pelo Federal Reserve. No decorrer de junho, a linguagem adotada pelos formuladores de política econômica dos Estados Unidos dava a entender que a economia do país poderia estar se desacelerando um pouco mais rápido do que o esperado. Em eventos durante o mês, foi deixada de lado as expressões que geravam a percepção de que o Fed estava monitorando a situação com paciência, por isso começou-se a antecipar uma possível queda próxima. Apesar das expectativas do mercado de capitais sobre o tom mais dovish da entidade, na última semana, James Bullard, presidente do Fed de St. Louis, segurou o entusiasmo dos investidores quando afirmou que uma queda de 0,5% na taxa poderia ser um movimento exagerado. Bullard, porém, confirmou que deveria ter havido um corte de 25 pontos-base durante a reunião realizada em 19 de junho, quando as taxas foram mantidas no mesmo nível. A justificativa girava em torno da evolução da inflação do país, aliado à situação do mercado de trabalho. A meta de inflação dos Estados Unidos é de 2% ao ano, porém, mesmo com o mercado de trabalho funcionando a pleno emprego, com uma taxa de desempregados de 3,6%, a inflação segue em níveis mais baixos do que o antecipado. O Consumer Price Index (CPI) atualmente sinaliza uma inflação de 1,8% ao ano, o que sugere a existência de uma margem para reduzir as taxas em 0,25%, como defendido por Bullard. O PCE americano, que mostra os gastos com consumo das famílias americanas subiu 0,2% em junho, com o indicador anual batendo 2%. O indicador é o principal usado pelo Federal Reserve para monitorar a saúde da economia americana, restando agora aguardar o impacto desse aumento nos gastos pessoais sobre a inflação. É claro para o mercado financeiro que um corte nos juros americanos deve ocorrer na próxima reunião do FOMC, porém, se a atividade econômica mostrar uma melhora no próximo mês, diferentemente do que vinha mostrando nos três meses anteriores, essa expectativa pode não se concretizar, gerando uma fuga de capitais do mercado de risco, i.e., mercados acionários diversos, futuros de commodities e etc.
O presidente americano, Donald Trump, vem prestando muita atenção nos passos adotados tangentes à taxa de juros americana. O republicano afirma que, para manter a economia do país em níveis saudáveis, é necessário um dólar mais fraco. Porém, a decisão de manter as taxas de juros inalteradas fez com que a moeda ganhasse força no mercado internacional, motivando o presidente a disparar uma série de críticas à maneira como Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, vem conduzindo a política monetária. Após evento realizado durante esse mês, Powell afirmou que a autoridade monetária está devidamente blindada de pressões políticas externas e que seguirá conduzindo a política econômica americana do jeito que vem conduzindo nos últimos meses, buscando maximizar o emprego americano e a expansão do produto, com uma inflação controlada no nível de 2% ao ano.
Ainda sobre a política de Trump, a reunião do G20 é encarada como uma nova oportunidade para solucionar o impasse comercial pelo qual vem passando as relações sino-americanas, após a falha das tratativas ocorridas no início de maio. O fato de o imbróglio envolvendo a Huawei ter chegado ao fim nos últimos dias mostra uma dose de boa vontade das autoridades americanas antes de sentarem na mesa de negociações, porém nossa visão é de que há mais coisas a ocorrerem antes da resolução do conflito. Na ocasião do aumento de 25% nas tarifas em maio, havíamos abordado esse tema, afirmando que Trump continuará colocando pressão sobre as negociações enquanto a situação para a economia americana continuar se mostrando próspera. Ainda seguimos com essa tese, e que ainda não há motivações suficientes para que o governo americano sinta a necessidade de chegar em um acordo com as autoridades chinesas. A passividade dos chineses sobre a questão, com o governo de Jinping se limitando a “responder na mesma moeda” às imposições dos americanos, mantém os Estados Unidos em uma posição favorável para continuar impondo restrições. O efeito dessas sanções comerciais, porém, podem ser muito mais agravantes para a economia americana no longo prazo. Há meses, as autoridades chinesas vêm incentivando o empresariado local a buscar por fornecedores não americanos, devido ao conflito. Um olhar na evolução da balança comercial entre os dois países mostra que essas recomendações do governo chinês vêm começando a fazer efeito cada vez mais. O risco aqui se dá pelo fato de que, uma vez que os empresários chineses já estiverem com fornecedores internacionais não americanos, é muito difícil que eles voltem a demandar os produtos como anteriormente, podendo gerar um impacto profundo e permanente no setor externo dos Estados Unidos.
Para a economia brasileira, cenário segue sinalizando uma continuidade do quadro de estagnação atual, sendo que o risco de início de uma nova recessão não pode ser descartado, visto que no último trimestre já apresentou uma retração de 0,2% no produto. As projeções de crescimento da economia do país, de acordo com o Boletim Focus, se retraíram grave e consistentemente durante o mês, chegando a marcar uma expectativa de crescimento de 0,87% do PIB até o fechamento desta edição. As expectativas para a produção industrial caíram pela metade, passando de 1,49% no final de maio para encerrar junho em 0,72%. O desempenho da indústria, de acordo com a pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) evolui de maneira bem controlada, com o indicador, que funciona de maneira idêntica ao PMI, marcando 50,9 pontos. Já o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) referente a maio ficou em 67%, se elevando 1 ponto percentual. Apesar de uma melhora leve nesses indicadores na indústria, o emprego no seor caiu 0,3 ponto percentual, com a pesquisa da CNI marcando 48,5 pontos, dando continuidade à tendência de piora no mercado de trabalho industrial. O setor de construção civil, por outro lado, mostrou uma leve melhora durante esse mês, o que se tornou algo raro de se ver após tanto tempo de recessão e estagnação econômica. O Nuci do setor se elevou em 2 pontos percentuais, de acordo com a FGV, atingindo 68,3%, o maior patamar desde novembro de 2015. Monitorar a situação do setor de construção civil é importante pois é um setor que tem o potencial de gerar muitos empregos, tanto direta com indiretamente.
A situação acerca da inflação se mostra estável, com o IPCA-15 se elevando em 0,06% em junho e batendo os 3,84% no dado anual. O IPCA-15 é uma prévia do IPCA e já se pode observar o que deve ocorrer com o principal índice inflacionário no mês que vem, com o impacto da greve dos caminhoneiros de 2017 saindo da amostra anual. Com uma correção para um nível abaixo dos 4%, a inflação brasileira mostrará o impacto do alto desemprego e baixa demanda por produtos que atualmente se encontra a economia. Por isso, acreditamos que o cenário inflacionário dará margem para maiores cortes na taxa Selic, que acreditamos que deverá encerrar o ano em 5,75%, ante uma expectativa de encerramento em 6%. A postura do Copom já admite a possibilidade e até mesmo a necessidade de um corte na taxa para alimentar um crescimento econômico de maneira sustentável, porém fica claro que o Comitê está aguardando uma resolução para a reforma da previdência antes de arriscar cortar a taxa e arriscar que a reforma não passe e haja um desequilíbrio no balanço de riscos.
Escrito por: Matheus Bulascoschi