A economia global está enfrentando um período de incertezas crescente, com sinais claros de desaceleração e volatilidade. A confiança de consumidores e empresas nos EUA apresenta sinais de queda, refletindo preocupações com o aumento de tarifas, desaceleração da manufatura e condições macroeconômicas adversas. Esses fatores combinados estão minando as expectativas de crescimento, sugerindo que a economia global pode entrar em uma fase de retração mais acentuada.
Os últimos dados indicam uma deterioração na confiança. O índice da Universidade de Michigan caiu para 64,7, o menor nível desde novembro de 2023, destacando uma queda de 19% na intenção de compra de bens duráveis. No setor industrial, o ISM Manufacturing PMI caiu para 50,3, com novos pedidos atingindo o menor patamar desde 2022. Além disso, a contração na contratação reforça a percepção de que a economia pode estar entrando em uma fase mais desafiadora.
Outro fator de risco é a guerra comercial por parte dos EUA com a imposição de novas tarifas para o comércio internacional. As tarifas comerciais estão emergindo como um risco significativo para o crescimento econômico. Políticas protecionistas semelhantes no passado, como as adotadas durante o governo Herbert Hoover (1929-1933), agravaram crises econômicas após a crise de 1929. Com previsões apontando para tarifas médias de 17,7% em uma nova guerra comercial, as margens empresariais e a competitividade global podem ser severamente afetadas. Como esses efeitos tendem a ser defasados, uma escalada protecionista em 2025 pode desencadear impactos negativos até 2026.
Soma-se a isso a ideia de fim de ciclo econômico e sua relação com a política monetária do Federal Reserve. Apesar da taxa de desemprego estar em 4%, um número historicamente baixo, os pedidos de auxílio-desemprego começam a crescer, um indicativo clássico de recessão iminente. É importante observar que a história sugere um padrão recorrente: políticas monetárias restritivas frequentemente precedem desacelerações econômicas.
Outros indicadores de atividade global também apontam para um enfraquecimento significativo. Por exemplo o Índice de Frete em Contêineres (Containerized Freight Index) registrou uma queda de 38,41% desde o início de 2025, sinalizando uma menor demanda global por transporte de mercadorias. Historicamente, esse índice atingiu um pico de 5109,60 pontos em janeiro de 2022 e agora é projetado para cair para 1315,12 nos próximos 12 meses. Isso reforça a percepção de que o comércio global está esfriando rapidamente.
Recentemente, o Federal Reserve de Atlanta revisou sua projeção para o PIB dos EUA no primeiro trimestre de 2025, reduzindo a expectativa de -1,5% para uma contração ainda maior de -2,8%. Ao mesmo tempo, o crescimento das despesas pessoais reais caiu para 0,0%, enquanto o investimento fixo privado praticamente estagnou, com um crescimento de apenas 0,1%. Esses dados são sinais alarmantes de que uma forte desaceleração ou mesmo uma recessão pode estar mais próxima do que o esperado, pressionando os mercados a adotarem uma postura mais cautelosa.
Os desafios fiscais e estruturais dos EUA também complicam o cenário. Com um alto nível de endividamento e um espaço reduzido para estímulos fiscais, mesmo com todo o esforço do DOGE (Departamento de Eficiência Governamental) chefiado pelo empresário Elon Musk, o governo tem poucas ferramentas para reverter rapidamente uma situação fiscal estrutural. Além disso, a inflação persiste como uma preocupação, tornando mais difícil para o Federal Reserve flexibilizar sua política monetária sem comprometer o controle sobre os preços no curto prazo o que deixaria espaço para a chegada da desaceleração.
Diante desse cenário desafiador, a incerteza se consolida como a única constante, exigindo atenção redobrada de investidores e gestores. A combinação de uma desaceleração iminente, tensões comerciais e fragilidades estruturais intensifica os riscos para a economia global. Os mercados já começam a precificar um ambiente de alta volatilidade, onde decisões impulsivas podem resultar em perdas significativas. Nesse contexto, adotar estratégias defensivas e acompanhar de perto os indicadores econômicos não é apenas recomendável, mas essencial para mitigar riscos e atravessar a turbulência com maior segurança.