No Brasil pode se reclamar da falta de muita coisa, menos de tédio, visto que cotidianamente temos fatos novos que afetam o ambiente tirando a serenidade e dando-lhe intensidade emocional.
Ocorre que, como disse o poeta, “a razão e a emoção” nem sempre andam no mesmo lugar, então num ambiente macroeconômico complexo em suas turbulências, agravado pela crise sanitária aguda, agora se soma o fato político relevante em torno do ex-Presidente Lula.
Então, o grau de nebulosidade se amplia e cada vez se vê menos a perspectiva em torno do futuro do país, e, certamente é possível se antever, se o fato político não sofrer qualquer reversão, que a sucessão presidencial assumirá a cena principal nas discussões e isto poderá retardar o que já é retardatário, tornando o principal secundário e preocupante.
A pandemia é assustadora em seus números dantescos e crescentes, há a convicção que afetará em muito a dinâmica da atividade econômica que o país busca retomar, e retarda as medidas urgentes em torno das reformas imperativas e das privatizações.
O cenário prevalecente no país, com ênfase as posturas negacionistas, certamente será campo fértil para atuação mais protagonista da oposição que poderá se reerguer a partir da decisão, se mantida, a favor do ex-Presidente, com um discurso forte e contestador.
O ambiente está irado com um quadro dramático de inflação contundente em que o combustível mais visível, a gasolina, já foi reajustada 50% este ano e o COPOM mantém o discurso prevendo inflação entre 3% e 4% e juro em 2% e salientando que “tudo” é temporário, já faz 14 meses.
A população carente está há 3 meses desassistida do programa assistencial do governo, e, o retorno será em bases mais modestas, o que certamente causará desapontamentos pelos valores e pelo núcleo que será excluído do benefício.
E o pior, o viés de alta do preço do dólar no nosso mercado, mas também no mercado externo, é cada vez mais acentuado e contribui repercutindo na cadeia produtiva do país, em especial para o transporte e nos produtos de alimentação básica, elevando rapidamente as pressões inflacionárias.
A atividade econômica re-atingida pela agravada pandemia do coronavírus reflete e tende a perder dinamismo na discreta recuperação que vem evidenciando, pelo menos neste semestre, o emprego deve ser afetado na geração de vagas novas e a renda, naturalmente, tende a ficar cadente.
Ufa, que quadro, que situação.
A vacinação vai indo em ritmo lento, mas vai indo, mas as ações desafiadoras à pandemia pela população continuam gerando números assombrosos de infectados e internados em estado grave, acentuando a mortalidade, que constrói ambiente desolador.
Poderíamos afirmar que não falta mais nada, mas isto desagrada uma parte da população que está feliz com este “status quo” e acha que está tudo ótimo, ou pelo menos, muito bom.
Se já era difícil a Bovespa ganhar lastro para uma alavancagem firme e forte de valorização, acreditamos que a nebulosidade que neutraliza a perspectiva inviabiliza eventual otimismo, restando os papéis ligados às commodities em geral, que dependem do preço internacional e se beneficiam do preço do dólar aviltado, e parte do setor financeiro, onde o lucro é certo, embora possa ser um pouco menor.
O preço do dólar tem um viés, agora mais acentuado, de alta com danos generalizados à nossa economia, sendo imperativo e inevitável que o COPOM em meados deste mês, em sua reunião, eleve a SELIC, pelo menos para mitigar um pouco a pressão altista assegurada pela retomada da economia americana ancorada pelos incentivos que geram inflação, e que na ponta final inflam as taxas dos yelds dos Treasuries e valorizam o dólar no mercado internacional.
O que se presencia é a assertiva de que o que está ruim pode ficar pior.