Antes de fazermos qualquer consideração ou constatação, deixamos a nossa torcida para que o Brasil consiga sair da enrascada local e internacional em que se meteu. No âmbito interno, o quadro fiscal complicado é o que sobressai e, no plano internacional, são os problemas climáticos atribuídos ao país. A COP-26, que começou em 31/10, parece ser uma boa chance para apagarmos a interpretação de nossos parceiros comerciais.
O ministro da Economia Paulo Gudes tem sido incansável em repetir que o país sofreu menos que nossos vizinhos latinos e que estamos nos recuperando e crescendo mais rápido, além de ter inflação menor. Isso não é verdade para alguns vizinhos como Colômbia e México, por exemplo. Paulo Guedes também segue dizendo que o país crescerá 5% neste ano e, provavelmente, 2,50% em 2022. Mas também jogou recentemente uma tábua de salvação, abordando processo de estagflação.
Enquanto o ministro fala disso, a nova pesquisa Focus, recém-anunciada pelo Bacen, piorou mais uma vez as expectativas sobre dados de conjuntura. Na visão da última Focus, a inflação oficial de 2021 já está em 9,17%, enquanto foi para 4,55% em 2022, 1,05% acima do centro da meta do Bacen. A taxa Selic de 2022 já está projetada para 2022 em 10,25%, enquanto o PIB de 2021 encolheu para 4,94% e 2022 ficou com apenas 1,20%. O dólar projetado para os dois anos está em R$ 5,50. Notem as discrepâncias em relação ao que o ministro tem dito e, principalmente, com os anúncios de que as projeções podem piorar ainda mais.
Na última semana, o governo divulgou as contas públicas referentes ao mês de setembro, com superávit de R$ 12,9 bilhões e, no acumulado do ano, R$ 14,2 bilhões. Sem dúvidas, dados bem melhores do que estavam prevendo anteriormente, e mostrando superávit em estados e municípios. O governo fez grande alarde disso, com aumento real das receitas crescendo 25,9% e despesas em declínio de 25,8%.
Membros do governo e economistas ligados fizeram bons comentários sobre isso, e alguns se esqueceram de dizer convenientemente que boa parte dos efeitos ocorridos (além da maior abertura da economia) se deve a alguns fatores como a inflação em alta, os juros idem e taxa cambial, além de impostos que começaram a retornar depois de o governo ter aliviado no período de pandemia.
Também, como temos dito, o problema não é exatamente o ano de 2021, muito embora as reformas estruturantes comecem a ficar para trás. O problema está exatamente em 2022, um ano de eleições majoritárias e polarizadas, quando historicamente a gastança campeia. O problema está na postergação de precatórios que terão de ser pagos em anos vindouros, nos benefícios que precisam ser prorrogados para os desassistidos, nas emendas parlamentares que devem aumentar com a brecha dos precatórios (caso passe no Congresso na quarta-feira) ou outro plano B que possa vigorar. Isso, sem falar do pleiteado aumento do fundo eleitoral novamente para R$ 5 bilhões.
O problema está em trazer uma inflação ao redor de dois dígitos neste ano e para perto do centro da meta de 3,50% em 2022 sem causar maior encolhimento no PIB. Lembrando que muitos economistas já projetam crescimento zero em 2022, ou até negativo, sempre com viés de baixa. Lembramos ainda todos os alertas feitos pelo Banco Central de que, sem reformas, a situação se complica muito em 2022.
Enquanto isso, cortes de despesas são impensáveis para o momento, como quase sempre foi feito no Brasil de aumento de impostos. Resta torcer para que nossos dirigentes entendam a gravidade da situação e a bomba relógio que pode estar se formando pela possibilidade de estagflação em 2022 ou dominância fiscal, quando o Banco Central fica atado na política fiscal em relação ao tamanho da dívida pública.
Alvaro Bandeira é economista-chefe e sócio do modalmais