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Economia brasileira resiliente? O que esperar para o segundo semestre?

Publicado 22.05.2023, 12:29

Os dados do primeiro trimestre da economia brasileira surpreendem, afinal, o mundo em ritmo de aperto monetário e inflação elevada atestam as expectativas de desaceleração da atividade econômica. 

Começando pela surpresa do IBC-Br, uma espécie de prévia do PIB mensal divulgado pelo Banco Central, na divulgação referente à fevereiro deste ano apresentou alta de 3,32% na margem e, mesmo revisado para 2,53% um mês depois, ainda trouxe certo otimismo econômico com a leitura de março, quando recuou 0,15% ante expectativa de queda em 0,30%, avançando no primeiro trimestre 2,41% frente ao último trimestre do ano passado. Diante desses dados, as expectativas para o PIB deste primeiro trimestre já chegam a 2% e para o ano de 1,5%, ante os 2,9% observados em todo 2022. 

Otimismo? Não. Olhando os componentes do PIB sob a ótica da oferta, produção industrial, serviços e agropecuária, o que explica, majoritariamente nossos dados positivos é o agronegócio que concomitantemente impulsionou os demais setores, além do aumento do crédito destinado às pessoas físicas e jurídicas. 

Para entender melhor, começando pelo setor que representa quase 70% do PIB brasileiro, o volume de serviços registrou uma expansão de 0,9% em março em relação ao mês anterior, superando as expectativas de 0,5%. No entanto, o crescimento acumulado em 12 meses perdeu força, caindo de 7,8% para 7,4% no último mês do primeiro trimestre.

Neste contexto, o setor de transportes foi o destaque positivo, apresentando um avanço de 3,6%. Esse crescimento foi impulsionado principalmente pelo transporte de cargas, que teve um aumento de 4,7% no mês, enquanto o transporte de passageiros teve uma queda de 3,3%.

Por outro lado, reforçando que nossa economia vem perdendo força, houve resultados negativos em um dos maiores segmentos que compõem o setor: os serviços prestados às famílias, que incluem alojamento, restaurantes, academia de ginástica, salão de beleza, entre outros, com recuo de 1,7% em relação ao mês anterior, marcando a segunda queda consecutiva, indicativo de que o otimismo do consumidor quanto aos gastos de bens que na economia chamamos de supérfluos, esta sendo deixado de lado. Uma das explicações: os sinais de aumento do desemprego já observado no período. 

Olhando para o nosso varejo, houve aumento nas vendas em três das oito atividades analisadas, avançando 0,8% em março em comparação com fevereiro e um crescimento de 3,2% em relação ao mesmo período do ano passado. O setor varejista ampliado, que inclui material de construção e veículos, registrou crescimento de 3,7% em relação ao mês anterior e um aumento de 8,8% nas vendas em comparação com março do ano passado.

Dos dados positivos diante um setor altamente correlacionado com o crédito, a principal explicação advém das concessões de crédito para a pessoa física, que cresceram em 15% em março de acordo com as estatísticas monetárias do banco central. Neste contexto, olhando o conjunto dos dados, verifica-se certa estabilidade no comprometimento da renda das famílias, hoje em 27,4%, crescimento de 1% em 12 meses, além da inadimplência para a pessoa física, considerada após pelo menos uma parcela com atraso superior a 90 dias, alcançando o patamar de 4,1% do sistema financeiro nacional. 

Afinal, o que esperar para os próximos meses?

Sem querer jogar água no chope, numa economia que cresceu diante um clima positivo para o cultivo da nossa produção que mescla com a alta produtividade da nossa agropecuária quanto por uma taxa de desemprego abaixo dos dois dígitos que possibilita a festa do crédito com taxas de juros ascendentes, a ressaca para o segundo semestre poderá bater à porta. 

Ainda que medidas paliativas do governo possam ajudar nosso setor de serviços ao longo dos próximos meses, como os reajustes no salário-mínimo e os rendimentos dos servidores públicos, além de outras políticas fiscais expansionistas, o preço poderá ser alto, a inflação, munindo nosso banco central na condução da sua política contracionista, mantendo a Selic no atual patamar elevado. 

O resultado: uma espiral de aumento do comprometimento da renda e da inadimplência que, ao encontrar o aumento do desemprego em curso e a desaceleração da economia mundial, poderá minar nosso otimismo quanto ao crescimento da economia brasileira ao longo do ano. 

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