A taxa de juros no Brasil deve cair hoje ao nível mais baixo da história, a 7%, mas as dúvidas quanto ao rumo da Selic em 2018 mantêm a expectativa no anúncio da decisão do Banco Central, à noite. O comunicado pode até indicar as intenções do Comitê de Política Monetária (Copom), mas novas quedas dependem de avanços da reforma da Previdência.
Assim, por mais que a reunião do Copom seja o grande evento econômico desta quarta-feira, é o noticiário político que deve continuar movimentando os mercados domésticos. Afinal, já está no preço dos ativos locais que o BC irá promover o décimo corte seguido, reduzindo o ritmo para 0,50 ponto porcentual e cravando novo piso histórico da Selic, que supera a mínima até então de 7,25% registrada no primeiro mandato do governo Dilma, entre outubro de 2012 e abril de 2013.
Por mais que hajam dúvidas quanto aos próximos passos, a autoridade monetária deve optar por não se comprometer com nenhuma ação no futuro, mantendo certo grau de liberdade. Isso porque vai se estreitando cada vez mais a janela para aprovação das novas regras da aposentadoria, ainda que em uma versão mais branda do que a proposta original.
Contudo, as últimas movimentações políticas parecem aumentar as chances de votação do novo texto da Previdência na Câmara dos Deputados ainda neste ano. A expectativa recai na reunião da Executiva Nacional do PMDB (16h) para fechar questão a favor da reforma, o que poderia estimular outros partidos aliados a fazerem o mesmo.
O governo quer que ao menos cinco partidos da base fechem questão pela reforma da Previdência, garantindo os 308 votos necessários para aprovar as novas regras da Previdência e colocando a matéria em pauta na Câmara na semana que vem. A expectativa é de que PP, PRB, PSD e PSDB sigam o exemplo do PMDB.
Juntos, esses partidos somam 219 votos. Porém, ainda que haja uma questão fechada a favor da nova Previdência é difícil imaginar todos os deputados aliados votando pela medida. Por isso, a estratégia do governo é mais radical, exigindo que aqueles que não seguirem a orientação da bancada sejam punidos até mesmo com a expulsão.
Com isso, o resultado esperado é que todos os parlamentares se unam pela aprovação da Previdência ainda neste ano. Esse desfecho, em tese, aliviaria a pressão política para as eleições de 2018, já que os que tentam a reeleição poderiam seguir filiados e não teriam de defender medidas tão impopulares durante a campanha.
Mesmo com as intensas negociações, o tempo é extremamente curto e o prazo apertado continua sendo um desafio para votar os dois turnos da proposta de emenda à Constituição (PEC) na Câmara e, depois, no Senado em 2017. O recesso legislativo começa no dia 22, mas o Congresso deve ter quórum somente até 20 de dezembro – ou antes.
Atento a isso, o presidente Michel Temer toma café da manhã com líderes da base aliada na Câmara dos Deputados (8h) para contar os votos. Depois, ele recebe o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (11h30). À noite, Temer deve reunir-se novamente com líderes partidários.
Ainda na agenda econômica do dia, destaque para o desempenho do setor automotivo no Brasil (10h50) e também para a geração de emprego no setor privado dos Estados Unidos (11h15), ambos referentes ao mês de novembro. Também são esperados números do BC sobre o fluxo cambial e sobre o preço das commodities, às 12h30.
No exterior, uma onda vendedora (selloff) provoca uma realização de lucros nos ativos que tiveram ganhos acelerados recentemente, com os investidores reavaliando o impacto do corte de impostos na economia dos EUA. O movimento é liderado por Wall Street, que segue em queda firme nesta manhã, indicando uma continuidade das perdas registradas ontem nas bolsas de Nova York.
Na Ásia, as principais bolsas da região fecharam no vermelho, com queda de mais de 1% em Tóquio e em Hong Kong. As ações de mineradoras e de empresas de tecnologia figuraram entre os destaques negativos. No Pacífico, chama atenção o crescimento levemente menor que o esperado do Produto Interno Bruto (PIB) da Austrália no terceiro trimestre deste ano, em +0,6% na comparação com os três meses anteriores.
A previsão era de alta de 0,7%. Em relação a igual período de 2016, o PIB australiano cresceu 2,8%, de +3,0% esperados. O dólar australiano reagiu em queda, com os números reduzindo as chances de um aperto dos juros no país no ano que vem. Já na comparação com os demais rivais, a moeda norte-americana está de lado, o que encurta o fôlego das commodities. O petróleo segue cotado ligeiramente abaixo de US$ 58 por barril, ao passo que os metais básicos ensaiam uma recuperação, depois do tombo da véspera.