O panorama político e econômico está, como todos sabem caótico, as brigas internas no Congresso e deste com o governo têm-se agudizado, visto que o presidente da Câmara deu andamento ao pedido de impeachment de Dilma. Soma-se ao julgamento de Eduardo Cunha na comissão de Ética. Vejo esse cenário como o possível fim de uma barganha, descarada, entre o governo e o presidente da Câmara dos Deputados, “seguro e arquivo aqui o impeachment se tu votas a meu favor na comissão de Ética”, todos tentando se segurar, ainda bem que se zangaram as “comadres”, pelo menos há uma transparência relativa sobre esses processos.
Sobre o resultado desses novos eventos, não sei dizer. Se o impeachment avança ou não e se tem sustentabilidade, se o conselho de ética vota contra o presidente da Câmara, mas pelo menos haverá uma maior clarificação das posições políticas. Com esses eventos e outros que possam deflagrar, espero e acredito que não terão influência no que é mais importante neste momento o ajuste fiscal.
O Congresso aprovou a mudança da meta fiscal de 2015 até R$ 119,9 bilhões como era esperado, incluindo as pedaladas, neste aspeto acho que foi positivo, pelo menos é mais transparente e real. Claro que se trata de um déficit elevado e demonstra a péssima situação das contas públicas. Mas essa situação já era do conhecimento do mercado há muito tempo e penso que já está incorporado.
A economia vai mal, os dados económicos são péssimos, o ajuste fiscal caminha devagar e com muita dificuldade, e estamos à espera do orçamento de 2016. Esse orçamento vai ser decisivo e o seu cumprimento fundamental, e que se traduza numa melhoria das contas públicas de confiança interna e externa.
Por enquanto, é minha convicção que não haverá o propalado downgrade por causa das contas públicas e a situação económica, o risco aumentou de fato, mas enquanto não tivermos uma maior clarificação das metas do orçamento para 2016 e do ajuste fiscal, será extemporâneo qualquer atitude de rebaixamento por parte da Moody´s e da Fitch, mas nunca se sabe, tudo pode acontecer.
Em termos de qualquer análise temos que distinguir o que compete ao governo, ao Congresso e ao BC. Tenho lido muitos artigos, mas não tenho visto qualquer referência à independência do BC. É certo que há uma “inter-relação” entre as instituições, mas a atuação do BC não depende da política diretamente. A atuação do BC é dentro das suas competências e do cumprimento das suas responsabilidades, especialmente o controlo da inflação, mas é claro que é condicionado pela situação política e econômica mais pelos seus resultados, não por diretrizes ou interferências, mas sim pelas suas consequências na economia.
Dentro das suas competências a de maior relevo é o controle da inflação, de convergir para a meta de 4,5% mais ou menos 2%.
O que se assiste agora é que para 2016 a meta não está convergindo e ficará acima de 6,5%, portanto o que BC pode fazer, como instituição independente?
Não tem muitas opções, se a situação política e a situação económica, não traz bons ventos até pelo contrário, só lhe resta atuar no câmbio e na taxa Selic, até ao limite máximo, INDEPENDENTEMENTE DOS RISCOS QUE TENHA QUE ASSUMIR.
Resta continuar a administrar o câmbio e aumentar a taxa Selic, não vejo que possa ser de outra forma, sem que haja mudanças significativas no cenário atual, nem que isso leve a um agravamento da situação económica.
O compromisso com o controlo da inflação tem que ser firme e vamos acompanhar no curto/médio prazo a validade e a eficácia desta atuação do BC. Os riscos são para ser assumidos, como qualquer investidor quando assume uma aplicação de alto risco.
“SEM DEMAGOGIA OU INTERESSES, O CONTROLE DA INFLAÇÃO TEM DE SER UMA REALIDADE, CUSTE O CUSTAR, CORRASSE OS RISCOS QUE TIVER QUE CORRER, ESSA BATALHA TEM QUE SER GANHA.”