Em semana de reunião do Copom e do Fomc é importante um olhar sobre como será a atuação de cada uma das autoridades monetárias, em universos e momentos muito distintos. No Copom, a pressão pela elevação da taxa Selic é uma realidade, sendo muitos os que criticam a manutenção nos 2% anuais. Nos EUA, o “bolsão de liquidez” que se transformou o país angustia a muitos, que já enxergam o fantasma da inflação no horizonte, além do estouro de bolhas.
Estas duas realidades, situações totalmente distintas, merecem ser analisadas.
Nos EUA, o Fed deve optar pela manutenção da taxa de juros de curto prazo, Fed Funds, em patamar baixo, o que preocupa, diante do mega pacote anunciado por Joe Biden, com o objetivo de manter a economia norte-americana “rodando”. O pacote chega a US$ 1,9 trilhão, 15% do PIB, e tem como “carro chefe” uma “bolsa” de US$ 1,4 mil a quase todos os americanos, a ser paga no final de semana, algo mais do que suficiente para evitar o desemprego.
Isso, aliás, é uma questão, pois no mercado de títulos já existem movimentos em torno de uma suposta elevação da inflação, diante deste “boom de demanda agregada”. Importante também reforçar o esforço de fechar o ciclo de vacinação de adultos até o dia 1º de maio. Com este resolvido, o retorno a um “novo normal” já passa a estar na agenda de todos os norte-americanos. “Retomemos a vida, claro que o com o devido cuidado e atenção”.
Nos mercados de T Bonds de 10 anos, as taxas já se aproximam dos 1,7%, num indicativo de que a inflação pode chegar a este patamar no médio prazo, talvez em fins de 2022. Por enquanto, isso ainda não acontece. O CPI de fevereiro ficou em 0,1%, com a taxa anualizada em 1,2%, ainda distante do centro da meta do Fed, de 2,0%.
Pela leitura do Fed, “não há problemas nesta onda de venda de treasuries”, até porque há preocupação em se descolar das movimentações do Banco Central Europeu, em ciclo de compra de títulos.
Na visão do presidente do Fed, Jerome Powell, a tese parece ser pela “política acomodatícia” dos últimos meses, com influência em leilões do Tesouro e dados moderados de inflação. Hoje temos os dados de produção industrial e varejo nos EUA, o que nos deve nos dar uma sensibilidade maior sobre este “tradeoff” entre inflação, atividade e desemprego.
Uma redução gradual dos estímulos do Fed só deve acontecer a partir de meados de setembro do ano que vem, nos treasuries e nos MBS, títulos atrelados a hipotecas.
Nos debates, Olivier Blanchard, ex-economista-chefe do FMI, acha que “haverá um superaquecimento da economia americana com estes estímulos fiscais do Pacote Biden”. Em um cenário, no qual o Fed pode ter que subir os juros em ritmo mais forte, a tendência é de mais apreciação para o dólar, o que pode ser ruim para os emergentes, que têm reagindo pouco aos juros dos Treasuries. O dólar ainda pode se apreciar por conta do diferencial de crescimento, com os EUA avançando mais que outras grandes economias, o que também afetaria os emergentes. Aguardemos nesta quarta-feira, a entrevista de Jerome Powell, depois do Fomc, para reunirmos mais elementos.
É neste cenário de real pressionado (ou desvalorizado), pelas ações do Fed e o ambiente doméstico muito “tóxico”, que o Banco Central brasileiro deve deliberar sobre a taxa de juros nesta quarta-feira. Neste caso, já parece haver “precificação” por uma taxa elevada em 0,5 ponto percentual, a 2,5%, já que muitos a consideram “atrás da curva” (a de 2,0%).
E esta decisão do BACEN acontece num momento que a inflação ameaça sair do controle, dado o câmbio muito depreciado, o “pico das commodities” e os movimentos oportunistas de sempre, num cenário de crise e açodamento político. Em fevereiro, o maior pico do IPCA (0,83%) veio da gasolina e dos alimentos, taxa que deve se repetir em março. Na pesquisa Focus, assustou o IPCA deste ano, de 3,98% para 4,60%.
O que nos diferencia, em especial, em relação aos EUA, além da inflação muito mais pressionada, é estarmos atrás não só na “curva no juro”, mas também nas vacinações, totalmente atrasadas. E aqui caímos na “vala comum do populismo”, pois se o País tivesse se organizado, planejado esta fase de vacinação, talvez estivéssemos debatendo políticas de estímulo da economia e não de sobrevivência.
Talvez um “pacote Guedes” estivesse no prélo para empurrar a economia pós-Covid para frente. Infelizmente não é isso que acontece. Continuaremos gerenciando o “desespero” das pessoas, a necessidade, ou não, de lockdown, o recorde diário de mortes, pois chegamos ao “fundo do poço”, sem vacinação e muita polarização política.
O que temos no momento é o Pacote Emergencial, com prazo de validade e usado para atravessar quatro meses ou mais. O auxílio emergencial, a ser dado, no limite, até R$ 44 bilhões, será dividido em três parcelas para a população. Será de R$ 150 para a maioria, cerca de 20 milhões de brasileiros, em famílias unipessoal, R$ 250 irão para os 16,7 milhões com famílias mais numerosas e R$ 375 para aqueles onde as mulheres são as mantenedoras. No total, serão 46 milhões de brasileiros agraciados.
Sobre o “ciclo de vacinação”, o ministro de saída, general Pazuello, anunciou 562 milhões de doses, já encomendadas para este ano. Agora assume o quarto ministro, o médico Marcelo Queiroga, e esperamos que consiga reordenar esta pasta, abrindo diálogo com os governadores e prefeitos e aceitando o que se recomenda o bom senso e o protocolo no mundo, lockdown quando necessário, isolamento social, máscara e muito álcool gel.
Agenda Semanal
Atenção para os dados do Caged de janeiro. Em dezembro, estes recuaram, em janeiro devem avançar para 179 novas vagas.
BALANÇOS – Gafisa (SA:GFSA3), NotreDame Intermédica (SA:GNDI3) e D1000 (SA:DMVF3) vêm após o fechamento. Fazem teleconferências: Direcional (SA:DIRR3), Mitre (SA:MTRE3), Positivo (SA:POSI3), Hidrovias do Brasil (SA:HBSA3) e JSL (SA:SIMH3). Eletrobras (SA:ELET3), que divulgaria resultado ontem à noite, adiou para 6ªF.
Bons negócios e boa semana a todos!