Complicado mesmo o cenário para a taxa de câmbio no Brasil. Porque, veja bem, um dia está ótimo para investir no Brasil devido ao diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos, comunicado do Federal Reserve (Fed) dovish e real valorizado e lá se foi dólar para baixo, sentimento de otimismo nos mercados.
No dia seguinte ainda um pouco mais de entusiasmo com a perspectiva de aumento da taxa Selic em 1 ponto (que já esta sendo dito há vários dias) e mais valorização para o real com fundamento no carry trade. Daí chega à sexta feira, último dia útil do mês (dia de ptax) e puxou dólar para cima em um movimento nítido dos comprados (isso já é de praxe ocorrer em dia de Ptax). Dólar para cima, aversão a risco, tensões políticas, China pressionando o minério de ferro e mercado culpando a variante delta.
Espera aí né? Por acaso alguém tinha acabado com a variante delta e as tensões na política na quarta e quinta da semana passada e ela voltou com tudo na sexta? Pois é investidor, mercado de câmbio oscila com diversas variáveis nacionais e internacionais, movimentos especulativos e, por mais que os fundamentos digam que o dólar deve cair e o real se valorizar, isso não ocorre na dimensão que poderia ser devido a movimentos especulativos, tensões políticas e temores em geral com reaberturas das economias mundo a fora.
Agora vamos aos fatos: as apostas estão mesmo em subida de um ponto para a taxa Selic nesta semana, além da inflação, os riscos fiscais voltam ao radar. O Bolsa Família de R$ 300,00 acende o alerta. Lira quer votar a reforma tributária nesta semana, volatilidade à vista para o câmbio com a continuidade desta novela que muda a cada dia.
A taxa de desemprego caiu ligeiramente e ficou em 14,6% no trimestre móvel encerrado em maio de 2021. Isso corresponde a 14,8 milhões de pessoas buscando um trabalho no país. Essa taxa é a segunda maior da série histórica, iniciada em 2012 pelo IBGE. A taxa recorde (14,7%) foi registrada nos dois trimestres imediatamente anteriores, fechados em março e abril. Setor público consolidado tem déficit primário de R$65,5 bi em junho, acima do esperado.
Os gastos do consumidor nos Estados Unidos aumentaram mais do que o esperado em junho, com as vacinações contra a Covid-19 impulsionando a demanda por serviços relacionados a viagens e recreação, mas parte do crescimento refletiu preços mais altos, com a inflação anual acelerando ainda mais acima da meta de 2% do Federal Reserve.
A economia da Zona do Euro cresceu mais rápido do que o esperado no segundo trimestre, saindo da recessão provocada pela pandemia conforme as medidas para conter o vírus são relaxadas, enquanto a inflação superou em julho a meta de 2% do Banco Central Europeu.
O que preocupa no médio prazo é a diferença entre a velocidade de recuperação das economias Americana e Chinesa comparada com as economias emergentes e com vacinação mais morosa.
O dólar vai valorizar ainda mais quando os EUA sinalizarem que chegou à hora do tapering (neste final de mês o presidente do Fed, Jerome Powell na Conferência de Jackson Hole pode sinalizar quando isso ocorrerá), daí sim esvazia o apelo dos estrangeiros pelos mercados emergentes. Além, é lógico, dos ruídos políticos por aqui. Os impasses na reforma tributária também afastam estrangeiros. As pressões inflacionárias também colocam força na aversão a risco por aqui. Já na outra mão, o aumento da Selic puxa a valorização do real. Veremos no dia a dia quem vence o cabo de guerra das notícias e impacta mais no câmbio. Na sexta-feira o mercado puxou o dólar para cima muito mais do que o esperado. A variante Delta foi detectada em 132 países e é o motivo de pânico pelo mundo.
Calendário desta segunda-feira temos por aqui boletim Focus e balança comercial de julho, nos EUA e na zona do euro saem PMI industrial de julho.
Segue o câmbio volátil para mais uma semana desafiadora.