As perspectivas contendo incertezas e muitas dúvidas face ao “corner” em que o governo está envolvido, qual seja, tem necessidade de manter programas assistenciais à população carente, que na realidade foram os grandes fomentadores de recursos para o consumo ao longo dos últimos 7 ou 8 meses de convívio com a pandemia do coronavírus, e o quase impedimento de continuidade face ao agravamento da crise fiscal que faz presente a possibilidade de rompimento do teto orçamentário, sustentam o viés de alta da moeda americana no nosso mercado.
Esta intranquilidade presente e a falta de opções estratégicas que não envolvam compensações com restrições de outros benefícios presentes na economia para poder atender a premente necessidade de continuidade dos programas, afeta as perspectivas mais imediatas e, por que não, as de médio e longo prazo, de recuperação da atividade econômica, embora seja perceptível que há uma “caixa de ressonância” direcionada a propagar o otimismo.
Então o que se observa é pressão sobre o juro, o que dificulta a rolagem da Dívida Pública por parte do governo afetando os custos dos diversos instrumentos que utiliza para tal, impondo relevante mudança do perfil temporal da dívida pelo encurtamento de prazos, e há falta de papéis outros que expressem reserva de valor para a postura defensiva dos investidores, e como consequência, restam a alternativa do dólar, nas suas várias possibilidades de acesso no mercado financeiro nacional e até exterior, para os investidores mais elitizados e empresas, afora o hedge tradicional, e o mercado imobiliário que convive com um “boom”, visto ser no momento a “nova poupança” defensiva da classe média.
O dólar então mantém o preço tóxico no nosso mercado de câmbio com um viés latente de alta, por vezes não bem percebido, tendo em vista que o dólar sofre depreciação no mercado externo face as expectativas no entorno de novo programa americano de recursos focando impulsionar a atividade econômica americana deprimida com a crise do coronavírus.
A moeda americana tem mantido preço resistente no nosso mercado, em torno de R$ 5,60, mas está com viés muito mais tendente a R$ 6,00 do que a R$ 5,30, basta o fator antagônico à pressão interna arrefecer no exterior deixando de deprimir o dólar no mercado internacional.
E este fato contamina toda a cadeia produtiva brasileira, em especial a de produtos alimentícios onde as altas são soberbas como “finalmente” captadas pelo IPCA-15 como óleo de soja com alta de 65,1%, afora feijão, arroz, carne, tomate, etc... e que repercutiu com modestos 0,94%, mas mesmo assim a maior taxa para o mês de outubro em 25 anos.
Evidentemente, a percepção popular é de inflação muito mais intensa e avassaladora na renda dos trabalhadores, sendo crescente a desconfiança de prática de “matemágica” na apuração final do que se considera inflação, miscigenando um complexo rol de outros itens não tão relevantes ou não relevantes para atenuar a expressividade objetiva do processo inflacionário já instalado no país.
A dicotomia entre IGP-M e IPCA pela expressividade deixa latente este fato.
O desemprego, embora se propague a recuperação gradual do emprego, enuncia recorde em setembro com 13,5 milhões de desempregados, algo como 3,4 milhões a mais do que em maio, equivalente a aumento de 33,1%. A taxa de desemprego no país data base setembro é de 14%.
O desalento é crescente na busca de novas oportunidades no mercado de trabalho.
Os shoppings e o comércio em geral ainda evidenciam aumento de lojas vagas e a retomada é lenta, e, ainda assim, há organismos que minimizam os impactos que poderão advir efetivamente com a redução dos programas assistenciais às classes menos favorecidas, o que sinaliza percepção pouco assertiva.
Enfim, poderíamos ficar aqui enumerando uma enormidade de itens entre os quais a percepção do fato concreto apresenta dicotomia com o fato anunciado.
Então, a síntese é efetivamente: “NEM TUDO QUE SE OUVE E SE LÊ É O QUE SE VÊ!”, por isso a postura defensiva efetiva e até psicológica impacta no preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio, sustentando o viés de alta, e leva o mercado imobiliário a um novo “boom” com moradias de todos os tamanhos e preços.
O país não tem riscos na questão cambial visto dispor de consistentes reservas cambiais e sofisticados mecanismos que permitem o BC suprir o mercado caso ocorra demanda legítima, razão pela qual o CDS se situa no entorno de 210 pontos e poderia ser até mais baixo, pois o BRASIL é credor líquido em moeda estrangeira, mas a questão fiscal e o fraco desempenho da economia impõem posturas defensivas e, como porto seguro, o preço do dólar sofre pressão.