A recente apreciação do real contra o dólar tem gerado especulações sobre até qual patamar a divisa norte-americana. Há um limite claro para a apreciação do real, mas não há nenhuma surpresa com isso, como argumentei no cenário macroeconômico no início do ano este movimento era esperado.
Antes de falar dos motivos que apontam o limite de valorização do real, examinemos os motivos que governam a apreciação.
- Por mais contraditório que possa parecer, o real se aprecia na perspectiva que o juros vão cair por aqui. Se a tendência é de juros em queda, isso fortalece a bolsa via DCF e assim o ativo referência do país, o real, ganha força.
- O movimento acima só acontece porque estando o Ibovespa“barato”, o efeito nos ativos locais de uma queda (ou da expectativa de queda) dos juros mais que compensam no quadro geral uma diminuição do diferencial entre os juros domésticos e externos.
- Se no início do ano a perspectiva era juros mais altos nos EUA, o que fortaleceria o dólar, agora, a crise bancária que aconteceu após a quebra do SVB (OTC:SIVBQ) fez o trabalho sujo, por assim dizer, de uma alta de juros por lá, como o próprio FED argumentou.
Neste ponto, estes fatores se retroalimentam. Apesar dos ruídos no início do ano entre Planalto e BCB, era claro que mesmo assim haveria corte de juros este ano. Uma vez diminuída a tensão entre os dois pela atuação do Ministério da Fazenda e com a apresentação do Arcabouço Fiscal, isso sem contar um IPCA que foi “limpado” de pressões de médio prazo (me refiro a reoneração em parte da gasolina e da reinserção da tarifas de distribuição e transmissão no ICMS da energia elétrica), a perspectiva de corte de juros se torna mais clara fazendo bolsa subir e dólar cair.
Com o dólar em queda, por sua vez, a perspectiva de uma inflação menor se materializa ainda mais, fazendo juros caírem e bolsa subir, o que, por sua vez…
Em termos gráficos, temos a pista para saber o limite desta queda do dólar. Simplesmente não há resistência visível para a moeda norte americana até atingir por volta de R$ 4,80, mas é aqui que temos que prestar atenção.
Uma coisa é a bolsa subir na perspectiva da queda dos juros, outra é quando de fato estes juros caírem. Mantenho a projeção de corte da Selic se iniciando em junho, como argumentei no início do ano, e de taxa terminal em 2023 em 12,5%. Quando a taxa começar a de fato cair, o dólar já terá se corrigido e, assim, muitos voltarão a argumentar que a queda dos juros enfraquece a moeda local.
Dito isso, vejo espaço para o dólar voltar a ganhar alguma força ao longo do segundo semestre, chegando ao fim do ano em R$ 5,00 mais uma vez.