O recesso no Congresso Nacional e a agenda doméstica tranquila nos próximos dias deveriam deixar o dólar mais baixo e estável, mas o foco da taxa de câmbio agora é no exterior começando a semana sob intensa pressão decorrente de novos saltos de casos de Covid-19 devido a variante delta em alguns países, o que fez com que as moedas e outros ativos de risco caíam em meio a temores econômicos. O dólar chegou a R$ 5,2585 com esse ruído.
A incerteza de curto prazo em torno do crescimento global e das perspectivas da política monetária torna o real ativo de risco e o dólar mais atrativo.
A preocupação interna agora é a inflação de serviços. O câmbio segue mais apreciado e observem também a desaceleração dos preços das commodities, que servem como contraponto aos choques da inflação. O Banco Central (BC) monitora a evolução dos preços de perto para decidir se leva a taxa Selic para 6,5% ou mais até o final do ano, ou se a inflação não exige tanto.
Sobre a reforma tributária, existe possibilidade de novas mudanças nos dividendos, tanto rever a faixa de isenção quando isentar a taxação para empresas coligadas e inclusive dar progressividade. O problema é a veiculação do novo Bolsa Família com a taxação de dividendos. Já ouvi falar inclusive na hipótese de postergar a cobrança de dividendos para 2023 e manter a faixa de isenção em R$ 20 mil.
A grande questão é a como compensar a queda de receita. Em uma reunião/almoço de Guedes com empresários, o ministro falou em conversar mais com o setor privado e criar uma comissão composta por empresários e tributaristas para sugestões na mudança de texto da reforma. Ele se comprometeu a compensar o imposto sobre lucros e dividendos com a redução do IRPJ. Conforme tenho escrito, se essa taxação de dividendos for mais baixa teremos um alivio para o câmbio, do contrario será dólar para cima. Mas esse não será o único fator a interferir na taxa de cambio e, até o recesso parlamentar terminar, esse não será o foco para o câmbio.
No Boletim Focus de ontem, a projeção para a inflação em 2021 se distanciou ainda mais do teto da meta perseguida pela autoridade monetária (5,25% ao ano). Os economistas do mercado financeiro alteraram a previsão para o IPCA este ano de alta de 6,11% para 6,31%. Há um mês, estava em 5,90%. Na esteira dos dados mais recentes de inflação, os economistas também alteraram suas projeções para a Selic no fim de 2021, de 6,63% para 6,75% ao ano (mediana). Há um mês, estava em 6,50%.
Ontem foi divulgada também a balança comercial brasileira, que registrou superávit comercial de US$ 2,036 bilhões na terceira semana de julho.
Na agenda da semana, o que pode impactar na taxa de cambio é a reunião do Banco Central Europeu na quinta-feira. E continuamos monitorando sinais de antecipação do tapering nos EUA, que é decisivo para o fluxo dos emergentes.