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Dólar: Será Que a Percepção em Relação ao Brasil Só Piora?

Publicado 20.08.2021, 07:55
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Parece que sim. Além de todos os fatores que assolam o mundo, como a variante delta do coronavírus, inflação e Taleban, aqui ainda têm risco fiscal e estresse entre o Executivo e o STF.

Mercado já abriu ontem rompendo os R$ 5,40 desta vez, ficando cada vez mais distante dos tão falado R$ 5,00, que seria número se fosse apenas o diferencial da taxa de juros lá fora e aqui, o famoso carry trade. Mas aqui é Brasil minha gente, e em se tratando de nosso país a política tem um peso muito grande no dólar. A alta do dólar não se justifica apenas pela política, que a meu ver é a “cereja do bolo”, o que esta pressionando mesmo o câmbio é a ata do Fed neste momento e não só aqui.

O real é a divisa emergente que mais sofre nos últimos tempos, além da mais volátil, como já comentei em artigos anteriores. A Eurasia rebaixou a perspectiva do Brasil, de neutra para negativa, dado o front fiscal e as tensões institucionais e inflação persistente que impactam na retomada e principalmente para o ano que vem, ano de eleição.

Logo cedo, o número de pedidos de seguro-desemprego nos EUA que veio em queda pela quarta semana consecutiva. Esse número demonstra que há um progresso substancial em direção às metas de emprego do Federal Reserve (Fed) e que o momento da retirada de estímulos na economia americana pode ter chegado mesmo ao fim, assim como veio na ata do Fed de quarta-feira. Após esses dados, o mercado segurou acima dos R$ 5,40.

A perspectiva de uma redução antecipada das compras de ativos pelo Fed (quanto mais cedo, pior para nós) desencadeou uma forte reprecificação do risco em todo o mundo. Imaginem então por aqui, onde o risco de um calote na dívida é cada vez maior devido à reforma tributária, novo Bolsa Família, crise hídrica, parcelamento de precatórios e, por que não dizer, as tensões políticas.

Sobre a reforma do IR, segue na gaveta e só deve ser retomada em duas semanas. A taxação de dividendos está no radar. Sem isso, não haverá recursos para o Auxilio Brasil, novo programa social do governo federal que substituirá o Bolsa Família. A economia sente o efeito do cenário eleitoral e os indicadores pioram. O investidor, que estava iludido com o alivio temporário que a inflação deu as contas públicas, agora teme pelos riscos fiscais contratados e esvazia a bolsa e corre para o dólar (ativo buscado em momento de crise) e faz explodir a curva de juros.

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse ontem que ruídos envolvendo questões domésticas têm afetado as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto para 2022 e também as expectativas de inflação, processo que, segundo ele frisou, está sendo acompanhado de perto pela autoridade monetária. ”É muito importante enfatizar que o Banco Central vai fazer o que for necessário para atingir a meta. Achamos que, com os instrumentos que nós temos, podemos fazer o trabalho e estamos comunicando ao mercado, dando mais transparência sobre como usamos nossas ferramentas".

O ministro da Economia Paulo Guedes ontem falou que o aumento de precatórios em 2022, para quase R$ 90 bilhões, pode “parar Brasília" se as regras vigentes, como a Lei de Responsabilidade Fiscal e o teto de gastos, não forem alteradas. Com o aumento de precatórios, acrescentou Guedes, o governo pode ter de enviar um orçamento, em 2022, "faltando dinheiro para tudo mais, inclusive para salários. Segundo informou o Ministério da Economia, o objetivo do governo com o parcelamento dos precatórios é abrir um espaço de R$ 33,5 bilhões no teto de gastos e conseguir, assim, direcionar esses recursos para o novo programa social.

O índice do dólar, que acompanha o dólar em relação a uma cesta de seis moedas do mercado desenvolvido, subiu para seu maior patamar desde novembro.

O que não falta é incerteza, além da retirada de estímulos do Fed, a PEC dos precatórios, a saga da reforma do I.R., a inflação alta exigindo cada vez mais força do Copom, e as tensões políticas só fazem um cenário mais turbulento para a economia.

Pode até ser que em algum momento o BC decida intervir no câmbio para tentar conter a volatilidade que domina o mercado. Ontem, o mercado oscilou de R$ 5,3801 a R$ 5,4551.

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