Após dados do mercado de trabalho nos EUA que foram divulgados na sexta-feira e saíram abaixo do esperado, uma vez que a variante delta do coronavírus está ameaçando a recuperação da economia, agora o foco fica em quando será o tapering. Para nós, emergentes, melhor que isso demore e por consequência demorará também o aumento dos juros por lá. Desta forma, continua sendo atrativo investir em países cujos juros são mais altos, mas ao mesmo tem riscos maiores. Para entender melhor, no último Simpósio de Jackson Hole, o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, informou em discurso que o desenvolvimento do mercado de trabalho para níveis pré-pandêmicos seria um indicador para o momento adequado para a retirada das compras mensais de títulos públicos e hipotecários de US$ 120 bilhões, embora a elevação da inflação segue preocupando. Powell sinalizou que o tapering poderá iniciar esse ano.
Para variar, não há consenso entre os membros do Fed e nem entre seus ex-membros. Na quinta-feira da semana passada, por exemplo, o ex-membro do banco central, Dennis Lockhart, disse que o Fed deve anunciar a redução gradual de suas compras de ativos em novembro e iniciar o processo um mês depois, esperar até novembro dará às autoridades mais dados sobre a recuperação do mercado de trabalho e o crescimento econômico. Mas ele alertou que os dois próximos meses particularmente ruins podem adiar esse cronograma.
Ao mesmo tempo em que os custos dos empréstimos permanecem baixos na maior economia do mundo, o Banco Central do Brasil tem elevado intensamente a taxa Selic, com os mercados na expectativa de que chegue a patamar neutro até o final deste ano. Nesse contexto, o real está aproveitando fluxos de entrada.
Por aqui, a demanda maior ditou o ritmo mais forte de atividade em nove anos e meio no setor de serviços do Brasil em agosto, sustentando a criação de empregos, o PMI de serviços para o Brasil subiu a 55,1 em agosto comparado com 54,4 de julho, nível mais elevado desde fevereiro de 2012, indo mais acima da leitura de 50, que separa crescimento de contração. A demanda se fortaleceu em agosto diante do maior acesso a vacinas. Mas, os fornecedores de serviços enfrentaram outro aumento nos custos de insumos, com destaque para os preços de alimentos, combustível, equipamentos de proteção individual, itens de higiene, transporte e serviços públicos. Isso levou a taxa de inflação geral ao maior patamar em quatro meses. Apesar do crescimento mais forte da atividade de serviços, o PMI de indústria do Brasil perdeu força em agosto e arrastou junto à recuperação do setor privado brasileiro como um todo, com o PMI Composto em queda a 54,6, de 55,2 em julho.
Quanto mais o 7 de setembro se aproxima, mais as tensões políticas se agravam. O presidente afirmou na sexta-feira passada que as manifestações serão um ultimato aos ministros do STF. A Justiça autorizou a realização de um protesto contra o governo federal no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, no mesmo dia da manifestação pró-Bolsonaro na Avenida Paulista. A participação de PMs nos atos em várias capitais do país é uma preocupação adicional.
Investidores também continuam monitorando o andamento da segunda fase da reforma tributária, que agora será apreciada pelo Senado, onde muitos agentes financeiros avaliam que o texto encontrará resistência, adicionando ainda mais incertezas. Os Estados vão trabalhar para derrubar no Senado a alteração da reforma do Imposto de Renda. O Comitê Nacional dos Secretários de Fazenda dos Estados e do DF (Consefaz) estima que governadores e prefeitos tenham uma perda de 19,3 bilhões de reais em arrecadação com a reforma aprovada na Câmara dos Deputados, impactados principalmente pela redução da alíquota para dividendos a 15%%. Segundo os cálculos, os Estados amargariam perda anual de 9,9 bilhões de reais e os municípios, de 9,3 bilhões de reais. Já para a União o impacto fiscal da reforma seria negativo em 22,1 bilhões de reais.
Hoje feriado nos EUA - Dia do Trabalho - e amanhã feriado no Brasil, Dia da Independência.