A suposição inicial é de que houve incremento no fluxo cambial, mas esta não é opção única para a persistência da depreciação do dólar ante o real, normalmente a justificativa leiga para justificar movimento nesta direção, quando as demais moedas fortes e emergentes revelam comportamentos antagônicos ao do real.
Contudo, pode decorrer de movimento orquestrado pelos bancos que têm em perspectiva liquidar ao longo do mês operações de “overhedge” da ordem de US$ 16,0 Bi, e, o preço da moeda americana fragilizada é benéfica, assim como eventual efeito da ação do BC atuando com oferta adicional diária de contratos novos de swaps cambiais ou mesmo operação desmonte de posições no mercado de câmbio futuro.
Ainda, a antevisão de que o real ganhe algum impulso próprio com o andamento das reformas, que agora podem ser destravadas, visto que Maia não terá continuidade na Presidência da Câmara, e era um dos fatores que represavam o dinamismo das avaliações e aprovações de uma enormidade de proposituras em poder da Câmara Federal.
Porém, é preciso considerar que com a “marcação a mercado” que o BC realiza das reservas cambiais com a qual dá suporte às transferências de lucros para o TN, a persistir este movimento até o final do mês, reverterá um bom volume do que foi transferido e assim poderá impactar no aumento da Dívida Pública, pois a emissão de novos títulos é a forma de o TN restituir o prejuízo ao BC, e não a restituição dos valores monetários apropriados como lucro.
Enfim, dezembro é o mês que sugere inúmeros ajustes num ano conturbado.
Contudo, é imperativo que se tenha em mente que o ambiente predominante na política monetária e na própria política não emana fundamentos concretos para dar sustentabilidade à precoce depreciação do dólar frente ao real, ainda mais quando este movimento se opõe ao predominante no mercado de moedas no cenário global.
Já se espera um 4º T com desempenho inferior ao 3º T e há muitas questões fundamentais para o país que dependem de melhor e maior protagonismo do governo e apoio do Congresso, sendo necessários uma coesão e foco conjunto nas necessidades prementes do país no quesito das reformas e tantos outros assuntos que ficaram represados no Congresso Nacional, mas que tiveram baixa articulação de parte do governo.
O PIB deste ano tende a revelar queda de 5%, mas as auspiciosas projeções para 2021 começam a ter colocações mais reticentes, já que a situação fiscal e o desemprego no país não parecem ter solução fácil e nem no curto prazo.
"O ressurgimento coronavírus, o endurecimento das medidas de distanciamento social e/ou manobras de política que minem a confiança do mercado na trajetória fiscal futura são riscos adicionais de queda (à taxa de crescimento do PIB)", disse a Fitch em nota, que também não nutre expectativas tão enfáticas para o Brasil em 2021.
Ainda há como fato comprometedor, sem que se tenha ainda a correta dimensão da importância, o término dos programas assistenciais do governo, que transformaram em consumidores não consumidores e que podem gerar problemas de inadimplência.
A inflação que vinha sendo “menosprezada” em suas evidentes tendências, por fim, tem se revelado aquecida e isto ocorre num ambiente em que aponta para 4,5% este ano, em que termos IGP-M de quase 25% (sic), e o juro oficial do país é 2%.
Com este cenário a grande beneficiária deveria ser a Bovespa, quase única trajetória possível para os recursos que estavam na renda fixa, mas ainda assim não demonstrou o ímpeto altista que se poderia esperar, e, se agora se revela em alta é em razão da troca de portfólios que voltam a priorizar as blue chips em detrimento dos papéis de e-commerce, maiores beneficiários diretos dos programas assistenciais do governo que injetaram R$ 250,0 Bi na economia.
Agora revela viés de alta face ao retorno ainda discreto de investidores estrangeiros, mas muito focados nas blue chips e pode perder ímpeto ao perceber que o Brasil possa ter que enfrentar novos desafios na área sanitária e no controle do teto orçamentário.
Se houver um movimento que induza o refluxo dos ingressos recentes, os impactos podem ser mais rápidos do que quando ocorreram os fluxos.
Já há “nuvens” conflitando os interesses sino-americanos e isto pode causar algum estresse que não estava sendo computado nas perspectivas do novo governo americano de Joe Biden, sinalizando que, embora menos conflituoso e mais assertivo o relacionamento, há questões em que as duas potenciais tem antagonismos fortes.
A cena global, a despeito das vacinas já serem possibilidade real, ainda apresenta dados que agravam a pandemia do coronavírus em sua 2ª ou 3ª replicagem, e isto naturalmente impacta no ritmo das atividades econômicas de cada país na medida em que o fato ocorre.
Não parece razoável que se permita que a emoção de um momento ou mesmo o anseio latente em todos nós neutralize as evidências que indicam que a razão ainda não dá conformidade a todo o ambiente que se procura construir, baseado num desempenho de balança comercial, quando se importa muito menos, ou na alta da Bovespa porque ocorre uma mudança de portfólio relevante, mas que tem sustentabilidade limitada pela exiguidade do número de blue chips no nosso mercado acionário.
O BC/COPOM e o Ministério da Fazenda precisarão alterar o “forward guidance” compatibilizando-o mais refinadamente com as efetivas perspectivas e não com os anseios de como gostariam que fosse e assim devem promover algumas mudanças na política monetária, e, precisarão muita sensatez para não romper os tetos orçamentários e nem apelarem para soluções fáceis, que normalmente conflitam com a necessidade do país de retomar a dinâmica do crescimento.
O cenário político envolvendo as sucessões nas presidências da CÂMARA E SENADO não sugere ambiente pacifico, embora ocorra um “falso” ambiente de conformidade com a negativa do STF em autorizar as reeleições planejadas. E isto, pode consumir pelo menos os 2 próximos meses em debates e “picuinhas” entre os opositores.
Enfim, é preciso absoluta sensatez na observação com extrema acurácia sobre a cena brasileira, pois não se podem descartar mudanças de humores intempestivas.