Em dia de Ptax, o dólar sempre sobe, e ontem não foi diferente. Após as 14 horas caiu um pouco, mas ainda está pressionado por alguns fatores. Na CPI da covid, a propina nas vacinas, com denúncia nova que derrubou aliado do líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), no Ministério da Saúde, variante Delta assustando e preocupando quanto à recuperação das economias pelo mundo. Essa variante, identificada na Índia, tem adicionado hedge pelo dólar.
Para atrapalhar mais e ajudar a incrementar a inflação, temos o aumento de 52% na bandeira vermelha 2 da conta de luz, mas não será suficiente para cobrir os custos das termelétricas que serão adicionadas para garantir o abastecimento do país. O impacto inflacionário deste aumento será em torno de 0,23 ponto percentual no IPCA deste ano.
Na reforma tributária, o ministro da Economia Paulo Guedes tentou acalmar o empresariado propondo reduzir o IRPJ de 25% para 20% de uma só vez em 2022 ao invés de em duas etapas para 22,5% no ano que vem e 20% em 2023. Mas não vai apaziguar uma vez que os 5 pontos percentuais de redução do IRPJ não compensa a taxação de 20% nos lucros e dividendos.
Para aliviar a pressão, tivemos a primeira emissão soberana do Tesouro, que confirma o Brasil na rota do fluxo estrangeiro. No total foram US $ 2,25 bilhões em títulos no exterior. O sucesso do Tesouro na investida ao mercado externo ajuda o dólar a cair, mas as pressões dos comprados na briga da Ptax falam mais alto e a moeda americana fica mesmo mais alta. Chegou ontem a romper os R$ 5,00 e, no momento mais alto, bater em R$ 5,0245. Mas não se sustentou.
Mesmo com o tapering no horizonte, continuo dizendo que o Brasil é um dos alvos favoritos para o investidor em busca de rendimentos maiores. O tesouro captou US$ 1,5 bilhões em bounds de 10 anos e US$ 750 milhões com a reabertura de títulos de 30 anos, aproveitando a janela de otimismo com a melhora recente dos indicadores da economia doméstica.
O fluxo positivo vai pressionar o dólar para baixo. Ontem, saiu fluxo cambial estrangeiro no Brasil: 2,608 bilhões, que é maior do que a prévia e, portanto, positivo para o real. A taxa Selic em agosto, seja de aumento de 0,75 ponto percentual ou de 100 pontos-base, ainda continuará atraindo investimento para cá. Essa alta do dólar me parece pontual devido aos fatos citados do primeiro parágrafo, além é claro da Ptax de ontem.
Para os EUA, amanhã teremos payroll e os mercados operam em compasso de espera por esse dado. Alguns membros do Federal Reserve defendem a redução gradual nas compras de bônus (tapering) se houver um progresso significativo do mercado de trabalho nos EUA.
Dados que saíram ontem foram IPC de junho (1,9%) e anual (0,9%) na zona do euro. No Brasil, IPP (índice de preço ao produtor) de maio que veio 1% ante 1,89% do período anterior e a Ptax que veio em R$ 5,0016. Nos EUA, variação de empregos privados que veio 692 mil, acima da projeção de 600 mil do mercado. PMI de Chicago veio abaixo da projeção de 70, fechou em 66,1, ficando abaixo dos 75,2 prévio. Vendas pendentes de moradia mensal por lá veio acima do esperado, em 8%, ante -4,4% prévio. Estoque de petróleo bruto também caiu mais do que o esperado em – 6,718 milhões de barris.
E hoje na agenda teremos na zona do euro PMI industrial de junho e taxa de desemprego de maio. Nos EUA, pedidos iniciais de seguro desemprego, e PMI industrial de junho. Por aqui, índice de evolução de emprego do CAGED.
Seguimos observando o comportamento do dólar, mas deveria estar abaixo do que está. A questão é se a pandemia e a política vão deixar.