O mercado espera que os países desenvolvidos reduzam as taxas de juro em 2024, com o Federal Reserve (Fed) e o Banco Central Europeu (BCE) sinalizando cortes nas taxas.
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Porém, a disparidade econômica entre os EUA e a Europa indica uma possível ação mais ousada do BCE. Apesar de os agentes de mercado anteciparem cerca de três cortes nas taxas de ambos os bancos centrais no primeiro semestre do ano, as situações econômicas divergentes mostram uma realidade distinta.
"Um cenário de desaceleração global, inflação em baixa e enfraquecimento do mercado de trabalho abriria espaço para cortes nas taxas pelos principais bancos centrais em 2024", afirmou Dean Turner, economista-chefe para a zona do euro e o Reino Unido na UBS Global Wealth Management.
Volatilidade marcou 2023
No fim de 2022, os estrategistas de câmbio projetavam principalmente menos tendências e mais volatilidade para este ano. Na prática, o primeiro semestre do ano não teve direções claras, enquanto o segundo semestre presenciou uma forte e consistente valorização do dólar americano.
Esse rali do dólar foi apoiado pelo desempenho excepcional da economia dos EUA, que registrou uma surpreendente taxa de crescimento anualizada trimestral de 4,9% no 3º tri.
Mesmo com uma queda na inflação básica, o Fed manteve uma postura mais rígida, devido à falta de evidências para uma mudança.
Assim, manter dólares se tornou uma operação aparentemente simples, refletindo a reação dos investidores à desaceleração global da demanda agregada, que afetou especialmente as economias e moedas mais abertas da Europa e da Ásia.
O dólar, entretanto, recuou fortemente em outubro depois que o Fed sinalizou que provavelmente encerrou o ciclo de alta das taxas. A virada “dovish” (acomodatícia) foi confirmada na reunião de dezembro, o que provocou outro rali vigoroso nos ativos de risco.
Dessa forma, o foco dos investidores se voltou para cortes, o que fez com que as taxas dos títulos públicos caíssem drasticamente, empurrando o dólar para baixo também e permitindo que as ações realizassem um grande rali. O euro ganhou mais de 5% em relação ao dólar americano nos últimos três meses de 2023.
"Com a economia mundial em baixa, a inflação fraca e o desemprego alto, os principais bancos centrais devem baixar os juros no ano que vem", afirma Chris Turner, diretor-chefe global de mercados e pesquisas do ING para o Reino Unido e a Europa Central e Oriental.
Ele acredita que o fim da vantagem dos EUA sobre a Europa vai incentivar os investidores a diversificar seus portfólios e buscar mais rentabilidade fora do dólar.
"Prevemos que o dólar vai perder força ao longo de 2024. Em relação ao fim deste ano, as moedas podem se valorizar de 2% (o renminbi chinês) a 13% (as moedas escandinavas) contra o dólar."
O EUR/USD deve encerrar 2023 em torno de 1.11, o que representa uma alta de cerca de 4% no ano.
Surpresa à vista?
Os dados de atividade mostram que a Europa está em contração e desaceleração, enquanto os EUA ainda crescem, mesmo com a inflação baixa. Isso dá ao Fed mais margem para cortar os juros quando quiser, sem perder o controle da inflação. Já o BCE pode ter que ser mais estimulativo para evitar a estagnação econômica, podendo cortar os juros já no início de 2024.
Isso pode afetar o dólar de forma negativa. O mercado já espera que o Fed corte os juros sete vezes no ano que vem, mais do que as três vezes que o próprio Fed sinaliza. Muitos analistas de câmbio apostam que o dólar vai cair abaixo de 1.10 em relação ao euro.
"Esperamos que o EUR/USD fique mais baixo nos próximos 6 a 12 meses, por causa da diferença no comércio, no crescimento e nos custos de trabalho entre as duas regiões", disseram os especialistas do Danske Bank.
Mas se o BCE for mais agressivo nos cortes, o dólar pode se fortalecer nos próximos meses, afetando outros ativos. O ouro e os mercados emergentes podem sofrer, enquanto as ações dos EUA podem se beneficiar dos juros mais baixos.
Hoje, o mercado está dividido entre se o Fed vai começar a cortar os juros no primeiro ou no segundo trimestre de 2024. Como nos últimos dois anos, o Fed deve seguir de olho nos dados econômicos e nos consumidores, enquanto a inflação continua em queda (pelo menos é o que se espera).
"Ainda acreditamos que o primeiro corte será em março, seguido por cortes trimestrais de 0,25 ponto percentual até 2024-2025. O primeiro corte nove meses depois do último aumento estaria de acordo com a história", disseram também os especialistas do Danske Bank.
Resumo
A maioria dos analistas espera que os juros caiam no ano que vem, favorecendo as ações e derrubando os rendimentos e o dólar. Mas a força do dólar pode surpreender o mercado, se outros bancos centrais tiverem que ser mais flexíveis.
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(Este texto foi publicado originalmente em inglês no site The Tokenist.)