Na sexta-feira, após uma semana de indicadores ruins para a economia americana, os índices de ações terminaram fechando o período em alta. A razão é simples: com a deterioração do cenário econômico global, crescem as expectativas de que o Federal Reserve (Banco Central dos EUA) abra espaço para um novo corte na taxa básica de juros dos Estados Unidos. Durante a tarde de hoje (14h00, Horário de Brasília), Jerome Powell fará um pronunciamento e qualquer sinal que confirme ou afaste a possibilidade desse corte poderá chacoalhar os mercados globais.
Nos EUA, o processo de impeachment de Donald Trump ganhou força, na medida em que mais delatores/as qualificados/as – ou seja, que ocupam cargos relevantes na Casa Branca e agências de inteligência – parecem ter surgido e se oferecido para prestar depoimento (em sigilo). A informação veio do advogado responsável pelo caso do primeiro delator, que disse agora ter assumido o caso de diversas outras pessoas que corroboram a informação de que Donald Trump pressionou, ilegalmente, o governo ucraniano para investigar um rival político – o ex-vice-presidente de Obama, Joe Biden.
No esteio da crise política doméstica, foi divulgado que representantes comerciais da China decidiram reduzir significativamente o escopo de um possível acordo para colocar fim à guerra comercial iniciada pelos EUA e capitaneada pelo próprio Trump. Especificamente, há grande resistência em rever ou fazer concessões que toquem na política industrial chinesa, como no caso dos incentivos públicos a empresas estatais. Ao que parece, o gigante asiático busca forçar a mão do governo americano, na medida em que Trump vê suas chances de reeleição diminuindo progressivamente.
Some-se a isso mais uma leva de dados negativos da Alemanha, principal economia da Europa – novos pedidos feitos em fábrica caíram ainda mais para território negativo –; uma atmosfera geral de pessimismo com relação aos lucros de grandes empresas americanas – com alguns especialistas estimando queda de 4% na média dos lucros do terceiro trimestre e temos um cenário altamente carente de cortes mais significativos na taxa de juros americana. Isso faz com que cada palavra de Jerome Powell dita hoje possa ter impacto redobrado nos mercados, assim como a liberação das minutas da última reunião do FOMC (Federal Open Market Committee, comitê responsável pelas taxas de juros nos EUA).
Cenário macroeconômico
Do ponto de vista puramente técnico, o dólar tem leves ganhos sobre seus principais rivais, conforme mostram tanto o DXY (+0,08%) quanto o USDOLLAR (+0,07%), os dois principais índices de força da moeda americana. O Euro, no gráfico diário, continua a ter dificuldade para romper a média simples dos últimos 20 dias. O Volatility Index, que mede o grau de aversão ao risco de investidores/as dos EUA, no momento acumula alta de 5,5% sobre o valor de sexta-feira – mostrando que, nesta manhã, a cautela parece sobrepor a busca por melhores ganhos.
Apesar das bolsas futuras europeias operarem em leve alta (em torno de 0,2% e 0,3%), os contratos futuros das três principais bolsas americanas estão em leve baixa (S&P: -0,25%; Dow: -0,21% e Nasdaq: -0,28%), contrastando com os ganhos de sexta-feira, na ordem de 1,4%. O cenário, portanto, é incerto mas reflete, como citado acima, cautela dos/as principais agentes do mercado.
Câmbio no Brasil
Caso o cenário descrito acima se mantenha relativamente estável, a cotação do dólar deve abrir em leve alta no Brasil, com os movimentos subsequentes ficando à mercê dos fluxos de capital observados no mercado estrangeiro. Possíveis zonas de suporte, em caso de queda, incluem R$4,065; R$4.045; R$4.035; R$4.025 e R$4.000. Uma resistência particularmente relevante é a dos R$4.100. Apesar das recentes quedas, ao que parece, o preço do dólar no Brasil continua em tendência de alta -- que deve se manter até que uma mudança relevante de fundamentos ocorra no cenário externo.