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A tensão no Oriente Médio aumentou as expectativas de que o euro e o dólar atinjam a paridade.
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A Europa sofre com riscos inflacionários decorrentes da alta dos preços de energia.
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Uma análise do Investing.com indica que o EUR/USD precisa superar e sustentar o nível de 1,02 para caminhar em direção à paridade.
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Aumento dos preços de energia:
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Inflação europeia vs. dólar forte:
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Excepcionalismo norte-americano vs. mundo:
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Grandes bancos de Wall Street apostam na paridade EUR/USD:
O último conflito no Oriente Médio levou analistas do mercado de câmbio em Wall Street a cogitar a possibilidade de o euro atingir a paridade com o dólar, por conta dos efeitos que a crise naquela região podem exercer sobre o setor de energia da Europa, especialmente em termos inflacionários.
Grandes bancos de investimento, como JPMorgan Chase, Citibank e Goldman Sachs (NYSE:GS), preveem que o dólar atinja a cotação de 1:1 com a moeda única em algum momento entre o final deste ano e os próximos seis meses.
No entanto, uma análise do Investing.com, em parceria com o SKCharting.com, mostra que, para que essa paridade entre as duas divisas se concretize, o EUR/USD precisa romper e sustentar o nível de 1,02, enquanto o Índice Dólar (DXY) — que compara a moeda americana a uma cesta de seis outras grandes divisas, inclusive o euro — precisa romper a resistência de 107,37.
No momento da escrita, o par estava em 1,0539, após atingir uma mínima de 22 meses de 1,0448 em 3 de outubro. Enquanto isso, o DXY estava em 106,36, após alcançar uma máxima de 11 meses de 107,35 também em 3 de outubro.
Gráfico de SKChartig.com com dados do Investing.com
CONTEXTO
Uma queda para a paridade levaria o euro aos menores patamares desde o segundo semestre do ano passado, quando a moeda única ficou abaixo de US$ 1 pela primeira vez desde 2002 após a guerra na Ucrânia reduzir grande parte do fornecimento de gás para a Europa. Os preços estavam sendo negociados a cerca de €50 por megawatt-hora na segunda-feira, ainda muito abaixo do recorde de mais de €300/MWh alcançado em agosto de 2022. A Europa já reabasteceu boa parte dos seus estoques de gás para enfrentar o inverno, se protegendo de possíveis cortes.
Especulações sobre a paridade das duas principais moedas do mundo aparecem periodicamente desde o começo de 2023, sobretudo em vista da alta das taxas dos títulos do Tesouro dos EUA, na medida em que o banco central do país pretende manter os juros mais elevados por um período mais prolongado.
Agora, há uma nova preocupação de que a escalada do conflito no Oriente Médio possa acelerar a inflação e, consequentemente, as taxas de juros em todo o mundo, na visão de Bernard Baumohl, economista-chefe global do Economic Outlook Group, em Princeton, Nova Jersey.
Um recente aumento nos preços de energia, provocado pela guerra entre Israel e o Hamas, adicionou pressão a uma economia que já estava em desaceleração. O preço dos contratos futuros de gás europeu de referência subiu 26% desde o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro.
Enquanto a inflação e as taxas de juros em outros países tendem a subir nesse cenário negativo, os Estados Unidos podem acabar emergindo como uma exceção, na medida em que os investidores estrangeiros buscam proteger seu capital em “portos seguros” durante conflitos internacionais. Isso, por conseguinte, traria mais força ao dólar.
Baumohl afirma: "As taxas de juros podem cair", mas ainda "vemos o dólar se valorizando".
A forte alta do dólar reflete as taxas das treasuries, que dispararam neste ano — atingindo os maiores níveis em 16 anos — levando muitos agentes do mercado a acreditar que a era dos juros baixos acabou.
Desde o começo de agosto, o rendimento (yield) do título do Tesouro dos EUA de 10 anos de referência é negociado acima de 4%, um patamar não visto de 2008 a 2021. A escalada para o pico de 4,8% de 2007 em 3 de outubro representou um avanço de meio ponto percentual em apenas quinze dias.
Assim, os movimentos dos yields tendem a se propagar pelo mundo: na Europa, podem provocar uma crise fiscal na endividada Itália; no Japão, podem colocar em risco seus níveis de juros extremamente baixos.
A surpreendente resistência da economia dos EUA nos últimos meses também contribuiu para a valorização do dólar, ao mesmo tempo em que aumentam os receios de recessão na Alemanha, a tradicional “locomotiva” de crescimento da zona do euro, o que vem pressionando o euro para baixo.
O governo alemão cortou drasticamente, na semana passada, sua projeção de crescimento econômico, alertando que sua economia encolheria 0,4% este ano, ao passo que o FMI previa que seria a pior economia avançada do mundo este ano.
Segundo Yasmin Younes, estrategista do Citi:
"Vemos o dólar se fortalecendo ainda mais por causa do excepcionalismo norte-americano".
Ela acrescentou que o mercado ainda prevê que o Federal Reserve realizará mais cortes de juros no ano que vem do que qualquer outro banco central do G10, "o que nos parece incompatível com um mercado de trabalho aquecido".
Diante disso, o JPMorgan (NYSE:JPM) reduziu sua estimativa para o euro a US$ 1 até o final do ano.
O Citibank declarou que a paridade pode ser atingida "em seis meses", dada a sua "visão persistente de recessão europeia muito antes dos EUA".
As projeções colocam os gigantes bancários norte-americanos na liderança de um grupo cada vez maior de instituições financeiras que apostam na continuidade da queda da moeda comum, que se estende desde meados do ano.
O euro já recuou cerca de 6% em relação ao dólar desde o pico da primeira quinzena de julho, diante da força inesperada da economia dos EUA, o que acabou dando vigor ao dólar, ao mesmo tempo em que a zona do euro se prepara para um período de desaceleração.
Apesar da fraqueza recente, o euro "ainda não reflete um desconto para as inúmeras incertezas que a moeda enfrenta", declarou Meera Chandan, codiretor-geral da equipe global de pesquisa de estratégia de câmbio do JPMorgan, mencionando "condições financeiras mais restritivas e riscos potenciais de contágio geopolítico, tudo isso em meio ao crescimento estagnado".
Chandan declarou o seguinte, em entrevista ao Financial Times:
"Agora esperamos que o EUR/USD teste a paridade, abaixo do nosso alvo anterior de 1,05."
O Goldman Sachs explicou que o cenário de baixa para o euro se agravou pelas preocupações dos investidores de títulos com o déficit orçamentário maior do que o previsto da Itália.
Em um relatório de pesquisa divulgado na sexta-feira passada, os analistas do banco disseram o seguinte:
"Em primeiro lugar, os dados de atividade frustraram as expectativas em meados do ano. Em segundo, [...] as tensões fiscais ressurgiram na Itália, o que provavelmente gerará pressão altista sobre os yields dos BTP [títulos do governo italiano]. Em terceiro lugar, os riscos para os preços do petróleo e do gás natural parecem tender para cima".
PERSPECTIVA: O que é necessário para a Paridade EUR/USD
O EUR/USD enfrenta atualmente resistência em 1,0563 — a máxima da sessão de segunda-feira, conforme análise de Sunil Kumar Dixit, estrategista técnico-chefe do site SKCharting.com.
O IFR (Índice de Força Relativa) diário, a 43 está abaixo do ponto neutro de 50 — o que indica uma correção mais profunda iminente se as atuais tentativas de recuperação não conseguirem superar as resistências de 1,0640 e 1,0680.
Um rompimento acima da parte intermediária da Banda Bollinger Diária de 1,0563 iniciará movimentos laterais de curto prazo com viés positivo em direção à máxima de oscilação de 1,0640, acima da qual se encontra a média móvel exponencial (MME) de 50 dias, a 1,0680.
Dixit explica:
"Este cenário será visto como um rompimento acima do amplo canal de baixa, que eventualmente mirará a grande resistência na confluência das médias móveis simples (MMS) de 200 e 100, a 1,0820 e 1,0830".
Se a zona de resistência de 1,0640 - 1,0680 não for rompida, a perda da mínima de 1,0495 será considerada como um sinal inicial do começo da próxima onda corretiva de baixa.
Isso terá como alvo imediato a zona de Fibonacci de 50% em 1,0406, derivada da grande onda de alta que levou o EUR/USD de 0,9535 para 1,1277.
Uma queda abaixo da zona de Fibonacci de 50% em 1,0406 terá como alvo a próxima zona de Fibonacci de 61,8% em 1,0200.
Dixit acrescenta:
"Esta zona de Fibonacci de 61,8% é um nível de suporte forte a ser rompido se o par euro-dólar tiver que revisitar a paridade vista pela última vez em setembro de 2022.
Após a paridade, o EUR/USD terá o primeiro suporte em 0,9900."
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Aviso: O objetivo deste artigo é puramente informativo e não representa qualquer incentivo ou recomendação de investimento. O autor Barani Krishnan não possui posição nas commodities e títulos sobre os quais escreve. Ele geralmente utiliza uma variedade de opiniões externas para trazer diversidade à sua análise de qualquer mercado. Para manter a neutralidade, às vezes ele apresenta visões divergentes e variadas do mercado.