A bola da vez é a votação hoje na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara sobre a PEC dos Precatórios. Tema relevante para o mercado que está de olho no teto de gastos.
Isso muda a questão do risco país dependendo do desfecho. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que a PEC do governo terá a admissibilidade votada pela CCJ hoje, mas a comissão especial vai alterar o conteúdo para que o texto votado seja o negociado com o Judiciário. “Aquele texto lá tratado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ministro Fux, ministro Bruno Dantas [do Tribunal de Contas da União] é bem importante e justo para o momento e dá previsibilidade para o que vai acontecer”, afirmou. Qualquer ameaça ao teto de gastos pressiona os ativos locais e faz com que o dólar suba.
Atenção para um projeto chamado gás social, esse projeto tem potencial de trazer um prejuízo fiscal de R$ 30 bilhões em 10 anos. O deputado Christino Aureo (PP-RJ), relator do projeto, acredita que a votação será em breve, pois tem pedido para tramitar em regime de urgência. Para poder cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o projeto seria via aumento de royalties de petróleo.
Fluxo cambial do ano até 10 de setembro ficou positivo em US$ 21,461 bilhões. A entrada líquida pelo canal financeiro neste ano até 10 de setembro foi de US$ 2,493 bilhões. O resultado é fruto de aportes no valor de US$ 362,114 bilhões e de retiradas no total de US$ 359,621 bilhões. O segmento reúne os investimentos estrangeiros diretos e em carteira, remessas de lucro e pagamento de juros, entre outras operações. No comércio exterior, o saldo anual acumulado até 10 de setembro ficou positivo em US$ 18,967 bilhões, com importações de US$ 145,046 bilhões e exportações de US$ 164,013 bilhões. Nas exportações estão incluídos US$ 21,247 bilhões em Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC), US$ 41,454 bilhões em Pagamento Antecipado (PA) e US$ 101,313 bilhões em outras entradas.
Economistas já preveem PIB abaixo de 1% párea 2022. Mas na contramão das previsões, dado de ontem do IBC-Br, considerado prévia do Produto Interno Bruto (PIB) ,teve alta de 0,6% em julho na comparação com junho. O dado ficou acima do esperado, o que pode representar um alívio em meio as recentes revisões para baixo para a economia brasileira. A expectativa era de alta de 0,4% na comparação mensal.
A convicção do mercado é de que o banco central está atrás da curva e pode perder o controle da inflação. Isso justificaria um Copom mais dovish na semana que vem. Isso para o câmbio reflete em dólar mais alto neste momento. A inflação mais alta embute o impacto das tarifas de energia elétrica devido à crise hídrica e as incertezas fiscais que vem pela frente. O que assusta o mercado é a possibilidade do governo gastar mais que R$ 18 bilhões no Bolsa Família e furar o teto de gastos. Além de tudo isso, as incertezas com o cenário eleitoral 2022 traz uma apreensão no investidor.
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Novamente falo aqui que o governo espera bancar o Bolsa Família com a tributação sobre lucros e dividendos que foi aprovada na Câmara, mas enfrenta resistência no Senado. O Bolsa Família é a prioridade do governo. A questão é que embora Guedes diga que não vá furar o teto de gastos, não existe dinheiro para financiar o aumento deste benefício nem espaço no orçamento que foi ocupado pelos precatórios.
Devido ao silêncio para o Copom, não vai ter como nos próximos dias as falas de Campos Neto repercutirem desconfortavelmente no mercado. A cautela continua permeando as perspectivas dos investidores para o desempenho do real nos próximos meses, em meio à deterioração das contas públicas e incertezas institucionais.
Nos EUA, atividade industrial, que mede as condições da manufatura no Estado de Nova York, subiu de 18,3 em agosto para 34,3 em setembro. O resultado surpreendeu estimativas, que eram de baixa do indicador a 17,5 neste mês. Já a produção industrial subiu 0,4% em agosto, um pouco abaixo das expectativas, ante o mês anterior, após subir 0,8% em julho.
Dados fracos na China surpreenderam o mercado. As vendas do varejo de agosto assustaram com alta de apenas 2,5% na base anual, muito abaixo da previsão de 6,3%. A produção industrial do período também frustrou e veio 5,3% enquanto era previsto 5,6%. Com o risco de piora do crescimento global esses indicadores podem vir ainda piores nos próximos períodos.
O receio para o câmbio é de que o dólar comece a assumir um perfil de hedge contra o medo de uma desaceleração econômica brusca.
Além dos já conhecidos receios político-fiscais que devem durar até o fim do ano, pode haver fluxos de saída de capital do país devido à sazonal remessa de lucros e dividendos de empresas e à compra de dólares decorrente do ajuste do setor bancário ao "overhedge" --proteção adicional carregada pelos bancos que deixou de ser interessante após mudança regulatória pelo BC.