A reunião do Federal Reserve (Fed) amanhã é quem vai ditar o rumo do mercado hoje. Brasil assustado com a inflação após IPCA-15 de julho (alta de 0,72%) e com isso vai gerar volatilidade no mercado de câmbio. O calendário intenso de balanços deve agitar a bolsa.
Com o IPCA-15 acima do esperado, muitos já apostam em alta de 100 pontos base para a taxa Selic no Copom de agosto.
O risco mais imediato para nós vem de um eventual sinal mais firme do Federal Reserve sobre o tapering (gradual redução de compra de ativos). A maior parte do mercado aposta em alta do juro para 2022. Uma mensagem mais conservadora do presidente do Fed Jerome Powell tende a puxar o dólar para cima e pressionar as moedas de países emergentes. O real teve seu momento de apreciação e já voltou a um patamar mais defensivo. Está neste vai e vem diário.
A disseminação da variante delta também está trazendo incerteza quanto ao ritmo de retomada das economias pelo mundo. Por aqui, as turbulências políticas quanto às reformas tributária e administrativa pesam na confiança dos investidores. Além disso, estamos com uma crise hídrica bem importante dando força à inflação e aumento de preços. Na sexta-feira, a Aneel vai divulgar a bandeira de agosto, que deve voltar a subir.
Ontem, o boletim focus, que traz a leitura de indicadores importantes para o mercado, elevou ainda mais sua expectativa para a taxa básica de juros, passando a ver a Selic em 7% tanto ao final de 2021 quanto em 2022, em meio a novo aumento na projeção para a inflação.
A expectativa para a alta do IPCA subiu para os dois anos – 6,56% em 2021 e 3,80% em 2022, de 6,31% e 3,75% antes. Ambos ficam acima do centro da meta. Para o Produto Interno Bruto (PIB), a estimativa de crescimento para este ano melhorou em 0,02 pontos percentual, a 5,29%. Para 2022, permaneceu em 2,10%. O dólar deve encerrar o ano de 2021 em R$ 5,09. Na última semana, a mediana das expectativas estava em R$ 5,05 e, há um mês, em R$ 5,10.
Também saiu a confiança do consumidor, que subiu 1,3 pontos em julho perante junho, na série com ajuste sazonal, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) cresceu a 82,2 pontos. Em médias móveis trimestrais, o índice aumentou 3,2 pontos. Foi a quarta alta seguida, colocando o ICC no maior nível desde outubro de 2020. O cenário dos próximos meses vai depender do avanço da vacinação, do controle das novas cepas para que a confiança continue avançando.
A balança comercial registrou superávit de US$ 1,87 bilhão na quarta semana de julho. O valor resulta de exportações de US$ 5,91 bilhões e importações de US$ 4,04 bilhões no período. No ano, o saldo comercial está positivo em US$ 43,67 bilhões.
Ontem, o dólar oscilou de R$ 5,1518 na mínima a R$ 5,2300 na máxima. Mais um dia volátil para o câmbio.
Se o Fed seguir o que vem pregando, só aumentar o juro e diminuir os estímulos quando a economia americana atingir o pleno emprego, então nada deve mudar na próxima reunião. Ainda mais com a ameaça da variante delta que gera preocupação quanto à retomada da economia.
A atividade econômica tem sido favorecida pelo aumento da vacinação, a queda dos dados referentes à pandemia e à maior flexibilização da atividade comercial em vários Estados. Também com o reforço de programas do governo, como o auxílio emergencial. Um fator que lança dúvida sobre o ritmo de retomada da economia é a crise hídrica e de energia, que encarece vários setores da economia, e outro fator de atenção é em relação à indústria que apesar de níveis bem elevados, inclusive com setores mais aquecidos do que o pré pandemia, mas vem enfrentando dificuldades com a escassez e a elevação de preços de insumos.
Acredito numa forte capacidade de reação da economia, podendo ser prejudicada por inflação, juros mais altos, crise hídrica e de energia e desemprego ainda elevado, que sempre segura a expansão da atividade. Além disso, há o cenário político conturbado, que pode prejudicar decisões de investimentos e até a atração de capital externo, que é importante não só do lado dos investimentos, mas também na contenção do dólar, mais um dos fatores de pressão inflacionária. Se o dólar cede, pode ajudar bastante a derrubar a inflação. Então otimismo, mas sem empolgação e olho em todas as variáveis.