E para apimentar um pouco mais o cenário de tensões, os caminhoneiros bloquearam estradas, mas liberaram parte das rodovias por volta das 12 horas. A escalada do conflito político entre o presidente e os outros Poderes estava assustando os investidores, que preferiram adotar uma postura mais defensiva. Além disso, a falta de confiança também prejudica a retomada econômica e levanta um alerta para a questão fiscal do país. A ameaça de uma ruptura institucional faz com que o prêmio do risco aumentasse no decorrer do dia, afastando o investidor internacional e pressionando o câmbio e os juros.
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que o núcleo da inflação está muito mais alto do que a autoridade monetária gostaria, mas reafirmou que o BC tem autonomia para e vai agir de maneira independente com os instrumentos que tem à disposição para controlar a inflação. Disse ainda que as previsões para o PIB podem sofrer reduções por causa do avanço da variante delta do coronavírus.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,87 por cento em agosto, após alta de 0,96 por cento no mês anterior. No acumulado de 12 meses até agosto, o IPCA teve alta de 9,68 por cento, contra alta de 8,99 por cento do mês anterior. Com o resultado, a inflação é a mais alta desde fevereiro de 2016, quando ficou em 10,36%. No ano, o IPCA acumula alta de 5,67%. A gasolina foi a vilã da inflação em agosto.
Os dirigentes do Federal Reserve sugerem que os fracos dados econômicos recentes não são suficientes para empurrar o início da redução gradual para o próximo ano. Os dados semanais de pedidos de seguro-desemprego caíram em 35 mil, para um número com ajuste sazonal de 310 mil na semana encerrada em 4 de setembro. Esse foi o patamar mais baixo desde meados de março de 2020, quando os serviços não essenciais tiveram de ser fechados para conter a primeira onda de casos de Covid-19. As solicitações caíram de um recorde de 6,1 milhões no início de abril de 2020, mas permanecem acima da faixa de 200 mil a 250 mil, considerada condizente com um mercado de trabalho saudável. Há um otimismo cauteloso de que a escassez de mão de obra diminuirá a partir de setembro, após o término dos auxílios-desemprego financiados pelo governo, que acontece na próxima segunda-feira (13).
O Banco Central Europeu (BCE) reduzirá ligeiramente suas compras de títulos de emergência ao longo do próximo trimestre. Foi um pequeno passo para desfazer a ajuda econômica de emergência que sustentou o bloco durante a pandemia e o BCE vai comprar títulos a um ritmo moderadamente menor nos próximos três meses do que os 80 bilhões de euros por mês que comprou nos dois trimestres anteriores. O Banco Central Europeu elevou suas projeções de crescimento e inflação para este ano, considerando que a economia da zona do euro está se recuperando mais rapidamente da pandemia do que a maioria esperava. A presidente do BCE, Christine Lagarde, disse que a zona do euro está a caminho de um forte crescimento no terceiro trimestre e que o BCE prevê a atividade econômica de volta ao seu nível pré-pandemia até o final do ano.
Ontem, na contramão de suas falas anteriores, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) falou da China na questão das vacinas e disse que o país foi essencial para a gestão da pandemia no Brasil, em especial pela produção de insumos para vacinas contra a Covid. A 13ª Cúpula do BRICS, grupo formado Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, é realizada por encontro virtual a partir de Nova Deli, na Índia, país que ocupa a presidência do bloco em 2021. Esta foi a primeira participação de Bolsonaro em reunião do bloco desde que Carlos França assumiu o ministério das Relações Exteriores no lugar de Ernesto Araújo.
Mercado ontem abriu em alta chegando a bater R$ 5,3342, mas antes das 11 horas reverteu para queda operando na casa de R$ 5,27, com movimento de realização de posições, após as 14 horas mercado reverteu tendência de queda (que mais parecia um ajuste e realização de posições) e subiu batendo R$ 5,30 e operou rondando isso no decorrer da tarde. Tudo mudou no final da tarde, após fala apaziguadora do presidente. Aliás, diga-se de passagem, escrita pelo ex-presidente Michel Temer, batendo à mínima de R$ 5,222. Volatilidade foi muito grande.
Na declaração, Bolsonaro ainda afirmou que a harmonia entre os poderes não é um desejo seu, mas sim uma “determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar”.
Reforçando o tom conciliador, Bolsonaro também disse que “Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição”.
A nota oficial foi lida por investidores como uma tentativa de pacificação entre os Poderes depois da escalada das tensões que minou os mercados na véspera. O dólar à vista encerrou em baixa de 1,80%, a R$ 5,2277. Pouco antes de o documento vir a público (por volta de 16h30), a moeda estava em queda de apenas 0,31%, a R$ 5,3072 reais.
O documento pegou de surpresa o mercado, que na véspera reagiu de maneira aguda à escalada da crise após um discurso do presidente da República no 7 de Setembro em que ameaçou descumprir ordens judiciais, piorando um ambiente já tensionado e reduzindo ainda mais o espaço para qualquer progresso na agenda de reformas econômicas.
Por ora, o tom mais baixo de Bolsonaro oferece algum respiro à atmosfera conturbada no campo político-institucional, mas analistas lembram que reviravoltas de discurso do presidente têm ocorrido desde o início de seu governo.
A lição que o mercado aprendeu ontem foi que quem dá rumo ao câmbio aqui no Brasil é sim a política. Aqui política fala mais alto do que fundamentos, índices e inclusive fatos como crise hídrica, inflação, risco fiscal, juros no exterior e muitos outros.
Boa sorte e sangue frio caríssimos leitores!