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Dólar Indomável? Entenda os Fatores que Influenciam o Câmbio

Publicado 09.03.2021, 06:50
Atualizado 09.07.2023, 07:32
USD/BRL
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Enquanto ainda sofremos com os impactos da crise do Coronavírus, que se agravou ainda mais com o colapso no sistema de saúde em diversos estados, nós, brasileiros, ainda temos que encarar os desdobramentos econômicos dessa grande crise mundial em nosso dia-a-dia.

E um dos fatores que mais tem chamado atenção dos brasileiros é a alta do Dólar com relação à nossa moeda, o Real. E engana-se quem pensa que estão preocupados somente aqueles que querem viajar com o fim da pandemia, pois um dólar cada vez mais valorizado possui grandes impactos em nossa economia e em nosso cotidiano.

Já podemos acompanhar algumas dessas consequências com facilidade em nosso dia-a-dia: forte aumento nos preços de diversos bens e serviços essenciais, como alimentos, combustíveis, e insumos para a produção de muito bens. Ou seja, o dólar valorizado faz a inflação subir e o poder de compra da população se deteriorar.

E esse movimento não é de hoje. Nos últimos anos, nós, brasileiros, temos acompanhado uma escalada contínua da cotação do dólar com relação ao real. Quando achávamos que US$ 1,00 valendo R$ 4,00 já era muito, ele bateu R$ 5,00. E continua subindo: nesta segunda-feira, a moeda norte-americana fechou cotada a R$ 5,78. Seu recorde ocorreu em maio de 2020, quando a cotação chegou a bater R$ 5,90. Fica nítido que a eclosão da crise do Covid-19 acelerou esse processo.

Fonte: Trading View

Buscar prever as taxas de câmbio está as tarefas mais difíceis para os economistas. Primeiramente, é importante entender que as cotações das moedas, não só a cotação do real frente ao dólar, é regida por uma das leis absolutas da economia: a Lei da Oferta e da Demanda. Quando a procura por determinada moeda aumenta, sua cotação sobe, e quando acontece o oposto, ela cai.

Mas afinal, quais são os fatores que influenciam na oferta ou na demanda por dólares? Quais as perspectivas para o real frente ao dólar? Através desse artigo quero te explicar, de forma simples e objetiva, quais são as 4 principais variáveis que você deve ficar atento para buscar compreender o cenário macroeconômico e acompanhar o comportamento do dólar.

1. Taxa de Juros Real

Para qualquer investidor, só faz sentido tomar mais riscos se obtiver maiores retornos, certo? Sob esse racional, muitos investidores globais vem retirando muitos recursos do Brasil nos últimos meses.

Pela primeira vez na história, o Brasil atingiu em 2020 juros reais negativos. O que isso significa? Significa que nossa taxa básica de juros foi inferior à nossa inflação oficial (IPCA). Ou seja, o investidor com recursos predominantemente em ativos atrelados à taxa SELIC obteve retorno real negativo.

Sendo assim, esse patamar de juros reais, perde o sentido para o investidor tomar o risco que nosso país representa, sem uma taxa de retorno que compense esse risco. Por conta disso muitos dólares saem do país.

2. Diferença entre Juros Brasileiros e Americanos

Eis aqui mais uma consequência acentuada com a crise do coronavírus. A diferença entre os Juros Brasileiros e os Juros praticados na maioria dos países do mundo sempre foi grande, o que atraía muitos investimentos. Entretanto, para tentar estimular nossa economia, foi necessário derrubar nossa taxa de Juros, o que praticamente eliminou essa diferença.

Dessa forma, nosso país perdeu, aos olhos dos investidores de capital financeiro, um diferencial que justificasse a manutenção de seus recursos aqui. Quando olhamos para o diferencial de nosso juro com as taxas americanas, fica nítida uma forte correlação inversa.

3. Dívida Pública e o Risco-País

Outro fator que influencia na confiança de investidores no país é o grau de endividamento do nosso país, e sua capacidade de honrar com essas dívidas.

Quanto mais nos endividamos, maior o nosso risco potencial. O Brasil já vinha nessa espiral de endividamento nos últimos anos, entretanto essa questão se aprofundou com a crise do coronavírus.

Nosso Risco-País hoje é maior do que outros países que são considerados nossos pares em termos de desenvolvimento econômico, como Rússia, Índia, México, África do Sul e Turquia.

Além disso, as incertezas políticas e interferências governamentais que acompanhamos com frequência fazem com que nos tornemos um país imprevisível no que tange à política econômica.

4. Balança Comercial do país

Talvez esse possa ser o fator que futuramente possa reequilibrar o câmbio futuramente. A Balança Comercial de um país é o resultado final do total de suas exportações menos o valor das suas importações.

Quando temos superávit em nossa balança comercial, ou seja, quando exportamos mais do que importamos, podemos dizer que estamos vendendo par o exterior, e esse comprador nos paga em dólares. Sendo assim, há uma entrada maciça da moeda norte-americana em nosso país, aumentando sua oferta, o que consequentemente faz com que sua cotação caia.

Entre 2003 e 2011, o mundo passou pelo último superciclo de commodities, o que fez com que a cotação do dólar frente ao real despencasse. Tal fenômeno acabou ocorrendo não só no Brasil, mas na maioria dos países da América Latina, continente que é fornecedor histórico de commodities para o mundo.

O QUE PODEMOS ESPERAR DO DÓLAR?

Falando sobre o futuro, se formos analisar cada uma dessas variáveis, podemos desenhar alguns cenários.

Analisando o Cenário Interno, em se tratando das taxas de Juros locais, com a aceleração da inflação, certamente teremos um aumento em nossos juros, mas esse aumento será gradual, o que não irá impactar na questão cambial no curto prazo. Vejo como de baixo impacto esse vetor para a questão, em 2021.

Ainda analisando o cenário interno, outro tema em discussão é a PEC Emergencial, que estende o auxílio emergencial esse ano. Embora seja uma medida que irá injetar recursos na economia através do consumo, o grau de endividamento do governo irá aumentar ainda mais caso o Teto dos Gastos não seja respeitado. Caso isso aconteça, nosso Risco-Brasil será impactado, e certamente terá reflexos no câmbio.

Com relação ao Cenário Externo, encontramos um ponto positivo: há indícios do início de um novo ciclo nas commodities, que irá alavancar nossas exportações. E assim entrarão muitos dólares em nosso país, o que pode arrefecer a pressão cambial atual.

Vejo que o maior risco encontra-se nas decisões relacionadas ao FED e o destino dos juros norte-americanos. Com a aprovação do novo pacote do governo Biden de US$ 1,9 trilhão, e com a aceleração nas vacinações, é esperada também uma pressão inflacionária na economia norte-americana devido ao excesso de liquidez de recursos, podendo assim iniciar um ciclo de aumento nos seus juros, o que elevaria o retorno dos títulos da dívida americana, os treasuries, considerados um dos investimentos mais seguros do mundo.

Pensando no longo prazo, o grau de incerteza e instabilidade só reforçam ainda mais a importância da diversificação global de ativos e a não concentração do seu risco a uma só moeda e a um só país. Embora nosso objetivo seja traçar cenários, não podemos prever o mercado. Mas podemos montar uma carteira que se adequa a ele, independente da circustância.

Pense menos como investidor brasileiro e pense mais como investidor global: não veja o dólar como um vilão, mas sim como um aliado na diversificação da sua carteira.

Nos vemos no próximo artigo!

Forte abraço.

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