Relativa frustração com a dinâmica da tramitação da Reforma da Previdência, face à demora além do previsto da apresentação do Relatório pelo relator, tem efeito retardatário ao promover incertezas que acabam por conter a trajetória de apreciação do real frente ao dólar no mercado de câmbio brasileiro, criando um certo estresse.
Os ruídos em torno da inclusão dos Estados e Municípios na Reforma também são estressantes e pode retardar o encaminhamento da mesma a deliberação pelo Congresso.
Este fato criou um ponto de resistência no intervalo entre R$ 3,85 a R$ 3,88, e isto acaba por beneficiar os “comprados” a reduzirem as perdas com os desmanches de suas posições.
Todavia, fatos novos no campo político envolvendo membros do governo, a despeito dos meios com que foram obtidos, devem causar ruídos e, naturalmente, podem ser aproveitados oportunisticamente para repercussões na formação do preço da moeda americana.
Contudo, como é fato notório e sabido não há fundamentos sustentáveis para especulação sobre a formação do preço do dólar no mercado brasileiro, tendo em vista que o país tem confortável situação nas suas contas externas e em relação ao seu déficit em transações em contas correntes.
A despeito desta realidade, por razões emocionais habilmente exploradas pelos especuladores ocorrem sempre reflexos sobre o preço da moeda americana, porém quando amenizados os fatores de impulsão e retomada a racionalidade o viés de ajuste, apreciação do real, volta a predominar.
Neste momento devemos ter volatilidade, porém, em perspectiva o viés de baixa do preço da moeda americana frente ao real deve permanecer subjacente porque é fundamentalmente irreversível, na medida em que a Reforma da Previdência ganhe curso em direção à aprovação.
No nosso entender os fatores de impacto permanecem sendo prioritariamente internos, ainda com baixo efeito do comportamento no mercado internacional, mesmo que em inúmeros momentos haja a impressão de que ocorra sinergia entre os movimentos.
O Boletim FOCUS que reproduz as medianas das projeções das instituições do nosso mercado financeiro continua projetando o preço do dólar para o final do ano em R$ 3,80, naturalmente por entenderem, assim como nós e também o BC, que o que ocorre na formação do preço da moeda americana no nosso mercado é incompatível com a realidade do país e insustentável pela ausência efetiva de fundamentos.
É relevante mencionar que na posição oposta aos “comprados” no mercado futuro de dólar, ávidos por reverter esta posição, estão os bancos “vendidos” e que tem sustentado a projeção de preço em R$ 3,80.
Contudo, o mesmo Boletim altera projeções relevantes.
O IPCA sofre revisão de 3,98% para 3,85% e isto abre de forma consistente perspectiva para que o COPOM venha a reduzir a taxa SELIC, até porque a revisão da projeção do PIB de 1,13% para 1,00% com a queda acentuada da atividade industrial acentua esta necessidade.
Há a clara percepção de que o COPOM possa estar tendente a postergar esta decisão até que ocorra maior evidência da aprovação da Reforma da Previdência, contudo, parece inevitável que tenha que adotar esta decisão. Mas, o cenário atual já a coloca como irreversível.