A intervenção constante do BC no mercado de câmbio, objetivando claramente prover a liquidez e sem contundência sobre a formação da taxa cambial, deixa evidente que o propósito do governo continua sendo o de utilizar o “câmbio alto” como fator básico na propulsão da retomada da atividade econômica, a partir do agronegócio, e despertar atratividade, no primeiro momento, para o mercado acionário brasileiro que, face ao barateamento consequente da forte apreciação do dólar, oferece excelentes oportunidades e pode carear melhora significativa no fluxo cambial.
O ajuste no preço da moeda americana nos dois últimos dias decorreu diretamente do esfriamento momentâneo das tensões em torno do estresse envolvendo o Ministério da Justiça, aliviadas também com os sinais de permanência do Ministro da Economia, mas, também e principalmente, predominantemente da fragilização da moeda americana no mercado externo, melhora dos preços do petróleo, com o consequente fortalecimento das moedas emergentes.
Nada indica que tenha correlação com qualquer ação direta do BC, havendo razões claras e pontuais determinando a depreciação do dólar frente ao real.
Todo o contexto pré “affair” envolvendo a saída do Ministro Moro indicava recuperação do volume de investimentos estrangeiros na Bovespa e reversão do fluxo cambial do mês de abril para positivo, após meses de desempenho negativo.
O fluxo cambial da semana de 20 a 24 revelou um incremento negativo de US$ 1,878 Bi (US$ 907,0 M positivo comercial e US$ 2,785 Bi negativo financeiro) e o fluxo negativo do mês foi elevado para US$ 3,846 Bi, frustrando as expectativas.
O “affair”, segundo dados divulgados, provocou a retirada de recursos no montante de R$ 2,4 Bi da Bovespa na data da saída do Ministro Moro, o que frustrou parcialmente a tendência que vinha sendo percebida.
O governo, por seu Ministro da Economia, e alguns dos líderes de empresas têm demonstrado convicção de que o Brasil poderá surpreender o mundo na sua recuperação.
Evidentemente, é imperativo que o governo tenha uma estratégia programática para que, mesmo num ambiente adverso, explore alguns nichos de oportunidades para ancorar resistências reversivas do negativismo predominante, e a estratégia que temos salientado nos parece bastante plausível e factível neste momento.
O agronegócio incentivado pela demanda externa e pela elevada remuneração a partir da taxa cambial pode ter impacto relevante no PIB brasileiro atenuando, ainda que parcialmente, as expectativas negativas predominantes.
Há que se considerarem também os efeitos na cadeia de atividades correlatas ao agronegócio, e os benefícios do preço do petróleo ainda bastante reduzido no momento, a despeito da expressiva alta de ontem do WTI.
Parece-nos que seja o momento de retomada das IPO´s por empresas brasileiras para capitalização num momento em que a perda de atividade pode ter determinado a queda de geração de capital.
Com isto, pode ser alcançada a melhora do fluxo cambial que poderia gradualmente ir irrigando a liquidez do mercado de câmbio, amenizando a atuação profilática do BC focando a liquidez.
Como temos salientado, até com certa repetência, acreditamos que o legado desta severa crise imporá mudanças relevantes no perfil do comércio exterior globalizado, e assim, a grande maioria dos países tenderá a prestigiar suas indústrias próprias para alavancar a recuperação da atividade econômica, e com isto gerar renda e consumo, emprego e arrecadação fiscal.
Evidente, que quando se está no “olho do furacão”, como agora em que não se tem sequer expectativa de quanto mais será grave e duradoura esta crise do coronavírus e nem como será a rota de saída, parece prematura a visão prospectiva de ações para a retomada, mas é preciso considerar que o Governo tem que trabalhar com cenários e, quando seus dirigentes afirmam que o país poderá surpreender o mundo com a recuperação, certamente tem uma estratégia focando as alternativas e, no momento, temos a convicção de que seja esta que vimos apontando, que já está em curso.
A afirmação atribuída ao Ministro Guedes de que está deixando o câmbio ir para o preço de equilíbrio é um bom sinalizador de que há uma estratégia que passa pelo câmbio, mas toda vez que aponta para redução das reservas cambiais como fator de redução da Dívida Pública cria um “hiato” na sustentabilidade do “câmbio alto”, ou pelo menos cria um fator limitante da alta.
Este pode ser um contraditório que impacta nas convicções do mercado, e, provocar movimentos voláteis.
Como já salientamos também, entendemos que o euforismo em reduzir a taxa SELIC predominante no mercado pode levar o emocional a sobrepor-se ao racional pois, por vezes, relega a plano secundário sem ressaltar a efetiva contribuição da redução aos aspectos relacionados a atratividade aos investidores externos imprescindíveis e ao fato dos níveis de participação do capital estrangeiro no financiamento da nossa Dívida Pública estar sensivelmente reduzido a níveis de fevereiro de 2010.
O Ministro Guedes tem destacado que cada 1 ponto porcentual de redução da taxa básica SELIC significa uma economia de R$ 80 bilhões na conta de juros por ano, o que é bom, porém não pode perder de vista a necessidade dos financiadores, e, os estrangeiros têm parcela relevante e a redução demasiada da SELIC poderá ter efeito contrário no mercado pressionando o juro.
Ontem, os Estados Unidos anunciou que sua economia recuou no primeiro trimestre a seu ritmo mais acentuado desde a Grande Recessão, uma vez que medidas rigorosas para retardar a propagação do novo coronavírus quase interromperam a atividade no país. Encerrou-se a mais longa expansão da história norte-americana, com o Departamento de Comércio dos EUA informando que o PIB caiu a uma taxa anualizada de 4,8% no período de janeiro a março, depois de expandir a uma taxa de 2,1% nos últimos três meses de 2019. Com isso, o maior impacto econômico da crise só deve ser conhecido quando os dados do segundo trimestre forem divulgados este ano. Se os Estados Unidos registrarem dois trimestres consecutivos de queda do PIB, o país entrará em uma recessão técnica. Este cenário, em tese, fragiliza a moeda americana no mercado internacional no primeiro momento, mas praticamente o fato já estava precificado até para pior, então o efeito na relação com as moedas emergentes decorre mais da discreta recuperação do preço do petróleo que beneficia os produtores emergentes.
Todavia, entendemos que estamos na presença de um "stop and go" no preço do dólar no mercado brasileiro, tendo em vista que houve naturalmente a queda de pressões políticas, mas a apreciação do real especificamente foi demasiada e isto tem a ver com a formação da taxa ptax hoje, assim entendemos que já no início de maio será retomada a curva de alta e os objetivos estratégicos do governo continuarão focados.