Hoje é dia de Selic, provavelmente aumento de 1%. Essa alta puxaria o dólar para baixo, valorizaria o real atraindo fluxo de capital pelo diferencial de juros (carry trade), além de um pouco de realização em cima da alta de ontem, mas os riscos e tensões afastam o investidor e devido a isso o dólar não alcança o patamar de R$ 5,00 que muitos analistas diziam que aconteceria. Ainda por cima tem as eleições 2022 no cenário, o que traz ainda mais instabilidade para o Brasil. A decisão da taxa de juros só sai após fechamento do mercado, as 18h00.
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Dólar operou em alta desde o after market de segunda e seguiu na terça-feira devido a alguns temores. Vamos ao que mexeu com os ânimos e deixou o investidor receoso: para começar a fala de um membro do Federal Reserve (Fed) no final do dia de segunda, colocando em pauta uma possível antecipação para setembro ou outubro na retirada dos estímulos monetários da economia americana se os números do mercado de trabalho por lá vierem bons o bastante, inclusive o aumento da taxa de juros viria ainda em 2022.
Outro motivo é a variante delta do coronavírus que causa temor quanto à reabertura das economias pelo mundo e gera incertezas sobre a eficácia das vacinas. Muitos países já retrocederam quanto ao uso de máscaras.
Aqui no Brasil, as tensões políticas se intensificam com o fim do recesso e trazem para o radar as reformas tributária e administrativa e a preocupação com os recursos para o Programa Bolsa Família mais robusto sem estourar o teto de gastos. Alias pessoal, só para lembrar, a crise hídrica não passou ainda e o IPC-FIPE veio bem forte e acima do esperado ontem, mostrando mais temores inflacionários. O índice foi puxado por alimentação e habitação.
Ainda falando em Brasil, ontem de novidade que impulsionou o dólar tivemos a notícia de que o governo quer alterar a dinâmica de pagamento para precatórios, que compensavam as expectativas de que o Banco Central seja mais agressivo ao elevar a taxa Selic hoje. Paulo Guedes afirmou que o pagamento integral dos precatórios calculados para 2022, da ordem de R$ 90 bilhões, atingiria as despesas federais como um todo e admitiu que o governo já escreveu um esboço de Proposta de Emenda à Constitucional (PEC) para instituir uma nova dinâmica de pagamento.
Volatilidade ontem foi forte, mínima bateu R$ 5,164 e máxima R$ 5,2745. E hoje seguirá volátil.
Ontem, o discurso de Michelle Bowman, do Fed, assim como o de Mary Daly trouxeram a mesma ideia de que o emprego nos EUA ainda está longe da recuperação plena e levará um tempo para se recuperar dos efeitos da pandemia. Apesar de ambas falarem isso, outros membros do Fed tem uma visão divergente de quando será necessário retirar o apoio a economia por lá. Deu até uma “aliviada” no câmbio que foi para casa de R$ 5,20.
Em outras partes do mundo, a China deve acelerar os gastos em projetos de infraestrutura, enquanto o banco central vai apoiar a economia com medidas modestas de flexibilização, já que os riscos da variante Delta ameaçam desacelerar a recuperação por lá. Os líderes chineses estão tentando evitar uma desaceleração mais acentuada do crescimento no segundo semestre. A economia da China recuperou seus níveis de crescimento pré-pandemia, impulsionada por exportações surpreendentemente fortes, mas a expansão está perdendo fôlego, com enfraquecimento do consumo e do investimento.
De calendário econômico hoje, obviamente além da taxa de juros no Brasil, sai PMI e fluxo cambial estrangeiro, na Europa PMI de serviços (julho) e vendas do varejo (junho), nos EUA variação de empregos privados (julho), PMI de serviços e mais discurso de membro do FOMC.
Os fluxos em carteiras para mercados emergentes desaceleraram com força em julho devido principalmente a grandes saídas mensais de ações. O sentimento do investidor foi pressionado por um Fed "hawkish" e pela repressão regulatória na China, entre outras questões. Os fluxos estrangeiros para carteiras de ações e dívida de mercados emergentes desaceleraram a 7,7 bilhões de dólares em julho, incluindo a saída de 10,5 bilhões das ações de países emergentes.
O mercado cambial seguirá influenciado por muitas variáveis que vão da política monetária norte-americana, variante delta, perspectivas fiscais para o Brasil, Selic e tensões políticas. Mas com esse ambiente político será que teremos mesmo um alívio no câmbio com a alta da taxa de juros aqui? Pode até ser que esse aumento de Selic já esteja precificado no câmbio.