Apesar da queda do dólar de ontem pela manhã, a moeda americana puxou forte no final do pregão, mas acabou fechando em queda a R$ 5,1654. Existe possibilidade de quedas no decorrer da semana com a taxa Selic que está por vir, mas os crescentes ruídos políticos impõem um cenário negativo para o real e geram risco de nova pressão nas taxas de juros de longo prazo, em meio a aumento do receio de uma abordagem fiscal menos conservadora. Além disso, as eleições 2022 também estão no radar de aumento de risco pais. A variante delta do coronavírus também preocupa quanto à recuperação das economias mundo a fora e ainda precisamos considerar a situação da diferença entre as retomadas econômicas do Brasil e das economias mais desenvolvidas, principalmente com relação à vacinação. Por mais otimista que eu queira ser, precisamos ter o “pé no chão”.
O Copom se encontra hoje e amanhã em sessões presenciais para discutir o futuro dos juros básicos, e boa parte dos agentes do mercado aposta numa elevação de 1 ponto percentual. As expectativas de aumento de 1 ponto na Selic fizeram o dólar cair e aumentar o apetite a risco e obviamente devido ao diferencial dos juros aqui e lá fora. Custos de empréstimos mais altos no Brasil tornam o real mais atrativo para a realização de estratégias de "carry trade", que consistem na tomada de empréstimos em moeda de país de juro baixo e compra de contratos futuros de uma divisa de juro maior. O investidor, desta forma, ganha com a diferença de taxas.
A queda do dólar de ontem de manhã também refletiu uma realização de lucros em relação à sexta-feira, quando a divisa foi para R$ 5,2099 com uma alta diária de 2,57%. O ganho acumulado de julho foi de 4,76%. O dólar ontem cedo estava desvalorizado não apenas no Brasil, mas ante os principais pares. A volatilidade foi grande, na mínima ficou em R$ 5,1145 e na máxima em R$ 5, 219.
Boa notícia para o real: as indústrias brasileiras ampliaram o nível de estoques de bens finais em julho para um recorde, diante do aumento da demanda, e o crescimento do setor chegou ao maior nível em cinco meses. As empresas ainda esperam que a retomada da demanda continue, sustentando as projeções otimistas para o índice de produção no próximo ano juntamente com a crescente cobertura de vacinas.
De qualquer forma o mercado segue cauteloso com as declarações mais recentes do governo, indicando a possibilidade de quebra do Teto de Gastos para financiar um Bolsa Família mais robusto e a manutenção do auxílio emergencial caso a pandemia continue a afetar a economia, além da inflação e ameaça da variante delta.
Vamos de dados divulgados pelo Focus de ontem: a expectativa do mercado para a inflação neste ano aproximou-se ainda mais de 7%. Já a expectativa para a alta do IPCA em 2021 agora é de 6,79%, contra 6,56% na semana anterior, superando ainda mais o teto da meta, de 5,25%. Para 2022 a projeção aumentou em 0,01 pontos percentuais, indo a 3,81%. A mudança reflete o aumento na projeção para a alta dos preços este ano a 10,70%,antes a previsão era de 10,45%. O centro da meta oficial para a inflação em 2021 é de 3,75% e para 2022 é de 3,50%, sempre com margem de tolerância de 1,5 pontos percentual para mais ou menos. Para o PIB, a estimativa de crescimento passou a 5,30% este ano, antes era de 5,29%. A mediana das expectativas para o câmbio no fim de período foi de R$ 5,09 para R$ 5,10, ante R$ 5,04 de um mês atrás. Para 2022, a projeção para o câmbio permaneceu em R$ 5,20, mesmo valor de quatro pesquisas atrás.
Mais dados: a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 1,869 bilhão na quarta semana de julho (dias 19 a 25), o valor foi alcançado com exportações de US$ 5,913 bilhões e importações de US$ 4,044 bilhões. Em julho, até o dia 25, a balança comercial acumula saldo superavitário em US$ 6,939 bilhões, com exportações em US$ 20,473 bilhões e importações de US$ 13,534 bilhões. No acumulado do ano, o saldo comercial é superavitário em US$ 43,670 bilhões.
Os PMIs oficiais da China aumentaram a evidência da desaceleração da economia chinesa em julho, com o PMI industrial caindo para apenas 50,3, o menor desde abril do ano passado.
Dados dos PMI da zona do euro saíram maiores que o esperado. Os dados promissores da zona do euro estão ajudando a reduzir temores sobre o impacto da variante Delta na economia global.
Para hoje teremos IPC-FIPE mensal de julho e dados da produção industrial mensal e anual de junho aqui no Brasil. Nos EUA teremos às 15 horas (horário do Brasil) discurso de Michelle W. Bowman, membro do FOMC e seus discursos costumam ser utilizados para fornecer indicações sutis relacionadas à política monetária futura.
Como sempre digo, é uma queda de braços entre notícias boas para o real e tensões e cenários incertos. E segue a luta do cambio para tentar segurar o dólar, mas está difícil.