E de novo a variante delta do coronavírus assombrando o mundo e as retomadas das economias. Sempre que existe um ambiente de tensão o dólar é ativo considerado seguro e, portanto sua taxa sobe.
Hoje, o tão esperado discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed) às 11hrs, pode dar alguma pista sobre quando se dará a retirada de estímulos da economia americana. Eu acho que eles ainda estão esperando para ver outros relatórios do mercado de trabalho para avaliar se a variante delta diminuiu a criação de empregos. Ontem, os pedidos iniciais por seguro-desemprego referentes à semana passada nos EUA ficaram acima da previsão. Foram solicitados 353 mil benefícios, contra os 349 mil da semana passada. A previsão do mercado era de 350 mil pedidos. Já o PIB do 2º trimestre veio abaixo do esperado de 6,7%, sendo revisado para 6,6%. O PCE (índice de preços de despesas dos consumidores) trimestral acelerou de 3,8% para 6,5%, enquanto o núcleo do PCE se manteve em 6,1%, também uma aceleração aos 2,7%. Este é o indicador de inflação preferida do Fed. Powell está em vias de diminuir estímulos, mesmo que seu discurso ofereça poucas informações sobre exatamente quando.
Alguns membros da ala "hawkish" do Fed disseram ontem que tem pouco ou nenhum favoritismo a estímulos monetários. O presidente do Fed de St Louis, James Bullard, disse que é a favor de que o banco central comece a reduzir seus 120 bilhões de dólares em compras de títulos em breve e encerre o programa até o início do próximo ano. A presidente do Fed de Kansas City, Esther George indicou que o banco central está fazendo progressos constantes no plano para cortar as compras de títulos. Se essas compras forem retiradas antes, fortalecerá o dólar, pois o próximo passo deve ser o aumento da taxa de juros e daí o carry trade perde a força para o real. Ainda assim, nossa taxa de juros é bem mais alto do que à americana, mas o risco-país aqui também é alto e deve ser considerado na análise do investidor.
Aqui no Brasil, após as autoridades acalmarem o mercado dando tom otimista a recuperação da economia na quarta-feira, quando Guedes disse que está bom o desempenho da arrecadação de imposto e que a economia brasileira deve crescer 5,5% neste ano e que até é possível o País ter superávit em 2022. Ontem, ele mesmo minimizou o atraso nas votações de reformas no Congresso e continuou defendendo o parcelamento dos precatórios. "Ou temos de parcelar precatórios ou temos de colocar um teto nesses gastos” disse ele. Com esse outro tom, mercado respondeu mal. Além disso, a crise hídrica continua sendo um componente forte na inflação. A Selic deve aumentar mais de 1 ponto para tentar contrabalançar isso.
E também ontem o STF formou maioria a favor da lei de autonomia do banco central. A principal mudança é a adoção de mandatos de quatro anos para o presidente e diretores da autarquia. Hoje, o líder do executivo pode nomear o presidente do BC e retirá-lo do cargo quando quiser. Com esta regra, a política monetária fica blindada de influências político-partidárias.
O fato é que contra fluxo não há argumento, e foi o que vimos nas quatro baixas sequenciais no dólar. Ontem, um pouco de realização e a variante delta assustando, além das falas de Guedes deram força ao dólar.
O mercado operou ontem na mínima de R$ 5,2177 e máxima de R$ 5,2676 e fechou em R$ 5,257, alta de 0,87%.