No nosso entendimento, já externado anteriormente, o preço da moeda americana encontrou um intervalor acomodatício na faixa entre R$ 5,00 a R$ 5,50, mas o fator perturbador presente é a intensa volatilidade nas opções de dólar/real que desafiam os “players” e que circundam variações entre 20% a 30% de forma abrupta e intempestiva e que na maioria das vezes não permite que se identifiquem razões plausíveis.
O governo deseja e integra na sua política o “dólar alto” e acreditamos que este preço de sustentação esteja no mínimo em R$ 5,00, que se torna atraente para sustentar as exportações do agronegócio, único setor resiliente à crise e que representa algo como 30% do nosso PIB, gera empregos, renda e movimenta a cadeia de atividades até chegar aos portos, e, que determinou expansão das atividades do porto de Santos neste trimestre de crise em mais de 11%.
O dólar neste patamar pode tornar atrativa a nossa B3 ao investidor estrangeiro, o que ainda não ocorreu a não ser num breve espaço de tempo recente em que as ações estavam baratas 20% em reais e 36% em dólares, e tenderia a tornar atrativo o investimento estrangeiro em conta capital e nos projetos de grande monta e oportunidade existentes na infraestrutura brasileira, o que, também ainda não se consolidou, visto que o Brasil sofreu desgastes relevantes de imagem que geraram insegurança jurídica-econômica-política e, inegavelmente mais recentemente, a crise do coronavírus, que paralisou grande parte de sua atividade econômica e que conduziu o país a relevante dicotomia entre economia e saúde, num ambiente de grande desordem de gestão, que afora isto ainda dá propulsão a questões tensionais políticas.
Os fluxos cambiais de grande monta ainda devem se manter distantes do Brasil, embora haja enorme liquidez no mercado global com vontade de ser ousado, mas cauteloso por temer a recidiva da crise do coronavírus na medida com a tentativa da flexibilização das regras de isolamento que se agrega aos fatores que ponderam e ainda percebendo no Brasil fatores que desestimulam sua tradicional atratividade.
Se, por qualquer razão imprevista, houve movimento que aprecie o real além de R$ 5,00, o BC atentamente poderá atuar reduzindo as rolagens dos swaps vincendos e dando sustentação ao preço.
O dólar alto sinaliza que é o novo, veio para ficar, a despeito do considerável volume de reservas detidos pelo Brasil.
E porque entendemos que o piso superior tende a permanecer, numa visão adversa do segundo semestre? Não há sinais de forte pressão de demanda efetiva sobre a moeda e a referendar esta percepção esta a revisão procedida e evidenciada no recente RIT – Relatório de Inflação Trimestral que reduziu a projeção do déficit em transações correntes de US$ 40,0 Bi para US$ 13,0 Bi.
A formação do preço, afora os fatores internos, estará quase sempre à mercê do comportamento do dólar no mercado internacional, e se a recuperação da economia americana confirmar o revigor poderá valorizar o dólar, salvo se o FED ceder ao conclamo do Presidente Trump reduzindo abruptamente o juro americano a ponto extremamente negativo para fragilizar a moeda americana “porto seguro” e assim potencializar a competitividade do produto americano no mercado externo puxando sua indústria nacional.
Ontem, por exemplo, isto não aconteceu e o real foi a única moeda emergente latina a se valorizar frente ao dólar, mas a atipicidade pode ter decorrido do final do semestre e da importância da taxa PTax que será básica para os balanços semestrais das instituições financeiras, e, envolve também a disputa entre comprados e vendidos no mercado futuro de dólar.
No nosso ponto de vista, o segundo semestre não tende a ser benigno no Brasil, havendo muitos fatores adversos, a principal a até possível expansão da crise do coronavírus num ambiente em que o governo terá seríssimas dificuldades para bancar a ajuda emergencial sem comprometer seriamente o superávit primário por alguns anos.
Tende a ficar claro que ainda não chegamos ao “fundo do poço” em abril como citado na mais recente ata da reunião do COPOM, e que há espaço para piorar e que são tímidas as possibilidades da recuperação da economia em V, mas muito provavelmente em U com um espaço de no mínimo 2 anos e não se tem clareza de quando terá início está contagem.
O dado de ontem do CAGED que quantifica em 1,487 milhão de perda de empregos formais no trimestre, sendo maio registrou 331 mil, é preocupante e há quem veja neste número confrontado com os 860 mil de abril algo confortante, mas poderá não ser bem assim, pois o tempo poderá acentuar o desalento e as pequenas/médias empresas poderão sucumbir em massa.
É importante que iniciemos o segundo semestre com uma visão sensata e cética sobre a real situação e suas efetivas perspectivas.