A onda delta do coronavírus é a culpada da vez. Na verdade, a responsável pela insegurança e corrida para o dólar por ser um ativo de aversão ao risco. A questão é que não é só este o motivo para essa subida da taxa da moeda. A inflação acelerada e o risco fiscal com os embates da reforma tributária têm sua parcela de culpa, como quanto ao momento que ocorrerá o tapering e a retirada de estímulos da economia americana e, por consequência, o aumento da taxa de juros por lá pelo Federal Reserve (Fed), a velocidade de abertura e retomada dos comércios mundo e, no Brasil, temos a eleição do ano que vem e tensões políticas como a CPI e outras que surgem a qualquer momento.
Pois é amigos, motivos não faltam, já na contra mão disso estaria a taxa Selic e o carry trade, a busca por juros maiores aqui do que no exterior e atrair investidores para cá, tudo isso faria o real se apreciar, mas o que fala mais alto são sempre temores e notícias negativas. Aqui a agenda está vazia, então estamos mesmo voltados para a agenda do exterior.
O ambiente de negócios para os emergentes está bem complicado com essa guinada de corrida ao dólar e ativos de proteção. Mais complicado está para o lado do exportador de commodities que está surfando na onda pós covid. Agora melhor ter calma até que o cenário clareie um pouco mais. A volatilidade se dá por causa de muito desespero em desfazer posições quando o câmbio começa a subir ou cair muito rápido. Ontem, por exemplo, abrimos o dia com R$ 5,2315 e antes das 11 horas da manhã tivemos R$ 5,2950 testando o mau humor do mercado. Às 11:30 horas (costumo culpar os leilões de swap, mas nem sempre são eles os responsáveis) o câmbio já se ajustava para R$ 5,2435. E seguiu mesmo volátil reagindo a cada notícia e pronunciamento divulgado durante o dia. É claro que ocorreram acomodações dos preços dos diversos segmentos do mercado se ajustando face às exacerbações da segunda-feira, mas as preocupações que se acentuaram com a ameaça da retomada da pandemia a nível mundial continua forte no radar do investidor. A tarde ficou na faixa de R$ 5,22.
Quando ocorrem essas altas muito fortes no dólar, o que lemos é um ajuste com força de estresse, recomposição de posições vendidas no câmbio e mudanças de apostas mais agressivas no juro além de pavor nas bolsas. Em meio às incertezas no exterior, o Brasil não dá muito motivo para sustentar o ânimo do investidor com o cenário político desafiador e reformas indefinidas.
Quanto ao Copom, mesmo com a inflação resistente e o dólar mais caro, as apostas em 0,75 ponto são maiores do que se via na semana passada, quando boa parte do mercado falava em 1 ponto. A escalada do dólar aqui está mais expressiva do que no exterior pelo fato de os investidores estrangeiros continuarem vendendo Brasil e retirando capital da B3 (SA:B3SA3). O saldo ainda é positivo, mas o saque acumulado no mês já cresceu bastante.
Enfim, a variante Delta coloca em dúvida a maneira como o Fed deve manobrar sua política para segurar a inflação sem provocar risco ao crescimento econômico. Muita calma nesta hora pessoal.