Há dois meses, poucas pessoas acreditavam no dólar abaixo de R$5 tão rápido. É uma curiosidade e isso tem gerado muita dúvida entre os investidores. De fato, não é simples compreender este movimento, pois o cenário atual é composto por uma série de fatores.
Para ajudar, vale uma breve contextualização. Muitos agentes de mercado esperavam um fluxo de saída dos emergentes em 2022 devido às indicações de aumento nas taxas de juros de países considerados de primeira linha. Antes, seria natural entender que a nossa bolsa de valores estaria em queda e o dólar em alta, com risco global mais elevado.
Esta semana, por exemplo, o nosso índice Ibovespa chegou a operar na casa dos 119 mil pontos e o dólar a R$4,77.
A grande questão, porém, é que os investidores, por causa da guerra, têm entendido que não é interessante ter seus recursos alocados em economias próximas ao conflito, ainda que de forma indireta.
Além disso, as sanções impostas à Rússia pelos países do Ocidente tendem a gerar instabilidade, tanto na moeda americana quanto no Euro, que tem se desvalorizado mais que o dólar frente ao real.
Sendo assim, parte desses recursos tem ido em direção a ativos mais protetivos e exemplo disso são as commodities, com a demanda em alta. Por ter uma grande representatividade neste setor, o nosso principal índice (Ibovespa) tem recebido este dinheiro, o que explica, ao menos em partes, uma valorização de mais de 15% em três meses.
Outro ponto fundamental que ajuda a explicar a apreciação do real é a nossa taxa de juros, a Selic. Na última reunião do Copom, ela foi fixada em 11,75% a.a. com indicação de aumento de mais 100bps no próximo encontro do Comitê.
Ao olharmos para os nossos pares globais, os juros brasileiros são um dos mais altos do mundo, com retorno real de 20% a 30% mais que outros países.
Somado a isso, a exclusão da Rússia do mercado internacional também coloca o Brasil em uma posição um pouco mais vantajosa. Com uma economia bastante próxima da russa (eles 11º, nós 12º), é natural que parte dos recursos sejam direcionados para ativos brasileiros.
Sem dúvidas, o Brasil tem se beneficiado deste cenário. Porém, fica o questionamento: Será que a política de alocação em juros reais e commodities continuará? Ainda não dá para saber.
O nosso boletim FOCUS ainda aponta um câmbio com dólar acima de R$5. Nos próximos meses, a OPEP + deve aumentar a produção de petróleo, o que deve mexer com os preços dos barris.
Há ainda eleições presidenciais se aproximando e o risco de guerra também pode diminuir.
Porém, para entender este movimento inicial, é importante acompanhar os fatores preponderantes que eu listei acima. Bons negócios!