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Dólar: Brasil na Contramão dos Fundamentos

Publicado 24.09.2021, 07:18
USD/BRL
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Novamente uma frase que gosto de usar e realmente é verdade: “Brasil não é para amadores”. Aqui, o Banco Central aumenta a taxa de juros (tudo bem que mercado já esperava pelo menos esse 1 ponto) e o real não aprecia tanto quanto deveria. Um diferencial de juros mais alto aqui do que lá traria fluxo para cá, mas vamos combinar que com tantos riscos fiscais e inflação fora de controle, crise hídrica e eleição 2022 já no radar, o investidor pesa os riscos e pensa duas vezes antes de trazer os recursos para cá.

Existe uma perspectiva de que o IPCA suba forte em setembro principalmente devido à crise hídrica e se o Banco Central aumentar novamente em 1 ponto a próxima Selic, não conseguirá conter a inflação. Como já adiantaram no comunicado que pretendem fazer isso na próxima reunião, não sobra espaço para ganhos do real neste momento. Mercado até testou uma “quedinha” do dólar de manhã, mas não segurou. Bateu mínima de R$ 5,2603 e depois rompeu os R$ 5,30. Depois dos movimentos eufóricos, grande parte da manhã ficamos operando com o câmbio a R$ 5,29. No período da tarde, mercado subiu e ficou acima de R$ 5,30.

O que deve ser observado é que o Copom pintou uma situação preocupante para a inflação reconhecendo que segue elevada assim como os preços de serviços. O comunicado citou o câmbio, as commodities e as condições climáticas adversas como pressões para os alimentos, combustíveis e energia e pediu um tempo para avaliar a persistência dos choques. O Banco Central está ponderando o custo de trazer a inflação para o centro da meta porque quem será prejudicada é a atividade econômica. Se houverem mais duas altas de um ponto, o ano acaba com a Selic a 8,25%, e os juros permaneceriam assim ano que vem.

E na novela precatórios, o ministro da Economia Paulo Guedes amarrou a aprovação da PEC dos precatórios com votação da reforma do Imposto de Renda (IR) no Senado. Guedes precisa cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal. Para poder apresentar o novo Bolsa Família, com os prometidos R$ 300 do presidente, precisa indicar de onde vai tirar esse dinheiro. Depois de uma reunião na residência oficial do Senado, na última terça-feira (21), Pacheco tentou explicar a saída que estava sendo construída entre o Executivo e o Legislativo e disse que ela precisava conciliar três conceitos: pagar os precatórios, respeitar o teto dos gastos e fazer o "programa social robusto que possa alcançar o máximo possível dos brasileiros". Pacheco disse basicamente que o governo quer estabelecer um limite para pagar os precatórios neste ano e negociar o que ficou fora desse limite com outras alternativas, como encontro de contas e pagamentos com ativos. Depois dessas duas etapas, a solução segue com "a transferência do saldo devedor para 2023", ou seja, para o próximo governo, do qual eles podem ou não fazer parte.

A situação nos EUA pesa bem aqui também, falo com relação à retirada dos estímulos gradualmente da economia de lá, afinal após isso ocorrer o passo seguinte é aumentar juros, e mercado vai se antecipando aos fatos. Esse movimento que seria apenas em 2023 e possivelmente antecipado para 2022 dá força ao dólar. Mas, como isso foi divulgado, quarta-feira após as 15:30 mercado reagiu a tarde, até aí ok reagimos aos fundamentos. Mas daí ontem a alta foi uma continuação a essa reação pesando bem mais do que ao aumento da Selic, afinal estamos ainda correndo atrás da inflação e esse 1 ponto pareceu um remédio bem fraco para o cenário atual.

O fato de os bancos centrais pelo mundo a fora começarem a normalizar suas políticas não é bom para os emergentes. O presidente do Federal Reserve Jerome Powell, por exemplo, deixou claro que o tapering deve ser anunciado em novembro e nem mesmo um payroll mais ou menos vai atrapalhar.

Para hoje no Brasil, saem confiança do consumidor e IPCA-15 de setembro. Nos EUA, discurso de Powell as 11h00 e mais dois discursos de membros do Fomc: Clarida e Bowman. Investidor segue acompanhando essas falas. Na Europa, discurso de Elderson, vice-presidente do Comitê de Supervisão do Banco Central Europeu e de Lane, membro do Comitê Executivo do Banco Central Europeu.

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