O dólar tem sustentado preço mesmo quando o ambiente internacional indica depreciação da moeda americana ante a cesta de moedas das economias desenvolvidas, e, também, das demais emergentes.
Este preço absolutamente tóxico para a economia brasileira dada a sua capacidade de repercussão nos preços e desorganização da relativização entre os mesmos, tem um consistente conteúdo de viés altista, pois resiste à tendência do comportamento da moeda americana no mercado internacional, muito sensível neste momento ao vai e vem das tratativas no Congresso americano no entorno do novo programa governamental focado na reabilitação dos danos ainda presentes na economia americana consequentes da pandemia do coronavírus.
A Bovespa, por sua vez, busca “fôlego” na perspectiva de aumento da liquidez internacional que pode advir do novo programa americano se for efetivado, embora saiba que é gás curto para suas perspectivas já que os recursos estrangeiros continuam não sinalizando atratividade pelo país, e desta forma enseja movimentos fortes de operações de “day trade”, mas deixam receosos os projetos de novos IPO´s.
Como temos enfaticamente pontuado o Brasil, o seu governo federal, enfrenta neste momento um inquietante dilema, um “corner” mesmo, pois carrega uma expressiva crise fiscal que circunda o limite do rompimento do teto orçamentário na concomitância de ter que dar sustentação e continuidade aos programas assistenciais sociais à população carente.
A economia brasileira tem gerado discretos sinais de recuperação, por vezes maximizados em suas propagações, mas embora até recentemente não se admitisse a dura realidade, ganha transparência que grande parte decorre do fluxo de renda gerado pelos programas assistenciais, em especial nas regiões do norte e nordeste, mas também relevantes nas demais áreas.
Há setores como o agronegócio e a construção civil que têm sido bandeiras de sustentação da recuperação e assim disseminado em destaque, contudo, o agronegócio foi expressivamente favorecido por dois fatores: a taxa cambial induzida para ser alta pelo governo e a demanda internacional sustentando preço ao longo da pandemia, enquanto que, a construção civil é a “nova poupança” da classe média que, insegura quanto a reserva de valor dos ativos financeiros, migra para o tradicional “tijolo e cimento” como postura defensiva.
No mais na medida em que se acentuem as dúvidas e incertezas em torno das perspectivas face ao “corner” em que o governo está envolvido, o “porto seguro” para empresas e pessoas físicas mais elitizadas é o dólar, com a formação de posições defensivas no mercado de câmbio futuro.
Lamentavelmente, afora o agronegócio, a política de “câmbio alto e juro baixo” se revela propagadora de intensos malefícios a economia nacional, provocando o retorno da indesejável inflação a partir dos produtos alimentares exportáveis que atinge a todos os brasileiros, e desorganizando de forma intensa os índices aferidos de inflação e que acentuam ainda mais a contração da capacidade de consumo da população.
No mercado de câmbio à vista não há pressões, o que sugere não houvesse sustentação para o preço ante movimento depreciativo da moeda americana no mercado internacional, mas é a utilização do mercado futuro de dólar para “hedge para insegurança” que dá suporte ao preço atual e pode até conduzi-lo a patamar mais elevado se o comportamento externo da moeda americana se alterar.
O fluxo cambial até o dia 18 último está negativo em US$ 1,056 Bi, sendo positivo no comercial em US$ 107,0 M e negativo no financeiro em US$ 1,163 Bi.
Considerando os amplos malefícios que esta taxa tóxica provoca em cadeia na economia como um todo, temos apontado a necessidade do BC agir preventivamente ofertando swaps cambiais novos para quebrar a propensão a alta em perspectiva.