A crise atual tem várias semelhanças com a crise de 2002, mas os fundamentos econômicos do país são muito mais fortes hoje, em grande parte devido a sua posição em reservas internacionais.
Os temores dos investidores aumentaram com o excesso de *gastos fiscais, o aumento da inflação, desencadeado em parte por um baixo nível de água, elevando o preço da energia elétrica, as preocupações com a eleição do próximo ano e um colapso nos custos das commodities.
Em minha opinião, esses medos são exagerados. O país enfrentou desafios semelhantes no passado e os superou apesar de fundamentos macroeconômicos muito piores.
Moeda brasileira está profundamente desvalorizada
Não apenas as ações brasileiras estão muito baratas, mas o real também está profundamente desvalorizado. A taxa de câmbio real da moeda em relação ao dólar (Paridade do Poder de Compra), que leva em consideração as taxas relativas de inflação em ambos os países, está atualmente quase 40% abaixo de sua média de longo prazo desde 1992. A única vez que a moeda esteve materialmente mais fraca do que hoje foi no auge da crise de 2002.
A crise atual tem uma série de semelhanças com a crise de 2002, com os participantes do mercado se desfazendo dos ativos brasileiros em meio a uma combinação de preocupações políticas e econômicas. A mais notável delas é a crescente probabilidade de que o Luiz Inácio Lula da Silva chegue ao poder. Naquela época, temia-se que um novo governo Lula não pagasse sua pesada dívida externa, que o próprio Lula havia feito campanha.
Desta vez, não faz sentido tal preocupação. Embora as reservas do banco central representassem menos da metade da dívida externa do governo em 2002, atualmente são cerca de 4 vezes maiores. Mesmo se olharmos para os setores público e privado combinados, o balanço externo do país está em forma razoável. O déficit de investimento internacional líquido chegando a apenas 35% do PIB 2020, com a maior parte do passivo do Brasil em moeda local, o que significa que o tipo de ciclo vicioso de fraqueza da moeda e aumento da dívida externa não está na mesa hoje. Isso pode ser visto no preço que os investidores estão pagando para se proteger contra uma inadimplência do governo, que é insignificante no momento em comparação com 2002.
Na frente fiscal, há preocupações crescentes de que o governo Bolsonaro minará as finanças do país após a vitória de seus aliados da câmara e siga com a ideia de aumentar o limite do teto de gastos.
A situação fiscal do Brasil deve dar ao Banco Central mais espaço para aumentar as taxas de juros em resposta ao atual surto de inflação. Os títulos do governo brasileiro de 5 anos estão atualmente 519 pontos-base acima das expectativas de inflação de 5 anos, o que significa que os investidores esperam que o Banco Central suba agressivamente no próximo ano. Em contraste, o número dos EUA é -170 bps. Esse spread de quase 7 pontos percentuais deve permitir que o real supere o dólar em termos reais.
Para Concluir: A moeda brasileira está extremamente barata em relação aos seus pares, bem como em comparação com sua própria história, uma vez que os investidores se desfizeram de ativos em meio a uma confluência de riscos políticos e econômicos que ecoavam em 2002. No entanto, esses riscos são administráveis hoje devido à melhora do quadro externo do país e os ativos do país devem apresentar desempenho superior nos próximos anos.
* Essa é uma preocupação do mercado, porém minha opinião diverge desse quase consenso sobre o teto de gastos.
Bons negócios para todos!