Sabemos que o dinheiro exerce um papel central em nossa vida diária, transcendendo sua função básica de meio de troca para tornar-se um influenciador chave de nosso bem-estar e qualidade de vida. Desde os tempos do escambo até a era digital atual, a maneira como interagimos com o dinheiro evoluiu drasticamente. Esta evolução trouxe consigo uma complexidade crescente em nossa relação com as finanças, afetando não apenas nossas decisões econômicas, mas também nosso estado emocional e psicológico.
A transformação do valor da mercadoria, que outrora era medida pela qualidade, tempo de produção, necessidade e escassez, hoje se resume ao valor monetário. No entanto, esta simplificação aparente esconde uma realidade mais interligada: o dinheiro tornou-se uma fonte significativa de estresse e ansiedade para muitos. Com o advento de novas tecnologias e métodos de pagamento, embora nunca tenha sido tão fácil acessar e gerir recursos financeiros, paradoxalmente, nunca foi tão desafiador manter uma saúde financeira saudável.
Problemas físicos, emocionais, alimentares, profissionais, variações de humor, dificuldades de dormir, entre vários outros problemas têm impactado as nossas vidas. Não é difícil, portanto, entender que o dinheiro é um ponto de tensão. Trata-se de uma tensão financeira que está presente nos lares de milhares de brasileiros.
Diante de tal constatação, como podemos ajudar? No meu dia a dia, lido com os problemas financeiros das pessoas. Convivo, diariamente, com as angústias e anseios de centenas de famílias. Tudo isso, ao longo do tempo, me permitiu enxergar as situações com um outro olhar. Um olhar mais empático, mais sensível às diferentes realidades econômicas e estruturas familiares. Essa experiência tem me ajudado a identificar mais rapidamente alguns sintomas e a diagnosticar melhor algumas doenças financeiras.
Neste artigo, quero dividir com vocês como certos padrões de comportamento financeiro podem se manifestar como “doenças financeiras” – condições que refletem as complexidades e desafios de gerir o dinheiro na sociedade. Ao lançar luz sobre estas condições, a minha ideia é começar a fornecer instrumentos que possam ajudar indivíduos e famílias em sua relação com o dinheiro. Abaixo, listo algumas doenças (doze) que fazem parte da minha lista:
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Infidelidade financeira: caracterizada pela conduta de ocultar ou mentir sobre gastos, dívidas ou ativos financeiros para evitar conflitos ou por receio do que o outro pode pensar ou sentir.
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Ansiedade financeira: caracterizada pela preocupação excessiva com a situação financeira, mesmo quando as condições são estáveis.
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Depressão financeira: caracterizada pelo estado de desesperança e desânimo devido a dificuldades financeiras.
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Obesidade financeira: caracterizada pelo acúmulo excessivo de dívidas ou gastos.
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Anorexia financeira: caracterizada pelo medo irracional de gastar dinheiro.
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Paralisia financeira: caracterizada pela incapacidade de tomar decisões financeiras importantes devido ao excesso de informações ou medo de cometer erros.
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Miopia financeira: caracterizada por enxergar apenas retornos financeiros de curto prazo, ignorando os objetivos e necessidades de longo prazo.
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Insônia financeira: caracterizada pelo estresse financeiro constante, mesmo em situações financeiras mais confortáveis.
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Amnésia financeira: caracterizada pelo esquecimento ou negligência das despesas passadas, levando a repetir os mesmos erros financeiros.
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Transtorno Obsessivo Compulsivo Financeiro (TOCF): caracterizada pela verificação frequente e obsessiva das finanças, investimentos ou gastos.
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Síndrome do Impostor Financeiro (SIF): caracterizada pelo sentimento de inadequação ou não merecimento de sucesso financeiro, independentemente de quão bem-sucedido alguém possa ser.
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Esgotamento Financeiro: caracterizado pela exaustão devido ao constante controle das finanças pessoais, especialmente em situações de dívida crônica ou dificuldades financeiras contínuas.
Dito isso, comecei a elaborar um acervo com os remédios financeiros adequados para o tratamento, com o objetivo de ajudar meus pacientes a ter uma vida financeira mais saudável. Hoje, compartilho com vocês parte dessa lista.
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Infidelidade financeira: recomendo transparência e comunicação aberta e honesta sobre dinheiro. É importante estabelecer metas financeiras conjuntas e criar o orçamento juntos, ainda que seja feito por quem tem mais facilidade.
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Ansiedade financeira: recomendo a criação de um plano financeiro claro e o estabelecimento de um fundo de emergência.
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Depressão financeira: recomendo a busca de ajuda profissional (psicólogos e educadores financeiros).
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Obesidade financeira: recomendo a criação de um orçamento mais rigoroso e um plano de redução de dívidas que parta de uma reflexão sobre os hábitos de consumo.
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Anorexia financeira: recomendo a conscientização sobre gastos mais saudáveis e o quanto podem melhorar a qualidade de vida.
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Paralisia financeira: recomendo um processo de desmistificação do dinheiro.
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Miopia financeira: recomendo um processo de educação financeira a respeito do impacto positivo de investimentos e economias para metas de longo prazo.
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Insônia financeira: recomendo a busca de ajuda profissional (psicólogos e educadores financeiros) e literacia financeira para aumentar o conhecimento e reduzir a ansiedade decorrente da incerteza.
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Amnésia financeira: recomendo o uso de aplicativos e ferramentas para monitorar gastos e manter o controle financeiro.
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Transtorno Obsessivo Compulsivo Financeiro (TOCF): recomendo ajudar a encontrar um equilíbrio saudável entre estar ciente das finanças e obsessão.
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Síndrome do Impostor Financeiro (SIF): recomendo terapia para tratar autoestima, relação com dinheiro e questões de autoimagem, bem como aconselhamento financeiro para reavaliar conceitos equivocados.
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Esgotamento Financeiro: recomendo períodos de descanso e desligamento. Delegar e automatizar a gestão financeira também pode ajudar.
Em conclusão, as doenças financeiras que discutimos aqui refletem a complexa relação que temos com o dinheiro. Cada doença, seja a infidelidade financeira ou o esgotamento financeiro, exige uma abordagem cuidadosa e personalizada, pois cada pessoa possui uma realidade única.
As soluções propostas, que vão desde a comunicação aberta até a terapia profissional, enfatizam a necessidade de uma abordagem multidisciplinar para tratar essas doenças. Ao reconhecer e abordar esses problemas, podemos ajudar indivíduos e famílias a alcançar uma vida financeira mais equilibrada e saudável - uma vida mais significativa. Por fim, é importante lembrar que a nossa saúde financeira é um aspecto integrante do nosso bem-estar geral e merece atenção e cuidado contínuos.