Você lembra como era a relação dos seus pais com o dinheiro? Eles lidavam com isso numa boa ou sempre foi algo complicado?
Bom, o fato é que em geral o dinheiro é um grande tabu. Ninguém fala desse assunto até que ele vire um problema. As brigas por conta de dinheiro, por exemplo, são a maior causa do divórcio entre casais.
O tabu é profundo e se reflete em questões culturais. Passamos nossa vida escolar inteira sendo estimulados a aprender e buscar uma profissão que, no futuro, nos faça “ganhar” dinheiro, mas em momento algum da nossa juventude aprendemos a efetivamente "usá-lo" bem.
Percebo que esse assunto acaba ficando preso a todos os tipos de problemas morais e se torna uma espécie de barreira porque sua tarefa especial é traduzir qualidades em quantidades. Será que perguntar a uma pessoa o quanto ela ganha é considerado algo polêmico porque você está indiretamente questionando o seu valor pessoal?
Agora, vou te fazer uma pergunta ainda mais difícil. Você se lembra de quando aprendeu a falar?
Ok, nessa peguei pesado e você provavelmente não se lembra. Mas posso te assegurar que foi um processo bem natural para você. Dia após dia você identificava um novo som e associava esse som a alguma coisa. Em um determinado momento, você olhou para a rua e disse: “bicicleta”.
O tempo foi passando, sua compreensão do mundo foi se ampliando e um belo dia você já conseguia dizer: “Essa bicicleta é linda, mamãe”.
Neste momento, reflita sobre esse processo de aprendizagem lá da infância. Em pouco tempo você conseguiu transformar as imagens que apareciam na sua frente nesse complexo sistema de palavras, articulou em frases e depois em ideias elaboradas.
Aprender a falar e depois a ler e escrever são processos estruturados que tomam tempo e energia. Por isso que se matricular em um curso de inglês e passar 2 horas por semana repetindo frases prontas como “I drink juice for breakfast” não vai tornar você — nem ninguém — fluente.
Aprender a lidar com dinheiro é um processo orgânico e semelhante a aprender a falar. Tanto é que a educação financeira nos EUA é chamada de “Financial Literacy”, ou Letramento Financeiro (tradução livre). Assim como na alfabetização e na aprendizagem de um novo idioma, esse também é um processo.
Se você passou a sua vida inteira tratando o dinheiro de forma errada, não basta assistir alguns vídeos no Youtube e achar que a sua vida financeira será resolvida em um passe de mágica.
Mas, se você realmente quer mudar a sua relação com o dinheiro, acredite: a educação financeira funciona e podemos provar cientificamente. A mais recente meta-análise sobre a efetividade dos programas de educação financeira mostra evidências claras de que ela afeta tanto o conhecimento financeiro quanto o comportamento com relação às finanças.
As estimativas dos efeitos da educação financeira são de três a cinco vezes maiores do que as fornecidas em estudos anteriores, incluindo meta-análises anteriores. Isso mostra que os programas de educação financeira nos EUA, por exemplo, estão ficando mais eficazes com o tempo.
Bom, então qual é o primeiro passo? O primeiro passo é abordar o assunto “dinheiro” de forma natural na sua vida. Igual quando você aprendeu a falar!
Você não precisa ser um especialista para começar a investir, da mesma forma que você não precisa ser um linguista para falar.
Antes de entender tudo sobre renda fixa, por exemplo, você precisa saber identificar as armadilhas psicológicas que seu cérebro usa para tentar te sabotar. Nesse início, será mais útil para você entender que as suas contas mentais são um viés poderoso que pode te levar ao endividamento do que saber tudo sobre debêntures.
A alfabetização financeira é a capacidade de compreender e aplicar de forma eficaz várias habilidades financeiras, incluindo gestão financeira pessoal, orçamento e investimentos. Ela vai possibilitar que você construa uma reserva de emergência e esteja preparado para imprevistos financeiros, além de impedir que você fique endividado.
Então comece hoje. Como sempre digo: é mais fácil do que você pensa!