Alvaro Bandeira é sócio e economista chefe do Banco digital modalmais
Finalmente, o Brasil e o mundo acordaram para os graves problemas econômicos gerados pelo Covid-19, que exige colossal disponibilidade de recursos para ajudar empresas (principalmente pequenas e médias) e pessoas vulneráveis, seja em saúde ou no processo de subsistência. O Brasil demorou muito para sair do discurso (verdade que existiam muitos entraves e essa é só uma constatação) para a prática, e o mesmo acontece com diferentes países espalhados pelo mundo.
Começamos essa semana com o governo (via Caixa Econômica e Banco do Brasil) anunciando que vai começar a pagar ainda nessa semana às pessoas cadastradas no MEI – Microempreendedor Individual e INSS, aqueles tais R$ 600, com saques escalonados e principalmente com dinheiro vivo. O Bacen também estuda como acabar com o empoçamento de recursos no sistema bancário, fazendo chegar às pequenas e médias empresas, já que as grandes têm maior número de alternativas para acessarem, mas também vão precisar de suporte.
Os recursos do fundo constitucional garantem uma parte disso para capital de giro (R$ 100 mil) e investimentos (R$ 200 mil). Ontem, a Febraban rebateu a crítica do ministro Paulo Guedes sobre o empoçamento, dizendo que os bancos já repactuaram R$ 200 bilhões em meio à crise e que as cinco maiores instituições já processam mais de 2 milhões de pedidos. O Bacen ainda estuda como flexibilizar temporariamente o colchão de reservas nesse período de crise.
O secretário do Tesouro Mansueto de Almeida dá o tom presente do governo dizendo que o desafio é garantir que a Saúde tenha os recursos necessários e que não vão se preocupar agora com o lado fiscal, gastando o necessário para proteger pessoas mais vulneráveis. Porém, ainda acreditamos que será preciso um programa maior que os R$ 800 bilhões falados pelo ministro Paulo Guedes.
Até a encrenca do presidente Bolsonaro com o ministro da Saúde Mandetta teve um desfecho correto (ainda que provisório), com a permanência do titular na pasta e o presidente mais silente. Rodrigo Maia declarou que Bolsonaro não demitiria Mandetta (é de seu partido, o DEM), pois ele governa mais com as redes sociais que com o parlamento, mas, apesar da alfinetada, segue pregando a união dos poderes, o que certamente é absolutamente necessário.
No mundo, a situação não é muito diferente, e os países que saíram na frente em termos de medidas já buscam soluções maiores. Nos EUA, a presidente da Câmara Nancy Pelosi diz que um novo projeto fiscal seria de pelo menos mais US$ 1 trilhão, depois daqueles US$ 2 trilhões aprovados na semana passada. Trump também fala em retomar projetos de investimento em infraestrutura e volume novamente de US$ 2 trilhões. O mesmo acontece com os países membros da União Europeia, e até os não membros. A União Europeia anunciou que vai destinar 15 bilhões de euros para ajuda a países fora do bloco. O FMI e o Banco Mundial vão na mesma direção e pedem que os países desenvolvidos aliviem dívidas de países pobres.
O Japão acaba de anunciar estado de emergência e divulgou um pacote que atinge US$ 988 bilhões. A Alemanha e outros países chegam a movimentar no total algo que passa de 50% do PIB (Alemanha) e 20% (Itália); e assim vamos com outros tantos com mais de 10% do PIB.
O problema será quando todos tiverem que ajustar suas economias depois desse esforço de guerra. O IIF dá o tom dessa preocupação ao diagnosticar que a dívida global pode avançar para 342% do PIB mundial em 2020, algo impagável, e que o crescimento em 2019 foi de US$ 10 trilhões, atingindo US$ 255 trilhões.
Em termos de Brasil, não podemos reincidir no erro de manter políticas anticíclicas. Assim que acabarem os efeitos do Covid-19, o país precisa voltar para a agenda original de reformas e ajustes na economia ainda mais duros, antes de pensar na agenda liberal de crescimento e de investimentos privados. O governo ainda será importante para iniciar a retomada do crescimento pós-pandemia.