A inflação chegou
Nos últimos 12 meses, a inflação brasileira, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), acumula pouco mais de 8 por cento de alta, de acordo com o IBGE. Esse é o patamar de inflação mais alto desde 2016.
Vejo que isso significa uma perda significativa do poder de compra em um curto espaço de tempo, mas por outro lado vejo que é algo atípico também! Explico: entendo que toda essa inflação mais alta está relacionada à conjuntura que estamos vivendo atualmente (na qual observamos desvalorização do real, reprecificação no preço de alimentos, pandemia ainda com efeitos sobre a reabertura…), não sendo portanto algo estrutural, mas sim provisório.
Além disso, à medida que o Banco Central vai subindo os juros, deveremos ver um arrefecimento mais à frente na inflação. Mas isso é assunto para outro dia, pois tem algo mais importante que vamos atacar hoje: qual o impacto que a inflação tem em seus investimentos?
Qual o efeito?
Vamos fazer um paralelo bem básico! Pense que, ao investir, você está trocando consumo hoje por uma expectativa de consumir mais no futuro. Imagine que suas compras mensais custam em média 500 reais e que você consiga separar o mesmo montante para investir.
Se você conseguir uma rentabilidade de 10 por cento em um ano, o seu capital inicial teria se transformado em 550 reais após esse período. Até que parece bom, não é mesmo? Na verdade, depende!
Se nesse mesmo período a inflação também tivesse sido de 10 por cento, as suas compras mensais subiriam para um valor muito próximo desses 550 reais, ou seja, você teria tido um ganho nominal, mas seu poder de compra continuou praticamente o mesmo.
Logo, fica o entendimento de que é necessário rentabilizar o dinheiro de modo que você ganhe poder de compra no longo prazo, concorda? Mas então, como fazer isso?
Proteja-se dela!
Quando olhamos para o passado, vemos que os dividendos que as empresas listadas distribuem aos seus acionistas são protegidos contra a inflação de uma maneira bastante consistente.
Afinal, as boas companhias apresentam a capacidade de repassar o aumento de custos para os seus preços, crescendo assim resultado e dividendos futuros conforme a inflação. Logo, os dividendos, em teoria, a longo prazo, são mais capazes de apresentar um ganho real.
Não é familiarizado com o tema? Calma, vamos aprofundar!
No curto prazo, um choque inflacionário faz com que os custos das companhias subam, o que impacta a Margem Bruta (Lucro Bruto/Receita Líquida) das empresas, mas eventualmente esse aumento é repassado para seus clientes, fazendo com que as margens fiquem relativamente estáveis, ou até aumentem em algumas ocasiões.
É exatamente isso que vemos quando fazemos um gráfico comparando a Margem Bruta do IBOV com o IPCA ao longo do tempo. Aqui, também poderíamos fazer comparações com outros índices de inflação, como o IGP-M, considere apenas como uma ilustração para o estudo de caso.
Como podemos observar no gráfico, no começo da onda inflacionária de 2014 para 2015, as empresas viram suas margens caindo, mas em 2017 elas voltaram para os patamares anteriores. Uma vez que conseguimos ver que as companhias, em média, realmente conseguem repassar a inflação para seus clientes, podemos inferir que o lucro e consequentemente os dividendos dos acionistas serão ajustados no final das contas.
É claro que nem todas as companhias têm o mesmo poder de repasse de preços! Empresas do setor elétrico, de forma geral, têm contratos vigentes que determinam que os valores pagos pelos clientes deverão ser ajustados por um índice de inflação, não sendo uma questão de demanda.
Isso é diferente para uma companhia de proteínas, por exemplo. Se o preço do frango sobe muito, os consumidores vão procurar produtos substitutos, e caso os preços dos substitutos não acompanhem a subida, provavelmente o impacto será negativo sobre as vendas dessa empresa (já que a tendência natural seria de uma migração para os substitutos). A grande questão é conseguir repassar preço sem grande variação na quantidade, o que é chamado de elasticidade.
Sendo assim, é natural que existam empresas que, tanto por seu modelo de negócios e seu porte quanto pelo próprio setor que estão inseridas, apresentem uma melhor capacidade de lidar com um período inflacionário.
Olhe para os dividendos!
Em suma, a mensagem principal de hoje é: o dividendo é uma métrica real, corrigida pela inflação. Portanto, investir em ações pode ser um ótimo ativo para se proteger da inflação.
Por isso, é fundamental buscar ações de empresas que têm mais facilidade de repassar a inflação para os preços de seus produtos e serviços, pois elas oferecem proteção contra a inflação nos dividendos que distribuem aos seus acionistas.
Os setores que mais costumam ter empresas com esse perfil são os de consumo e de utilities – por exemplo, concessionárias de serviços públicos, como água e energia elétrica.
A preferência por ações de empresas que pagam bons dividendos parcialmente corrigidos pela inflação é uma das formas mais conservadoras de investir em ações.
Um grande abraço e bons negócios.
Até a próxima.