Trabalhando na assessoria e conversando com alguns investidores é possível perceber que muitos estão focados na geração de renda passiva. As ideias de receber rendimentos mensalmente, tal como uma renda extra, a independência financeira com dividendos e o efeito bola de neve com o reinvestimento dos proventos pagos tem motivado cada vez as pessoas a buscarem ativos que sejam bons pagadores, tais como algumas ações e os fundos imobiliários.
Diante desses desejos, o investidor (principalmente o iniciante) acaba colocando a lupa num indicador específico: o dividend yield. O dividend yield indica o retorno em dividendos de uma empresa ou fundo em relação ao preço de fechamento daquele ativo, tal como pode ser visto abaixo:
E aí, aquele investidor que está ingressando no mercado pode pensar o seguinte: "Bom, meu foco é receber dividendos, então, quanto maior o dividend yield, melhor."
É justamente aí que mora o perigo. Yield alto não significa necessariamente que o ativo é bom. Da mesma forma que yield baixo não significa um ativo ruim.
Vamos pensar no seguinte cenário: um FII de tijolo XPTO11 com vacância zerada distribui R$ 0,50/cota de rendimento mensal e 1 cota deste fundo custa R$ 100. Logo, o dividend yield nesse caso será de 0,50% ao mês.
Agora, vamos supor que o fundo em questão começa a ter problema pra renovar os contratos de locação, começa a registrar aumentos sucessivos de vacância e daí o dividendo cai para R$ 0,30/cota. E diante de todos esses problemas de fundamento no XPTO11, o mercado fica mais preocupado e daí o fundo passa a custar R$ 50. Nesse caso, o dividend yield será de:
Veja, nesse segundo cenário, o fundo claramente está indo para um caminho de perda de qualidade e ainda assim apresentou um dividend yield maior do que no cenário onde os fundamentos estavam com qualidade. Conseguiu ver como o dividend yield pode ser uma armadilha?
Se você não tiver o cuidado de buscar informações no relatório gerencial do FII, nas apresentações institucionais das empresas e se deixar levar só pelo dividend yield, você pode acabar investindo em negócios ruins com a ilusão de serem bons pagadores de dividendos.
Para não faltar aqui, vou trazer um exemplo do mercado para ilustrar a variação do yield em função do preço da cota. Mas antes, é valido comentar que não estou recomendando compra ou venda do ativo mencionado. Na figura abaixo é possível ver a evolução do yield mensal do DEVA11 (BVMF:DEVA11) de agosto/23 até agora janeiro/24.
Perceba que entre agosto e outubro, o dividendo mensal ficou numa constante, porém, o preço da cota variou consideravelmente. Vamos lembrar que 2023 foi um ano bastante turbulento para a família TDVH (TORD11, DEVA11, VSLH11 e HCTR11 (BVMF:HCTR11)) por conta do Gramado Parks e de outras questões envolvendo a holding RTSC. DEVA11 registrou queda forte entre agosto e outubro (28,1%) e perceba a evolução do yield mensal nesse período.
Com isso, pra finalizar, o que eu quero que você entenda: yield alto pode ser uma armadilha. Analise o ativo com cuidado e vá além do dividend yield, afinal de contas, é como digo: se você está buscando dividendo, você precisa mirar na qualidade do ativo. Se o ativo for de qualidade e bem gerido, o dividendo será uma boa consequência disso.
Conta comigo e forte abraço!