Instabilidade política, déficit fiscal, discursos preocupantes de gestores públicos do primeiro escalão e até mesmo crises externas, como a guerra entre Rússia e Ucrânia são capazes de influenciar os resultados da Bolsa de Valores. Não por acaso, a Bolsa brasileira tem estado extremamente volátil nos últimos meses. A solução para reduzir a possibilidade de perdas com o sobe e desce do mercado é a diversificação dos ativos.
Mas quando falamos em diversificar, nos referimos não somente aos tipos de ativos. A ideia é que a diversificação seja geográfica com a compra de ações de empresas de outros países. Desta forma, a parte do capital que estiver alocada no exterior estará imune aos problemas de ordem interna, assim como o capital mantido no Brasil não será tão afetado por turbulências em outras localidades do mundo. Claro, em caso de crises globais não há para onde correr, mas elas são bem menos frequentes.
Essa descorrelação de mercados é um dos pontos mais importantes no momento de montar um portfólio diversificado. Isso porque quanto mais conectados estiverem os ativos de um portfólio, maior o risco de perdas. Entenda que ativos diferentes de um mesmo setor da economia podem se comportar de forma igual ao se desvalorizarem ou se valorizarem.
Então, como já explicado, os investimentos internacionais permitem aproveitar a descorrelação que existe entre o mercado interno e externo. Assim, uma crise no mercado brasileiro possivelmente não causará perdas no contexto internacional, por exemplo. Logo, é possível aproveitar os diferentes comportamentos dos ativos para diversificar seus riscos e equilibrar a carteira.
Além disso, quem busca o mercado externo tem a possibilidade de participar dos resultados das maiores empresas do mundo, além de mercados e setores que lá fora são mais desenvolvidos do que por aqui. Sem contar que a alta dos juros americanos nos últimos meses se mostra como boa oportunidade para lucrar com riscos menores do que no Brasil.
As economias mais fortes de países europeus ou mesmo Estados Unidos também se mostram vantajosas. Considerando o câmbio atual, com o real desvalorizado, o investidor brasileiro pode obter ganhos expressivos não só pela performance do ativo adquirido, mas pelo próprio câmbio na hora de trazer o dinheiro para o Brasil. Sem contar a possibilidade de receber dividendos em dólar. Diversas empresas estrangeiras, fundos de índice (ETFs) e real estate investment trusts (REITs) — que funcionam como fundos imobiliários americanos — distribuem esse tipo de provento. Dessa forma, você pode potencializar os resultados da sua carteira. Também é possível aproveitar para reinvestir os dividendos e impulsionar a construção do seu patrimônio.
Como se vê, as vantagens de investir em ativos no exterior são muitas. Mas você, leitor, deve estar se perguntado como fazer para investir lá fora? Uma forma bastante comum é por meio de BDRs (Brazilian Depositary Receipts).
O BDR tem como característica não ser uma compra direta de ações, mas possibilita ao investidor se expor aos riscos e oportunidades proporcionadas pela empresa escolhida. Por meio das BDRs dá para comparar papéis de empresas de tecnologia ou farmacêuticas, segmentos fracos por aqui, mas que lá fora é relevante por contar com empresas de porte global que não negociam suas ações na Bolsa brasileira.
Entre as ações mais recomendadas no exterior e que o investidor pode ter acesso por meio de BDRs estão: JPMorgan (BVMF:JPMC34)(NYSE:JPM), Alphabet (BVMF:GOGL35)(NASDAQ:GOOGL) (Google), Berkshire Hathaway (BVMF:BERK34) (NYSE:BRKa), Johnson & Johnson (BVMF:JNJB34) (NYSE:JNJ) e Apple (BVMF:AAPL34)(NASDAQ:AAPL). Mas caso o investidor prefira obter ganhos na renda fixa estadunidense, ele pode investir em Exchange Traded Funds (ETFs), que são fundos de índice.
É claro que o interessado deve ficar atento ao movimento dos juros lá fora e aqui e à oscilação do dólar para alterar a estratégia sempre que necessário. No caso atual, em que o real está desvalorizado, os ganhos no exterior somados à diferença no câmbio, só trazem vantagem e minimizam possíveis perdas obtidas no mercado interno. A segurança de um mercado mais maduro e consolidado é uma recompensa que está próxima às mãos dos brasileiros. Como se vê, investir lá fora faz todo o sentido.
*Guilherme Gentile é head de análise da Dividendos.Me