NY encerrou a semana com o contrato futuro de açúcar para vencimento outubro/22 cotado a 18.46 centavos de dólar por libra-peso, um acréscimo de 37 pontos (equivalentes a 8 dólares por tonelada) em relação à semana anterior. A alta da semana foi possivelmente alimentada pela cobertura – por parte dos fundos especulativos – da posição vendida a descoberto que possuem e que podem ter zerado durante a semana. Se isso se confirmar, o que poderá impulsionar NY a partir de agora, em vista desse marasmo no mercado? Nos últimos 20 dias, o volume em NY tem sido inferior a 90,000 contratos diários. A média diária do ano é de 128,000 contratos.
O mercado físico de açúcar continua demandado, especialmente o VHP. Segundo um experiente corretor de físico, o açúcar para embarque outubro encontra raros vendedores. Por trás dessa demanda está o prêmio de branco (a diferença entre a cotação do açúcar refinado e o bruto) que negocia acima de 150 dólares por tonelada. Ora, imaginem as principais refinarias do planeta correndo atrás de açúcar bruto para aproveitarem os excelentes prêmios que o mercado está indicando. Não é por outra razão que é o basis (prêmio pago para o açúcar físico sobre o valor negociado no mercado futuro) aprecia, pois o comprador quer o produto imediatamente. Para ele [comprador, refinaria] em nada adianta comprar contratos futuros de açúcar em NY para receber o açúcar físico porque a expiração desse ocorre apenas no final de setembro e até lá as condições de mercado podem ser diferentes.
A disponibilidade menor do que prevista de açúcar de exportação na Tailândia, as condições adversas na logística e pesadas multas pela permanência de navios parados no porto (demurrage) por conta de atrasos na entrega de açúcar contribuem para um cenário positivo para o mercado, pelo menos até a entrada da safra indiana que, segundo fontes naquele país, “será tão boa quando foi esse ano”.
O hidratado continua experimentando uma queda acentuada nos preços tendo derretido 12% em apenas quatro semanas. O indicador semanal publicado pela ESALQ aponta um desconto de 350 pontos do combustível em relação ao açúcar em NY, mesmo considerando o CBIO na equação. Mercados não costumam sustentar uma distorção desse tamanho durante muito tempo. Ou o hidratado corrige (subindo), ou NY terá que cair para que essa diferença estreite.
No entanto, é claro que vivemos um período conturbado em termos de formação de preços. Pairam enormes dúvidas entre as usinas acerca de qual será o tributo federal sobre os combustíveis a partir de janeiro de 2023. Receio de uma piora nos preços dos combustíveis provoca uma mudança no mix de produção privilegiando o açúcar e consequentemente atingindo os preços.
O contraponto é que hidratado negociado a R$ 2,7000 o litro com impostos, como visto nessa semana, equivale a açúcar a 15 centavos de dólar por libra-peso que está abaixo do custo de produção se considerarmos amortização, depreciação, custo financeiro, entre outras despesas. Não parece ter consistência. Os acadêmicos dirão que custo de produção de safra que está sendo moída não tem a menor interferência na trajetória de preços, pois o produtor vai precisar vender de qualquer jeito. Eles têm razão. No entanto, menor rentabilidade e mercado encostando no custo de produção geralmente afeta os cuidados com plantio e renovação na safra seguinte. E é aí que o efeito preço baixo começa a ter importância.
O número de moagem publicado pela UNICA mostra um total acumulado de 322.0 milhões de toneladas de cana moídas até a primeira quinzena de agosto. Esse período, se olharmos os últimos dez anos, representou em média 58.6% do total moído no ano. Se pegarmos os últimos seis anos, representou 61%. Isso mostra, de maneira bem simples, que a moagem total deve ficar em torno de 535 milhões de toneladas de cana (máximo de 542 e mínimo de 528).
Uma curiosidade acerca do mercado de açúcar: até o momento, o mês de abril/22 exibe a média mensal de preços mais alta do ano: 19.65 centavos de dólar por libra-peso. Isso jamais aconteceu neste século, assim como nunca tivemos o preço médio mensal mais alto no período compreendido entre os meses de abril e julho. Para que esse fato não se concretize, os próximos meses teriam que voltar a negociar acima de 19-20 centavos de dólar por libra-peso. Você acredita?
Segundo estudo da FGV, o descalabro fiscal proporcionado pelo atual governo graças a redução populista de impostos em busca da reeleição vai deixar um buraco de R$ 430 bilhões, um déficit estimado em 4.3% do PIB. Ele compreende todos os gastos que não encontram cobertura no orçamento. É como se na sua casa, você tirasse todo o dinheiro guardado no cofrinho, gastasse como quisesse e colocasse no lugar um cheque sem fundo. A conta virá por meio de uma elevação de impostos. Com isso, é improvável que o etanol mantenha a isenção de impostos federais após o inicio de 2023, independentemente de quem assumir a presidência da república. Mas, no Brasil, tudo é possível.