Essa última terça-feira (24) marcou a chegada de uma nova onda de pessimismo com relação ao futuro político e econômico global, com o dólar fechando em R$ 4,165 apesar do relativo enfraquecimento da moeda frente a seus principais rivais globais.
Após um breve cessar-fogo na retórica entre China e EUA, Donald Trump voltou a adotar um tom agressivo em seu discurso na abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) – literalmente após a China aprovar a compra de 600 mil toneladas de soja americana, atendendo a um anseio do próprio Trump.
Mais tarde, a líder da Câmara dos/as Deputados/as dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, anunciou a abertura de um processo de impeachment de Donald Trump – notícia que estampa a capa das principais publicações norte-americanas nessa manhã. A decisão vinha sendo evitada apesar de pressão intensa dos setores liberais, na estepe de diversos escândalos, gafes e declarações polêmicas.
O estopim do processo foi a descoberta de uma ligação no qual Trump pressionou, segundo relata a mídia local, oito vezes o presidente da Ucrânia para que investigasse uma empresa da qual o filho de seu provável rival nas eleições de 2020, Joe Biden, foi diretor.
Formalmente, escreve Nicholas Fandos, do New York Times, o presidente é acusado de “trair seu juramento presidencial e a segurança nacional ao tentar acionar uma potência estrangeira para difamar um rival para seu próprio ganho político”. Donald Trump negou as acusações e prometeu disponibilizar a transcrição da conversa com o líder ucraniano.
É bom lembrar que há alguns dias a mídia americana noticiou a abertura de um outro processo, do tipo whistleblower, no qual um oficial do governo pede autorização federal para denunciar o próprio superior – no caso, Donald Trump. O termo whistleblower, literalmente traduzido como “soprador do apito”, remete a necessidade de soar o alarme quando em caso de uma emergência. No caso, a motivação foi que o chefe de Estado dos EUA fez promessas consideradas alarmantes a uma potência estrangeira – entretanto, nenhuma das duas foi revelada, por motivos de segurança nacional. Trump negou, também nesse caso, negou as acusações.
Cenário macroeconômico
Em meio ao cenário crítico que se desenhou de ontem para hoje, todos os índices futuros e à vista de bolsas da Europa operam em baixa, com o DAX (Alemanha), o CAC40 (França), o STOXX600 (600 maiores empresas europeias) e STOXX50 (50 maiores empresas europeias) com perdas superiores a 1%. Na Ásia, tanto a Nikkei (Japão) quanto o CSI300 (China) encerraram a sessão em baixa. Os índices futuros de bolsas dos Estados Unidos, no momento, têm baixas que vão de 0.19% a 0.32%, sugerindo provável abertura em terreno negativo às 10h30 (horário de Brasília).
Com os principais índices de commodities em queda, os dois maiores índices de força do dólar (DXY e USDOLLAR) operando em alta da ordem de 0,2% e moedas como o Euro, principal rival da moeda americana, em queda, o cenário é bastante favorável a uma alta no preço do contrato de dólar negociado no Brasil. Além disso, o Volatility Index, indicador de aversão ao risco de investidores da bolsa americana, subiu em torno de 3% nesta manhã, o que pode se refletir numa maior saída de capital estrangeiro do Brasil – outro fator que contribui para a alta do dólar.
Agenda econômica
Esse cenário pode mudar para melhor ou pior conforme são divulgados importantes dados da economia dos Estados Unidos, embora em ambos casos a tendência seja de pressionar a cotação no Brasil para cima: em caso de melhora, a economia dos EUA se torna mais atraente que a caducante economia brasileira; em caso de piora, diminui a disposição de grandes investidores em manter capital investido em mercados de maior risco, caso do Brasil.
Às 11h serão divulgados dados de novas vendas de casa (impacto: 3/3), um importante indicador da perspectiva a longo prazo dos consumidores/as americanos/as, já que se trata da contração de uma dívida que, em geral, se estende por mais de uma década. Às 11h30, dados oficiais sobre os estoques de petróleo do país serão publicados (impacto 3/3). Estes servem para ter uma noção do aumento ou diminuição da atividade industrial, visto que a commodity é a principal fonte de energia das fábricas – uma queda no estoque indica aumento da atividade, um aumento indica o oposto.
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Cenário técnico
Tendo fechado a sessão de ontem em R$4.165 – região de altíssimo volume de negociação – e tendo mais uma vez testado com sucesso o suporte oferecido pela região de R$4.150, além de uma máxima em R$4.185,5, o dólar pode hoje romper a região dos R$4.20 para buscar níveis mais altos, em função do cenário altamente desfavorável às moedas de países emergentes como o Brasil. Como de costume, é recomendável cautela nos momentos que precedem a abertura do mercado americano, às 10h30, pois o dia de hoje promete ser particularmente volátil.