Num ambiente tenso entre os poderes governamentais cuja tendência seria ancorar, ainda que contrário à tendência técnica, a depreciação do real com base no psicológico e, na margem, induzir movimento contingenciador da alta da Bovespa, a despeito do anúncio de inúmeros IPOs na pauta, o comportamento de ambos foi exatamente ao contrário.
Outrora, quando isto ocorreria se atribuía à ações pontuais do governo, por seus dealers ou entidades vinculadas, no sentido de “apagar ou atenuar” as pressões previsíveis sem fundamentos técnicos sustentáveis, meramente psicológicos, e, com isto, “acalmar” as percepções imediatas que o movimento repercutido por estes ativos.
O desalinhamento momentâneo do comportamento do real com seus pares emergentes pontificaram esta percepção, para a qual não há transparência para que se afirme peremptoriamente a ocorrência, mas não seria prática nova e nem somente deste governo, já tendo havido no passado.
Hoje, contudo, as moedas emergentes voltam a ter comportamento simétrico de depreciação ante a moeda americana, e, o preço local, a despeito de ainda exacerbado, pois teria fundamentos acentuar o viés de apreciação do real, já que em perspectiva segura o COPOM deve elevar a taxa Selic, e convenhamos, bem acima das projeções expressas no Boletim Focus desta semana, visto que a inflação está muito aquecida fomentada pelos reajustes de energia consequentes da crise hídrica e dos combustíveis, itens que repercutem rápida e intensamente em quase todos preços relativos da economia.
Os dados da inflação americana divulgados hoje, muito elevados, ancoram o fortalecimento do dólar contra as moedas emergentes, mas ao governo americano não interessa dólar forte, pois isto vai contra a estratégia de incentivar a atividade exportadora do país e dinamizar a retomada do desenvolvimento, por isso não tende a motivar o Federal Reserve a elevar o juro.
Evidente que o clima tenso, embora amenizado ontem por encontros entre os Poderes, ainda afeta a formação do preço do dólar no país, mas em perspectiva, ainda que as picuinhas continuem, este deve se depreciar, visto que a elevação do juro é um antídoto forte à depreciação do real, devendo promover seu equacionamento melhor com a realidade, visto que, afora as tensões políticas, o país conseguiu, ainda que frágil, equilíbrio fiscal e tem reservas cambiais suficientes que o tornam credor líquido em moeda estrangeira.
Ademais, a convicção de que o juro será elevado promove a expectativa de que haverá redirecionamento de capitais especulativos estrangeiros, através da montagem de operações de “carry trade”, para o país. À margem desta perspectiva, estão sendo programados inúmeros IPOs para este período, embora a economia brasileira ainda não esteja aquecida para tanto, o que pode comprometer as expectativas quanto ao desempenho destes novos papéis, mas poderá até, também, atrair investidores estrangeiros, e torna o índice Bovespa volátil.
Importante destacar que já merece observação o interesse dos investidores estrangeiros em debêntures de empresas brasileiras, que descolaram o juro antes das elevações aguardadas por parte do COPOM.
Tem sido observada muita convicção quanto ao crescimento do PIB, mas a percepção é de que fatores adversos como a continuidade da pandemia, com o país tendo imunizado com dupla dose algo em torno de somente 15% de sua população, o que é irrisório, para sustentar retomada da atividade sustentável com geração de emprego e renda adequados, até porque o desemprego é expressivo, e a crise hídrica, contingenciadora da atividade econômica pelo preço do insumo e pela disponibilidade, além de ser forte fomento à inflação, não estão tendo o devido peso de consideração nas projeções.
O CDS Brazil repercutiu o momento político tenso e subiu algo como 5,41% em relação à semana passada, situando-se agora em 173 pontos.
Evidentemente, por razões pontuais e conhecidas, o preço do dólar no nosso mercado está fora da curva técnica, o que induz à perspectiva de que o viés efetivo do mercado seja obviamente a apreciação do real, ante a tendência de elevações da taxa de juros.
O preço técnico do câmbio sugere R$ 5,00, e esta parece ser a tendência prospectiva, ou até menos se atenuados os fatores psicológicos presentes no momento.