- Opep+ deve realizar um corte de produção na reunião de 4 de dezembro.
- China, maior país importador de petróleo, enfrenta problemas graves com a Covid.
- Mercado petrolífero enfrenta dificuldades para determinar qual problema é maior.
Faltando menos de duas semanas para sua próxima reunião, a Opep+ não deixou qualquer dúvida em relação à sua decisão mais provável a partir de 4 de dezembro: mais um corte de produção, aumentando o temor de restrição de oferta no mercado petrolífero.
O curso dessas ações ficou mais evidente na segunda-feira, quando o ministro de energia da Arábia Saudita, Abdulaziz bin Salman, que lidera a aliança de 23 países produtores de petróleo, negou, em uma matéria do Wall Street Journal, que a Opep+ cogitava elevar a produção daqui a duas semanas.
“É bem sabido que a Opep+ não discute quaisquer decisões antes das suas reuniões”, afirmou Abdulaziz em comentários veiculados pela agência estatal de notícias SPA.
Ele prosseguiu dizendo que o corte de 2 milhões de barris por dia (mbpd) que entrou em vigor no início deste mês persistirá até o fim de 2023, prazo que o cartel ainda não havia explicitado. As manifestações de Abdulaziz significam, portanto, que haverá um déficit artificial de 2 mbpd no mercado por mais 12 ou 13 meses, independente da demanda petrolífera nesse período, que pode acabar sendo maior.
Mas a verdadeira bomba do ministro de energia saudita foi lançada em outra frase:
“Se houver a necessidade de tomar mais medidas, a fim de reduzir a produção para equilibrar a relação de oferta e demanda, estamos prontos para realizar essa intervenção”.
Com base nas manifestações da Opep+, está claro o que a aliança pretende fazer, no intuito de alçar os preços em um mercado que já se desvalorizou 20% nas últimas duas semanas: recuperar tudo o que ele ganhou após o início do seu corte de produção em novembro.
O contrato futuro do barril de Brent negociado em Londres e que serve de referência mundial para os preços do petróleo saiu de uma mínima de US$ 82 para quase US$ 100 poucos dias depois do anúncio de redução de oferta da Opep+ em novembro. Em março, sua cotação era de US$ 140, antes de dar início a uma desvalorização que já dura sete meses.
No fundo tocado na segunda-feira, o Brent perdeu o patamar de US$ 83, nível mais baixo desde fevereiro, antes que as declarações de Abdulaziz o fizesse voltar ao terreno positivo, fechando a US$ 87,45.
Já o contrato futuro do barril de West Texas Intermediate (WTI), negociado em Nova York, saltou de cerca de US$ 76 para quase US$ 96, com o mesmo pano de fundo. Em março, o WTI estava acima de US$ 130. Mas, na segunda-feira, o barril do Texas voltou a tombar abaixo de US$ 76, menor patamar desde janeiro, antes de se recuperar e fechar levemente em baixa no dia, a US$ 75,30.
Todos os gráficos são de SKCharting.com, com dados do Investing.com
Sunil Kumar Dixit, estrategista-chefe de análise técnica do site SKCharting.com, disse que as condições sobrevendidas poderiam fazer com que o WTI conseguisse voltar para a média móvel simples de 100 semanas de US$ 81,30.
“É preciso que ele atinja e feche acima de US$ 80; do contrário, é grande o risco de que volte a testar as mínimas de US$ 72,50 e US$ 71.”
O Brent, de acordo com Dixit, pode avançar para a região entre US$ 91 e US$ 95, caso conserve a força do repique testemunhado na segunda-feira.
"Mas ele precisa fechar acima de US$ 99,60, a fim de seguir em direção a US$ 107,80”.
O repique de segunda-feira no petróleo também foi impulsionado pelo vice-primeiro ministro da Rússia, Alexander Novak, aliado mais próximo de Abdulaziz fora do Golfo no âmbito da Opep+. Logo após as manifestações do ministro de energia saudita, Novak respondeu à proibição às importações e ao teto de preços para o petróleo russo, a serem aplicados pelos países ocidentais a partir de 5 de dezembro.
Ele reiterou que a posição da Rússia é de não vender seu petróleo a qualquer país que aplicasse o teto de preços, plano concebido pelo Ocidente para limitar a capacidade de Moscou de financiar sua guerra contra a Ucrânia. Assim como Abdulaziz, Novak fez uma ameaça velada de restrição de oferta no futuro. Caso seja sancionada com um teto de preços para o petróleo, a Rússia pode reduzir sua produção, declarou Novak.
“O resultado do teto de preços para o petróleo da Rússia será a redução da oferta”, acrescentou o vice-premiê.
O corte de 2 milhões de barris a partir de novembro não fez bem às relações entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita. Os sauditas lideram a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, composta por 13 membros e que forma o núcleo da aliança Opep+. A Rússia e mais nove países produtores de petróleo compõem o resto do grupo.
A redução da oferta da Opep+ a partir de novembro gerou uma breve alta dos preços do petróleo antes das eleições de meio de mandato nos EUA, fazendo com que o presidente Joseph Biden alertasse a Arábia Saudita que poderia haver “consequências” para suas ações.
Para a próxima reunião de 4 de dezembro, as autoridades americanas já contam que a Opep+ anunciará uma redução de cerca de 500.000 bpd, dado que a demanda petrolífera costuma ser maior durante o inverno, principalmente por óleo de calefação, de acordo com a reportagem do WSJ.
Alguns delegados da Opep+ teriam dito ao WSJ que poderia haver um aumento de produção em dezembro, em resposta à expectativa de que o consumo de petróleo geralmente sobe nos meses de inverno. A demanda petrolífera deve crescer 1,69 mbpd para 101,3 mbpd no 1º tri do ano que vem, em comparação com a média de 2022.
O ministro de energia saudita também já chegou a declarar que o reino forneceria petróleo “a todos que precisassem”.
Em uma tentativa de estimular um aumento de produção pela Arábia Saudita, o governo Biden defendeu, na segunda-feira, que Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro saudita, teria imunidade soberana em relação a processos federais relacionados ao brutal assassinato do jornalista Jamal Khashoggi. A decisão de imunidade seria o mesmo que uma concessão a Mohammed, por sua condição de governante de fato do reino, após a administração norte-americana tentar por meses isolá-lo.
Mas, ao que tudo indica, os sauditas estavam com as atenções voltadas a outro fato na segunda-feira: a explosão da situação do coronavírus na China, o que nos traz para o outro ponto desta história.
O que realmente é mais importante para os preços do petróleo neste momento: os cortes de produção da Opep+ ou a queda de demanda da China, devido à sua política de Covid zero?
São dois fatores de igual magnitude em termos de impacto para o mercado e o equilíbrio de oferta e demanda.
O mercado petrolífero global permanece restrito, “o que não é bom para um mundo que ainda depende muito dos combustíveis fósseis”, sobretudo diante das sanções crescentes ao petróleo da Rússia, alertou a Saudi Aramco (TADAWUL:2222), petroleira estatal da Arábia Saudita, no início deste mês. Ainda de acordo com a Aramco, a Opep+ controla mais da metade da oferta global de petróleo, mas os países produtores se defrontavam com uma capacidade ociosa “extremamente baixa".
No caso da China, o país é o maior responsável pelo aumento da demanda mundial de petróleo na última década, respondendo por 44% do crescimento do consumo desde 2015, quando Pequim começou a emitir cotas de importação para refinarias independentes.
A alta de casos de coronavírus na China fez com que as autoridades locais aplicassem novas medidas restritivas em grandes cidades, suscitando preocupações com a desaceleração da demanda de petróleo no maior país importador do produto. A China está enfrentando seu pior surto de Covid desde abril, obrigando várias cidades a entrar em lockdown.
Uma reportagem no início do mês afirmou que várias refinarias chinesas solicitaram que a Saudi Aramco reduzisse a oferta de petróleo em dezembro, o que apontava para a redução das remessas para o país. A China também estava elevando suas cotas de exportação de combustível refinado, um possível indicativo de excesso de estoques devido à queda da demanda.
“Aparentemente, tanto a Opep+ quanto a China são capazes de influenciar os movimentos de preço do petróleo”, declarou John Kilduff, sócio do fundo de hedge de energia nova-iorquino Again Capital.
“Trata-se essencialmente de oferta e demanda. Não é possível considerar um sem o outro. No entanto, no curtíssimo prazo, eu diria que a situação da Covid na China tem mais impacto sobre o mercado, principalmente se toda Pequim entrar em lockdown”.
A capital chinesa está enfrentando seu mais grave teste de Covid, após registrar as primeiras mortes pelo coronavírus em seis meses, de acordo com reportagens na segunda-feira.
Três mortes foram relatadas na cidade desde sábado, fazendo com que o número oficial de fatalidades causadas pela doença atingisse 5.229. Os últimos falecimentos ocorreram em meio a raros protestos contra a política de Covid zero implementada no país, quando partes da cidade, que abriga 21 milhões de pessoas, voltou a registrar bloqueios sanitários. Um lockdown em toda Pequim poderia ter um impacto desastroso para a economia chinesa, alertam especialistas.
Aviso: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.