O ano de 2021 foi histórico para a indústria de fusões e aquisições (M&A) no Brasil e no mundo. O avanço da vacinação e a grande disponibilidade de capital no mercado impulsionaram o volume de operações no país, que atingiu a marca de 2.560 transações e um total de R$ 595,6 bilhões (considerando apenas as transações com valores divulgados), um crescimento de 51% em 2021.
Entre os setores, Tecnologia teve grande destaque e ocupou novamente o topo do ranking de aquisições, com 933 transações — um crescimento de 67% em relação ao ano de 2020. Além das transações convencionais de M&A, observamos a continuidade do volume de transações de corporações tradicionais adquirindo startups. A intenção é atrelar a capacidade de criar soluções disruptivas ao negócio, com uso da tecnologia e velocidade múltiplas vezes maiores do que as adotadas pelas empresas tradicionais. Essas, além de se aventurarem em montar suas próprias áreas de M&A, também buscaram internalizar as iniciativas de inovação, com o jargão já conhecido de “corporate venturing”.
Rápida adaptação — Movimentos como esse podem ser explicados devido aos impactos econômicos e sociais da pandemia, que mudaram a forma como as pessoas vivem e trabalham. Uma intensa busca por soluções mais eficientes e habilitadas por tecnologia, impulsionada por uma aceleração digital sem precedentes, fez com que as empresas buscassem acelerar seus planos de transformação digital para atenderem as demandas de um consumidor cada vez mais exigente.
Nessa missão de atrair esse consumidor com novos hábitos de consumo, diversos setores tiveram que rever seus modelos de negócios e as companhias tradicionais se viram obrigadas a acelerar seus planos de digitalização. A aquisição de soluções tecnológicas foi um caminho rápido para adequar as operações ao longo de toda a cadeia, desde o atendimento ao cliente até a integração das áreas da empresa, gestão de estoques e o monitoramento do transporte até o consumidor final.
Com isso, as aquisições no segmento de Big Data, Inteligência Artificial, Omnichannel e Marketing Digital ganharam força. Essas tecnologias trazem fôlego para as empresas, permitindo que elas sejam mais assertivas ao atenderem os clientes e oferecerem seus produtos em diversos canais. O segmento de soluções para logística também está bem aquecido devido ao aumento das vendas online. Em busca de soluções para facilitar e agilizar a entrega das vendas aos clientes finais e resolver o problema da logística reversa, o Mercado Livre (NASDAQ:MELI) (SA:MELI34) adquiriu a startup brasileira de logística, Kangu e a Via, antiga Via Varejo (SA:VIIA3), adquiriu a startup CNT, por exemplo.
Tecnologia a um click — Houve também um grande movimento de plataformas digitais adquirindo outras soluções para se tornarem “superapps”, habilitando a junção de diversos produtos e serviços que antes eram limitados fisicamente e que, agora, são possíveis no mundo digital. Nesse novo modelo de consumo, a relação entre cliente e empresa está cada vez mais dinâmica e as empresas buscam oferecer novas soluções e alternativas que atendam de maneira mais ampla às necessidades dos consumidores, sempre de forma ágil e digital. A ideia de reunir em um só aplicativo serviços variados, como rede social, transações financeiras, compras, contratação de serviços e conteúdos faz com que as companhias comecem a olhar para aquisições de serviços complementares, coisa que antes nem eram cogitados.
O Magazine Luiza (SA:MGLU3) é um dos protagonistas desse movimento. Desde 2020 realizou mais de 20 aquisições para fortalecer essa estratégia de ecossistema. As transações de 2021 incluíram desde incorporações de companhias com atividades em que a relação com o varejo é mais evidente, como é o caso da Estante Virtual (comércio de livros), Logística (Sinclog) e infraestrutura de comércio eletrônico (VipCommerce), como também aquisição de empresas de segmentos que vão além de sua atividade principal, vide aquelas de conteúdos (Jovem Nerd, Canaltech e Steal The Look), delivery de comida (Aiqfome), cursos para a área de tecnologia (ComSchool) e serviços financeiros (Hub Prepaid). Os bancos digitais e outras fintechs também estão seguindo por esse caminho, impulsionado a oferta de produtos e serviços não financeiros em suas plataformas para aproveitar o potencial de sua rede.
Perspectivas — De forma geral, as fusões e aquisições devem manter o ritmo de crescimento em 2022, com a indústria de tecnologia protagonizando os rankings. Nem mesmo o aumento dos juros ou a proximidade das eleições presidenciais serão suficientes para frear o apetite dos investidores ou a busca de digitalização das mais diversas indústrias. Deve persistir, também, a diversidade dos deals, que envolverão as mais diferentes indústrias e geografias. Não haverá barreiras em relação ao tamanho das transações, incluindo desde startups até mega transações entre conglomerados multinacionais. Certamente, não faltará trabalho aqui na Fortezza.