Olá, pessoal. Nesta semana, gostaria de compartilhar com vocês um trabalho de pesquisa acadêmica que desenvolveu um modelo para a escolha de carteiras de fundos de investimento em ações (FIAs). A pesquisa culminou em um artigo coescrito por mim e por dois grandes profissionais: Prof. Ricardo Pereira Câmara Leal e João Antonio de Mendonça Junior, da Bradesco (BVMF:BBDC4) Asset. Aliás, não por acaso, João atua há alguns anos exatamente com gestão de carteiras de fundos de investimento.
O artigo foi publicado na prestigiada Revista de Administração Contemporânea (RAC), classificada pela ANPAD na prateleira mais alta dentre todas as revistas acadêmicas brasileiras. Os dados para a análise foram gentilmente cedidos pela plataforma Quantum Finance.
No trabalho, propomos um modelo que calcula uma pontuação para a escolha de FIAs brasileiros. Ao utilizar essa pontuação para escolher FIAs nos quais investir, encontramos performances acima da média do mercado. A pontuação obtida por cada FIA analisado foi fruto de uma regressão onde um total de dez variáveis explicativas foram utilizadas, sendo que todas eram binárias, ou seja, indicativas ou não de cada uma das dez características analisadas. Decerto, algumas características se mostraram mais relevantes do que outras no sentido de prever a boa performance futura de um fundo.
O modelo concluiu que o desempenho passado do FIA, medido pelo índice Sharpe (e não pela sua rentabilidade, como muitos especulam), é o fator que mais contribui para sua pontuação em relação ao seu desempenho futuro. Não obstante, outras variáveis não relacionadas ao desempenho passado também se mostraram relevantes, tais como a longevidade, a gestão independente, o direcionamento ou não a gestores qualificados e a constituição segundo um fundo de investimento em cotas (FIC FIA). A eficácia do modelo se comprovou também pelo fato de maiores pontuações tenderem a gerar carteiras com resultados significativamente melhores do que carteiras formadas pelos FIAs de maiores rentabilidades passadas ou mesmo por uma grande seleção de FIAs ponderados igualmente. O resumo (abstract) publicado do artigo vem a seguir:
“Este artigo propõe um modelo de pontuação para a escolha de fundos de investimento em ações (FIAs) brasileiros de gestão ativa com alfa de Jensen positivo e significativo. Duas medidas de desempenho e oito características dos FIAs foram obtidas entre 2004 e 2014. O conjunto de características é amplo e foi codificado como variáveis binárias. A amostra conta com 1.417 fundos e minimiza o viés de sobrevivência porque inclui FIAs iniciados e encerrados. A pontuação foi estimada por regressão logística binária. Menos de dez por cento dos FIAs apresentaram alfa positivo e significativo. O modelo aponta o desempenho passado como a característica mais importante para selecionar um FIA com alfa significativamente positivo. A gestão independente, o investimento em cotas de outros FIAs e fundos iniciantes ou menos longevos também são importantes nessa seleção. Testes fora da amostra indicam que os FIAs de maior pontuação exibiram alfas significativamente positivos frequentemente e negativos raramente. Os FIAs de maior pontuação superam amiúde carteiras igualmente ponderadas, particularmente quanto ao retorno ajustado ao risco. Há várias indicações de que os gestores profissionais procuram limitar a volatilidade, mesmo que com o sacrifício do retorno. Há implicações relevantes para o investidor individual.”
Para não tomar mais o tempo daqueles que não pensam em utilizar o modelo, mas apenas buscaram se informar lendo a coluna desta semana, proponho àqueles que desejarem seguir adiante (e, quem sabe, utilizar o modelo em suas análises) a leitura do artigo. Para esses, compartilho o link direto da publicação (clique aqui para baixar o artigo acadêmico).
Convido a você ler minha coluna, que sai a cada duas semanas, sempre às quintas-feiras. Procuro escrever sempre com carinho e responsabilidade. Se você está chegando agora, dê uma olhada nos artigos que já publiquei. Há muita coisa e é bem provável que algum texto anterior seja do seu interesse. E siga-me no Instagram e no Linkedln @carlosheitorcampani para acompanhar todo o conteúdo que produzo.
Um forte e respeitoso abraço a todos.
* Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, Certificado pelo CNPI e Pesquisador da ENS – Escola de Negócios e Seguros. Além disso, ele é Diretor Acadêmico da iluminus – Academia de Finanças e Sócio-Fundador da CHC Finance e da Four Capital. Campani pode ser encontrado em www.carlosheitorcampani.com e nas redes sociais: @carlosheitorcampani. Esta coluna sai a cada duas semanas, sempre na quinta-feira.