Dia de definição no Copom e no Fomc. Como já dito ontem, duas realidades muito distintas. No Copom, já um consenso de que o BC estava “atrás da curva”, sendo necessário agora o ajuste da taxa Selic a “um patamar mais compatível à realidade do mercado”. Na decisão do Fed não esperamos novidades, embora a pressão do mercado seja patente, dada a trajetória dos treasurires. No outro front, o da pandemia, a bateção de cabeça uma realidade.
Não devemos nos surpreender nas decisões do Copom e do Fed nesta quarta-feira.
Na do Copom (18h30) os diretores deliberar sobre o juro, com uma correção de 0,5 ponto percentual, a 2,5%, de olho na deterioração no chamado “balanço de riscos”. A inflação segue em trajetória preocupante, com o IPCA já projetado pela Focus em 4,6%, se aproximando do teto da meta (5,25%), o câmbio seguem pressionado, mesmo com as pesadas intervenções do BACEN e as commodities sinalizam alta, frente ao retomar da economia global. Aqui vai uma observação. Países que estão fazendo seus deveres de casa, em campanhas de vacinação em massa, já estão pensando num “novo normal” para a economia em recuperação.
Uma curiosidade será saber o que será dito na ata da semana que vem, esperando para sabermos se ingressamos num novo ciclo de correção da Selic ou se este terá sido apenas “pontual”.
Falando da reunião do Fed (15h) o CEO do Fed já deixou bem claro de que estamos passando por um momento de ajustes transitórios dos ativos e preços e que a inflação está muito distante do centro da meta (2,0%). Não preocupa, por enquanto, mas o mercado de treasuries já reflete alguma antecipação de “stress”, com os T-10 sinalizando 1,62% no médio prazo, devendo encostar nos 2,0% nas próximas semanas. Isso decorre do mega estímulo fiscal, empreendido pelo governo com o pacote BIDEN, com distribuição de bolsas de US$ 1,4 mil a cada americano. Como já falado, isso vem pressionando o dólar, frente aos emergentes, afetando na margem outros parceiros dos EUA.
Por outro lado, pelo olhar da atividade, vemos que a economia norte-americana retoma, mesmo que lentamente. Em fevereiro, as vendas do varejo recuaram 3%, muito pior do que o esperado (-0,4%), e a produção industrial recuou 2,2%, surpreendendo negativamente as expectativas (+0,3%).
Falando da pandemia, neste front é só “terra arrasada”. A saída do general Pazuello e a entrada do médico cardiologista Antonio Queiroga, parece não ter acarretado em muita mudança no tratamento da trajetória de caos no Brasil. Nos EUA, por exemplo, o objetivo é acelerar as vacinações aos adultos até o dia 1º de maio, aqui nada se sabe. Só sabemos que o ministro Pazuello prometeu 560 milhões de doses até setembro. Pode ser que sim, pode ser que não. Podem chegar, podem não chegar, mas a verdade é que vivemos no maior colapso sanitário da história do Brasil. São quase 3 mil mortes por dia, 280 mil acumuladas desde o início. Segundo levantamentos, 24 estados e o Distrito Federal já estão com seus leitos de UTI com 80% ou mais de ocupação, 15 estados trabalham com 90%, outros, como o Rio Grande do Sul já colapsaram. São Paulo e MG já anunciaram fase roxa, com lockdown absoluto.
No front político o ambiente não é melhor. O Centrão queria Ludhmilla Hajjar, médica cardiologista, ao que parece, muito bem preparada. Bolsonaro optou por um médico mais subserviente. Nas suas declarações pegou muito mal, ao falar que a política de saúde era do presidente e não do ministério. Presidente este que negaceia os estragos causados pela pandemia, é contrário ao uso de máscaras e a necessidade de lockdown total.
Nos bastidores do Congresso, já se comenta que o tempo deste ministro é exíguo. Se ele não se mobilizar e fazer algo, cairá rapidamente, não só ele mas também o presidente, palavras de figuras próximas do presidente do Congresso Artur Lira. Impeachment indo para o forno.
Lembrando que em Portugal, o lockdwon absoluto trouxe resultados, como as mortes diárias caindo a 10/20, depois de chegarem a 300 no início de janeiro, e os novos casos despencarem a 300/400, depois de quase 20 mil. Como foi isso? Coordenação entre poderes, os governantes ciosos da gravidade do momento, entrosamento com o Parlamento e fazer o que tinha que ser feito.
AGENDA DO DIA
Antes do Copom (18h30), a Secretaria de Política Econômica (SPE) divulga novas estimativas para o PIB e inflação (9h30. Entre os indicadores, saem a prévia do IPC-Fipe de março (5h) e o fluxo cambial semanal (14h30).
BALANÇOS – 3R Petroleum sai antes da abertura. Após o fechamento, vêm Alliar (SA:AALR3), Ânima, Yduqs (SA:YDUQ3), Copel (SA:CPLE6), EzTec, Rossi (SA:RSID3), SLC Agrícola (SA:SLCE3) e Vivara (SA:VIVA3). Teleconferências: Gafisa (SA:GFSA3), NotreDame Intermédica (SA:GNDI3) e D1000 (11h) e 3R Petroleum (14h).
LÁ FORA – O petróleo confere o relatório mensal da AIE (6h) e estoques semanais do DoE (11h30), depois de o API ter estimado, no final da tarde de ontem, recuo de 1 milhão de barris nas reservas dos EUA. Na zona do euro, sai a leitura final da inflação ao consumidor de fevereiro, às 7h.
MERCADO DE ATIVOS
No mercado de câmbio, a expectativa da mudança na mensagem do Copom levou o dólar a queda isolada contra a maioria das moedas emergentes, cotado a R$ 5,6191 (-0,36%), com o contrato futuro de abril em leve alta de 0,12% (R$ 5,6270). Já no mercado de ações, o giro fraco no Ibovespa, ontem, só R$ 28,7 bilhões, denunciou a cautela do investidor não só antes da “Super Quarta” de Copom e Fed, mas também com o avanço descontrolado da pandemia no Brasil.