O IPCA de maio, mais elevado do que o esperado, acendeu uma luz sobre a possibilidade de um ajuste mais rigoroso da taxa Selic nas próximas reuniões do Copom. Na da semana que vem, já parece “precificada” a tendência de um ajuste de 0,75 ponto percentual, a 4,25%. Para a de agosto, no entanto, já se fala num ajuste igual, com a Selic indo a 5,75% e não 5,5%, como previsto por esta Consultoria.
Diante disso, os “prêmios” embutidos na curva de juro, ontem, acabaram maiores, assim como maior foi a valorização do dólar, pela possibilidade de redução no diferencial de juros doméstico e externo. E tudo isso aconteceu antes do CPI americano, a ser divulgado nesta quinta-feira, dia 10, importante no “balizar” dos próximos passos do Fed.
Ao fim do dia o dólar terminou a R$ 5,0692, com valorização de 0,69%, depois de chegar a R$ 5,0863 ao longo do dia. No mercado de treasuries, no entanto, o comportamento do dia foi de queda, com os treasuries de 10 anos recuando diante do leilão de bônus com demanda acima da média. Já o Ibovespa chegou a se recuperar ao longo do dia, da realização do dia anterior, mas perdeu força ao final e fechou em alta de 0,09%, a 129.906.
Sobre o IPCA de maio, veio mais forte do que o esperado, 0,83%, em 12 meses acumulando 8,06%, o que levou a curva de juros a "se inclinar" e projetar um aperto monetário mais forte em 2021 e 2022. Junto a isso, colocou em dúvida o uso do termo “parcial” no comunicado do Copom da semana que vem, no que se refere ao “processo de normalização da taxa Selic”. No comportamento do índice do IBGE, os núcleos também vieram mais pressionados, e os serviços passaram de 0,08% para 0,32%, o que também preocupa o BACEN. Neste contexto, já há casas prevendo o IPCA acima de 6,0% ao fim deste ano, o que pode “contaminar” as expectativas para 2022.
Isso posto, crescem os que defendem retirar do comunicado do Copom, na semana que vem, o termo “parcial”, no esforço de deixar ancoradas as expectativas de um desaceleração da inflação no ano que vem, e do movimento atual ser “transitório”, reflexo da reabertura da economia e da falta de insumos em algumas cadeias globais de produção.
Neste cenário, na reunião do Copom da semana que vem a taxa de juros deve ser ajustada em 0,75 ponto percentual, não sendo surpresa se repetir a dose em agosto. As chances, antes em 60%, agora subiram a 80%.
No mercado global de moedas, o dólar deu uma esticada ontem, frente às emergentes, diante da perspectiva de CPI mais elevado e correção de rota do Fed.
Só não foi maior pelo IPCA mais elevado, o que sinaliza um juro mais elevado por aqui e a manutenção do diferencial de juro interno e externo. E isso acontece num cenário em que o saldo cambial de maio foi negativo em US$ 1,8 bilhão.
Por outro lado, importante observar o Sol no Peru, moeda com pior desempenho mundial, diante da vitória do candidato populista de esquerda do PERU LIBRE, Pedro Castillo. Por lá, o dólar disparou 2,5%. Além disso, no Brasil o ambiente anda mais calmo, o que vem valorizando o real frente ao dólar, já que a atividade econômica surpreende positivamente e a arrecadação federal responde bem. Outro indicador em destaque é a balança comercial, prevista neste ano em torno de US$ 80 bilhões, em muito, pelas exportações de agronegócio.
Na agenda de hoje, o CPI deve vir em torno de 0,4% a 0,6%, elevando a taxa anualizada a até 4,8%. Este repique se explica pelos gargalos nas cadeias produtivas, bem como pela base de comparação mais fraca. O Fed acha que esta alta pode ser transitória, mas muitos já começam a discordar, achando que deve se perpetuar nos próximos meses, o que deve levar o Fed a mudar o seu discurso. No mercado de treasuries, por um leilão em boa demanda, os títulos de 2 anos fecharam a 0,148%, os de 10 anos recuaram a 1,488% e os de 30 anos a 2,169%. Já o dólar, pelo índice DXY, subiu 0,05%, a 90,120 pontos.
Lembremos que nesta quinta-feira, dia 10, ainda teremos a decisão do BCE, com Christine Lagarde defendendo a estabilidade da política de manutenção na compra de ativos e de juro. Por outro lado, o BCE deve rever suas projeções de crescimento.
Na próxima semana, o Copom deve vir com o ajuste de 0,75 ponto percentual, a 4,25% ao ano, mas deve retirar do comunicado a menção "normalização parcial".
Achamos que o IPCA deve terminar o ano acima do teto da meta por causa da seca, pressionado pelas tarifas de energia elétrica (bandeira vermelha). No Copom de agosto, a elevação da Selic deve ser também de 0,75 pontos, a 5,75%, evitando o "efeito de segunda ordem do choque de preços e colocando a inflação na meta no ano que vem".
A pesquisa Focus desta semana trabalhava com o IPCA em ajuste de 5,31% para 5,44%, acima do teto da meta de 2021 (5,25%). A projeção para 2022 passava de 3,68% para 3,70%, acima do centro da meta, 3,50%. Há casas que trabalham até com a Selic a 6,5% neste ano.
Bom dia e bons negócios!